Safrinha de Milho: Apesar do atraso severo no plantio, potencial produtivo ainda pode ser alcançado

Publicado em 17/03/2021 09:13 e atualizado em 17/03/2021 10:25

14,678 milhões de hectares. É isso que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) espera que seja plantado nesta segunda safra de milho em 2021, o que seria um acréscimo de 6,7% em relação a safra anterior.

Já para a produção total, a entidade espera um recorde de 82,8 milhões de toneladas, representando incremento de 10,3% em comparação ao último ciclo e maior do que a projeção divulgada no mês passado de 80,07 milhões de toneladas.

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Apesar das projeções históricas, o que se vê na prática em diversas regiões produtoras é um intenso atraso nas atividades de semeadura da safra, primeiro como reflexo dos atrasos no plantio da soja da safra de verão, mas também pelas condições climáticas adversas em muitas localidades neste começo de 2021.

De acordo com levantamento da AgRural, o plantio do milho foi realizado em apenas três quartos do total esperado até o momento, índice semelhante ao contabilizado pela StoneX, que registrou 75% de plantio até a última sexta-feira (12).

“O produtor segue plantando e avançou bastante na última semana, mais de 20 pontos percentuais. Este mês de março será fundamental para o real tamanho da safra, que está atrasada, mas o plantio segue. Pode haver desistências nas próximas semanas, mas ainda mantemos a projeção de área recorde”, aponta, em entrevista exclusiva ao Notícias Agrícolas, a analista de mercado da StoneX, Ana Luiza Lodi.

A própria Conab reconheceu este atraso em seu último acompanhamento das safras brasileiras divulgado no começo de março. “Apesar dos recentes níveis de precipitações ficarem abaixo das médias, na maioria dos estados produtores do milho segunda safra, as operações de semeadura foram mais afetadas pelo atraso na colheita da soja, uma vez que a umidade acumulada no solo, adicionada às chuvas pontuais, mantiveram condições de disponibilidade hídrica dentro do mínimo aceitável em quase todas as regiões produtoras”, detalha a publicação.

Lodi destaca que estes atrasos aumentam os riscos e as preocupações para a safra, mas ainda não é possível prever o tamanho desse prejuízo, uma vez que as lavouras podem produzir bem dependendo das condições climáticas futuras. “O clima de abril e maio será fundamental. Se tiver boas chuvas ainda beneficia a safra”, afirma.

“Um plantio fora da janela indica maior risco, principalmente no sul de Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná, pois é maior a possibilidade dessas áreas pegarem uma geada em junho e julho. Em áreas do Centro-Oeste, a preocupação é com o tempo mais seco, à medida que a safra avança para o inverno”, aponta a Agência Reuters.

O que motiva a manutenção do plantio mesmo fora da janela ideal são, na visão da AgRural, são os bons preços de mercado para o cereal. “O produtor já está com seus insumos comprados, então, se houver boa umidade no solo nessas próximas duas semanas de março, o plantio vai seguir avançando mesmo fora da janela", afirmou o analista de mercado Adriano Gomes à Reuters.

De qualquer forma, as consultorias já estão reduzindo suas estimativas de produção. Enquanto a Conab elevou de 80 milhões para 82,8 milhões de toneladas, a AgRural projeta a produção final em 80,5 milhões de toneladas até o início de março e a StoneX reduziu de 82,4 milhões para 81,3 milhões de toneladas, patamar que ainda seria recorde, em função da expectativa de menos rendimento no Mato Grosso.

Mato Grosso

Para o principal estado produtor do Brasil, a Conab estima uma área semeada de 5,77 milhões de hectares (6,6% mais do que na safra passada) e uma produção de 36,5 milhões de toneladas, patamar 5,7% maior do que o registrado em 2019.

Já o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) espera uma área de milho segunda safra de 5,69 milhões de hectares, que já foram 88,32% semeadas até a última sexta-feira (12). Já a produtividade esperada para a temporada foi mantida e encontra-se estimada 106,29 sacas por hectare, redução de 2,51% em relação à safra passada, resultando em uma produção de 36,27 milhões de toneladas.

