Conab estima 101,9 milhões de toneladas de milho em 2020, 75,4 somente na safrinha; confira realidades em diversos estados
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou seu 7º Levantamento da Safra apontando perspectivas para a produção brasileira das mais diversas culturas. No caso do milho, os números relatados dão conta de uma colheita de 101,9 milhões de toneladas, sendo 75,4 milhões de toneladas somente na segunda safra.
A área cultiva também tende a crescer em 4,5% comparada com a safra anterior e pode atingir 13,5 milhões de hectares. “Vale destacar, ainda, que o plantio do grão encontra-se em estágio avançado. Mato Grosso, principal estado produtor, já finalizou a semeadura do milho, juntamente com Goiás, Tocantins e Maranhão. Paraná, Mato Grosso do Sul e Piauí têm mais de 90% da área semeada”.
O atraso no plantio da soja, por conta da falta ou desuniformidade das chuvas em outubro passado, reduziu a janela de plantio favorável ao milho segunda safra, fato que ajuda explicar a estimativa de redução de área em Mato Grosso do Sul e Paraná. A despeito dessa menor janela, em Mato Grosso do Sul, estima-se que aproximadamente 25% da área será semeada fora do zoneamento de risco climático.
As estimativas para o Centro-Oeste, principal região produtora, dão conta de uma produção de 56 milhões de toneladas no total da safra 2019/20 em uma área cultivada de 9 milhões de hectares. Estes índices superam os dados da safra passada 2018/19 em 6,1% e 6%, respectivamente.
Mato Grosso
O estado representa a maior área cultivada do país, 5,4 milhões de hectares (acréscimo de 10% da safra passada) e maior produção 34,5 milhões de toneladas (10,2% maior do que 18/19) e as perspectivas positivas vêm se confirmando até o momento.
Segundo o superintendente do Imea, Daniel Latorraca Ferreira, 90% da área destinada a segunda safra foi semeada dentro da janela ideal de cultivo e a expectativa é finalizar os trabalhos com média de produtividade de 106 sacas por hectare, mas para isso é preciso que as chuvas sigam regulares durante a primeira quinzena de abril.
O produtor rural de Campos de Júlio/MT, Tiago Daniel Comiram, relata que por lá, o plantio foi encerrado ainda no dia 25 de fevereiro e que as lavouras estão se desenvolvendo bem na média, já que uma parte do município registrou pouca chuva, mas outra teve mais precipitações do que o mesmo período do ano passado.
Ferreira ainda aponta que, até o momento, 73% desta produção já foram negociadas com preço médio de R$ 27,72 a saca. No mesmo período do ano passado, o porcentual vendido era de 52,9% da produção na segunda safra de 2019.
Goiás
O estado deve ter acréscimo de 1,1% na área cultivada e de 0,7% na produção total da safra de acordo com a Conab. Esse otimismo também está presente nos dados do Ifag (Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás).
O analista técnico do instituto, Leonardo Machado, aponta que as condições climáticas estão favoráveis para o desenvolvimento das lavouras, mesmo com o atraso no plantio desta segunda safra. A expectativa é de que esta safra atinja média de produtividade de 100 sacas por hectare, resultado menor do as 112 da safra passada, mas superior a média dos últimos cinco anos, que é de 93 sacas por hectare.
A realidade é a mesma em Mineiros/GO, conforme conta o presidente do Sindicato Rural, Ionaldo Morais Vilela, que relata o plantio cerca de 10 dias atrasado no município, mas as chuvas dos últimos dias ajudando no desenvolvimento das lavouras e a manutenção da perspectiva de produtividade média entre 130 e 135 sacas por hectare.
Imagem de Rio Verde (GO). Envio de Alex Zamonaro
Mato Grosso do Sul
O estado tem a pior situação da região e deve ter diminuição de 1,1% na área cultivada com relação à segunda safra de 2019 e produção apenas 0,1% maior, chegando em 9,3 milhões de toneladas.
Com o plantio da safrinha contabilizando atrasos e saindo da melhor janela de cultivo em muitos casos, a preocupação é grande para possíveis perdas de produtividade caso ocorram geadas no mês de junho.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Caarapó/MS, Carlos Eduardo Marquez, as lavouras do município aproveitaram as chuvas dos últimos dias e se desenvolvem bem até aqui, mas o temor das geadas impede inclusive que negociações para venda da produção aconteçam neste momento.
