Segunda safra do milho deixa de ser “safrinha” e deve bater recorde de produção em 2023
Denominada como “safrinha”, a Segunda Safra de milho no Brasil vem deixando o diminutivo de lado e se prepara para bater o seu recorde de produção, ultrapassando as 120 milhões de toneladas - número que ainda depende do desempenho da Segunda Safra, mas que correspondente a 72% da produção nacional. O dado foi apresentado na abertura da sétima temporada do projeto Mais Milho, que reuniu especialistas e autoridades do agronegócio brasileiro para debater as oportunidades e desafios do plantio do cereal em 2023. O encontro aconteceu no dia 15 de fevereiro, em Campo Grande (MS), na sede da Federação da Agricultura e Pecuário do Mato Grosso do Sul (Famasul).
A Primeira Safra está quase toda colhida e apresentou um incremento de 1 milhão de toneladas, totalizando 26,4 milhões de toneladas. Apesar disso, a seca frustrou as previsões iniciais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o estado do Rio Grande do Sul, principal produtor do milho verão. De 5,7 milhões de toneladas previstas, a produção foi para 4,3 milhões de toneladas.
Alguns desafios ainda precisam de atenção, como é o caso do calendário ideal para o início do plantio da Segunda Safra do cereal. O tempo nublado e chuvoso nos principais estados produtores alongou o ciclo da soja, consequentemente adiando a plantação do milho. Em janeiro de 2022, 12% da soja já havia sido colhida, enquanto no mesmo período deste ano, este número foi de apenas 5%. No início de fevereiro de 2022, 16% da área havia sido colhida e, em 2023, apenas 9%. O mês de fevereiro é uma janela ideal para garantir o plantio do milho.
Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), em fevereiro do ano passado, em Mato Grosso (MT), 87% do milho já havia sido plantado — número que ficou acima da média dos últimos 5 anos anteriores. Já em 2023, na primeira quinzena de fevereiro, apenas 34% das lavouras havia sido cultivadas.
No Paraná, atrás apenas de MT na produção de milho no Brasil, a área plantada até a primeira quinzena de fevereiro foi de 12%, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral). O estado terá que avançar rapidamente nos dias restantes do mês para alcançar os 36% de área cultivada observada no mesmo período do ano passado.
Outros estados como Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais apresentam cenários semelhantes. Além do risco de falta de chuva adequada para o desenvolvimento da lavoura, aumenta-se também a pressão de pragas, com destaque para a cigarrinha-do-milho, os percevejos e o complexo de lagartas.
Apesar disso, o Brasil continua ganhando destaque no setor do milho e, uma vez que os desafios de 2023 forem superados, sua produção pode chegar a 94,9 milhões de toneladas na Segunda Safra, segundo a Conab.
Os EUA têm mantido sua produção próxima a 350 milhões de toneladas, mas devido a uma safra passada com dificuldades climáticas e falta de chuva, a produção recuou em quase 40 milhões de toneladas e as exportações previstas para este ano são de 48 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Se confirmado o volume inicialmente previsto por consultorias como a Cogo Inteligência em Agronegócio, o Brasil pode chegar à marca de 50 milhões de toneladas exportadas, superando pela primeira vez o país americano.
Outro impulsionador das exportações é a entrada da China como compradora de milho brasileiro. Em apenas três meses, o país asiático já embarcou cerca de 2,1 milhões de toneladas do cereal, se tornando o principal destino neste início de ano, segundo dados do Ministério de Industria e Comércio Exterior do Brasil.
A demanda nacional também tem crescido rapidamente, em especial pela expansão da produção de etanol de milho — que atualmente representa quase 12% do grão que é consumido internamente. Segundo a Conab, em 2022 foram produzidos 4,5 bilhões de litros do biocombustível. A União Nacional do Etanol de Milho (UNEM) prevê 6 bilhões de litros para 2023.
O Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do estado de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, explica como o MS deve contribuir com o aumento do consumo do grão. “Colocamos uma estratégia muita clara, que é aumentar o nível de processamento do milho. Nos últimos anos estamos trabalhando fortemente para que isso aconteça, com a expansão da agricultura, suinocultura e produção de etanol.”
Portanto, apesar dos desafios previstos, a Safra 2023 tem se apresentado de forma promissora e deve ser um marco tanto na produção, quanto na exportação brasileira de milho.