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Na região de Querência, por exemplo, entre 60 e 70% das lavouras da segunda safra de milho conseguiram ser plantadas dentro de uma janela considerável razoável, mas houve plantio tardio e precipitações durante o mês de abril serão primordiais para o bom desenvolvimento dos grãos, conforme relata o presidente do Sindicato Rural de Querência/MT, Gilmar Reinoldo Wentz.

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Em Ipiranga do Norte, o reflexo do atraso na soja será sentido na segunda safra de milho. O presidente do Sindicato Rural de Ipiranga do Norte/MT, Loinir Gatto, aponta que a área cultivada cresceu entre 10 e 12% no município, mas 50% das lavouras foram semeadas fora da janela ideal de cultivo. A esperança agora fica por conta de um prolongamento das chuvas para o final de abril e começo de maio, a fim de garantir bom desenvolvimento do cereal.

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A Aprosoja MT também destaca a preocupação com os atrasos, relatando que o mês de março começou com apenas 55% das aeras semeadas contra 92% da safra passada no mesmo período. A gerente de defesa agrícola da Aprosoja/MT, Jerusa Rech, aponta que isso aumenta o risco das lavouras enfrentarem secas e veranicos mais a frente no desenvolvimento do cereal.

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Paraná

No Paraná, a estimativa da Conab é um plantio de 2,37 milhões de hectares, 4,3% a mais do que em 2020, e uma produção esperada de 13,55 milhões de toneladas, índice 18,7% superior ao contabilizado no ano anterior.

De acordo com o Deral, (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, até a última segunda-feira (15), 72% das lavouras de milho safrinha haviam sido plantadas no estado. Com as áreas divididas entre germinação (51%), Descanso Vegetativo (48%) e Floração (1%).

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Na região de Campo Mourão, enquanto colhem a soja com bons rendimentos, a grande preocupação dos produtores fica por conta da segunda safra de milho. O presidente do Sindicato Rural, Nery José Thome, conta que o plantio foi atrasado e muitas áreas ficaram, não só fora da janela ideal, mas também fora do período de Zoneamento Agrícola, e agora vão ficar descobertas de seguros agrícolas, aumento os riscos assumidos pelos produtores.

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Em Mangueirinha, os atrasos empurraram o plantio para o limite da janela e muitas áreas deixaram de ser plantadas migrando para outras culturas. O produtor rural Laércio Dalla Vecchia, relata que muitos colegas optaram por deixar de plantar também devido ao alto risco de enfezamento. Assim, a área cultivada de feijão aumentou no município.

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Essa questão do enfezamento e do ataque da cigarrinha preocupa também as autoridades paranaenses. Segundo o gestor estadual do projeto de grãos do IDR-Paraná, Edivan Possamai, um levantamento do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural) em conjunto com a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária), identificou a presença da cigarrinha, o vetor dos enfezamentos, em todas as regiões produtoras de milho do estado, elevando as preocupações para esta safrinha.

Diante disto, o pesquisador do IDR-Paraná, Ivan Bordin, destaca 5 principais ações que o produtor precisa realizar para prevenir e mitigar possíveis impactos nas lavouras deste complexo de doenças que pode causar perdas entre 10 e 100%.

Entre as ações de manejo integrado estão evitar a ponte verde com as plantas voluntárias de uma safra para a outra, tentar calendarizar o plantio para evitar que plantas próximas estejam em diferentes estágios de desenvolvimento, escolher híbridos mais resistentes, tratamento de sementes e utilização de inseticidas contra a cigarrinha.

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Mato Grosso do Sul

Para o Mato Grosso do Sul, a Conab acredita em um cultivo de 2,08 milhões de hectares, aumento de 13,4% com relação à 2020, e em uma produção total de 10,97 milhões de toneladas, elevação de 26,9% da última temporada.

O último reporte da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul) aponta o plantio do milho no estado finalizado em 32,5% do total até o dia 05 de março, contra os 60% da safra anterior no mesmo período e os 67,2% da média das últimas 5 safras.

Na região da Amambaí, o plantio da segunda safra de milho prossegue com um pequeno atraso, mas ainda permitindo a expectativa de bons resultados. O presidente do Sindicato Rural, Rodrigo Ângelo Lorenzetti, relata que a única preocupação é para o frio lá na frente do ciclo.

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As lavouras de Laguna Carapã já ficaram comprometidas devido ao atraso da soja. O produtor rural Jonas de Oliveira, conta que o milho plantado por volta de 15 de março tem risco muito elevado de enfrentar geadas durante o inverno e de ter menos horas de Sol para o enchimento dos grãos.

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Já em Caarapó, a antecipação no ciclo da soja após a estiagem atuou também para permitir uma janela um pouco mais confortável para o plantio da segunda safra de milho no município. Porém, o presidente do Sindicato Rural, Carlos Eduardo Marquez, ressalta que esta mesma estiagem já prejudicou também as primeiras áreas semeadas com o cereal.

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Goiás

Para o estado goiano a Conab estima semeadura em 1,65 milhão de hectares nesta safrinha, 1,4% maior do que o da safra anterior, que resultarão em uma produção projetada de 10,62 milhões de toneladas de milho, 2,1% a mais do que o ciclo passado.

O presidente da Aprosoja GO, Adriano Antônio Barzotto, aponta que o período excelente de plantio do milho se encerrou no dia 25 de fevereiro, depois veio uma fase intermediária até 3 de março e, por fim, os produtores que arriscaram um pouco mais plantando fora da janela.

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De acordo com dados do Ifag (Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás), o estado semeou apenas 50% do previsto até esta terça-feira (16), quando o normal para o período já seriam 70%. “Arrisco a dizer que este é o maior atraso já registrado no estado”, pontua o coordenador institucional do Ifag, Leonardo Machado, em entrevista ao Notícias Agrícolas.

Neste cenário, apenas 30% das lavouras conseguiram ser plantadas ainda dentro da janela indicada. Mesmo assim, o instituto ainda espera um acréscimo de 1,4% na área cultivada e de 2% na produção, em linha com os números da Conab.

Mercado

Independente do tamanho final da segunda safra brasileira de milho, o mercado nacional deve permanecer sustentado e os preços da saca do cereal elevados para os consumidores. Conforme explica a analista de mercado da StoneX, Ana Luiza Lodi.

“Geralmente a safrinha faz cair preços, mas assim como ano passado tem outros fatores que influenciam. Mesmo que se colha muito bem, grande parte já esta comprometida e isso limita queda de preços. O câmbio é outro fator que favorece muito, assim como o consumo interno que deve seguir aumentando esse ano. Então, se a safrinha for muito grande, pode haver uma queda de preços, mas existem outros fatores que balanceiam o mercado”, diz Lodi.

A expectativa de manutenção dos preços elevados também está presente na analise de Roberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora. “Nós estamos com uma safrinha atrasada e o volume significativo vai entrar no mês de julho, pouca coisa em junho e apenas restrito ao Mato Grosso muito voltado para a exportação. A partir do momento que a colheita estiver em maior volume, vamos ter uma oferta que vai aparecer e o produtor não vai perder oportunidade com os preços como estão”.

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Alternativas

Diante deste cenário, algumas outras culturas surgem como alternativas, entre elas o sorgo e consórcios forrageiros, conforme demonstram estudos realizados pelas unidades da Embrapa Agrossilvipastoril e Milho e Sorgo.

Na opção pelo sorgo, o produtor acrescenta 20 dias à sua janela de plantio, pode melhorar condições de solo, combater nematóides e ainda rentabilizar bem, com o sorgo sendo negociado por 85% do valor de mercado do milho.

Já para os consórcios de forrageiras, existem diversas opções de mix de plantas, cada uma atendendo um objetivo específico e se adaptando melhor as características de cada terreno.

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Por: Guilherme Dorigatti
Fonte: Notícias Agrícolas

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