Já para a região Sul os números são ainda mais preocupantes. O relatório da Conab aponta queda de 0,8% na área cultivada no total das safras, ficando em 3,6 milhões de hectares, e de 9,6% na produção para o período 2019/20, 22,8 milhões de toneladas contra as 25,3 registradas em 2018/19.
Paraná
As dificuldades do estado se concentram na segunda safra, que deve ser 2,7% menor em área cultivada e 7,4% menor em produção de acordo com a Conab. Em seu boletim semanal, o Deral (Departamento de Economia Rural) reportou que o plantio já foi finalizado no estado e que apenas 79% das lavouras estão em boas condições em meio a pior estiagem desde que o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) começou a monitorar as condições do tempo, em 1997.
Houve uma redução média na precipitação de 33% no conjunto de municípios formado por Curitiba, Ponta Grossa (Campos Gerais), Guarapuava (Centro), Maringá (Noroeste), Londrina (Norte), Foz do Iguaçu (Oeste), Cascavel (Oeste), Guaratuba (Litoral) e Umuarama (Noroeste). “O verão ficou marcado por precipitações muito abaixo do esperado, o que levou ao cenário de intensificação da estiagem em quase todo o Paraná”, explicou o coordenador de operação do Simepar, Antonio Jusevicius.
No município de Toledo/PR, muitos agricultores já pensam em acionar os seguros agrícolas em função da possibilidade de perdas no milho após um grande período seco, que impossibilitou até mesmo o manejo e tratos culturais da cultura, conforme conta o presidente do Sindicato Rural, Nelson Paludo.
Milho castigado pela estiagem em Nova Aurora (PR). Envio de Carlos Ribeiro
Santa Catarina
A área cultiva na primeira safra de milho no estado ficou praticamente inalterada, aumento de 0,3%, mas a produção apontada pela Conab foi de 1,7% menos do que a safra anterior após os problemas com a falta de chuvas.
As chuvas acumuladas dos meses de fevereiro e março foram abaixo da média mensal em quase todas as regiões do Estado. Segundo dados da Epagri/Ciram, as regiões do extremo-oeste, oeste, meio-oeste, vale do Rio Itajaí, planalto norte, planalto sul e Florianópolis serrana registram média acumulada inferior a 50 mm em março, o que é classificado pelos técnicos como anormalidade hídrica
De acordo com o presidente da Aprosoja SC, Alexandre Alvadi di Domênico, as expectativas inicias eram muito boas para esta safra, mas o milho colhido agora apresenta produtividade entre 100 e 120 sacas, contra as 200 do início da colheita.
Rio Grande do Sul
A maior diminuição de produção do ano passado para este está no Rio Grande do Sul, que deve perder até 28,7% da produção ficando com 4,1 milhões de toneladas contra as 5,7 de 2018/19, mesmo com o acréscimo de 5% nas áreas cultivadas.
A Aprosoja RS busca junto ao governo viabilizar a prorrogação de todos os débitos dos produtores para tentar mitigar as dificuldades enfrentadas nesta safra. A expectativa do vice presidente da entidade, Luis Marasca Fucks, é viabilizar medidas para os agricultores gaúchos que, segundo a Emater/RS, já solicitaram mais de 8 mil laudos de Proagro no estado até o início de abril.
Sudeste
Os dados da Conab para a região mostram aumento de 0,4% na área cultivada no total das safras de milho 2019/20 e 2% a mais na produção somando-se os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, que devem aumentar a produção em 5,3% e a área em 10,6% somente nesta segunda safra.
Milho safrinha na Fazenda Santa Barbara, em Monte Carmelo (MG). Envio de Islam Ghelli Neto
Norte/Nordeste
A área cultiva nesta temporada deve crescer 5,9% no Norte e 6,6% no Nordeste e o aumento na produção total de milho ficar em 4,2% e 9,4% respectivamente segundo o relatório da Conab.
Em Tocantins, o presidente da Aprosoja TO, Maurício Buffon, conta que segunda safra de milho foi cultivada em sua maioria dentro da melhor janela que é o final de fevereiro e espera-se que os 220 mil hectares cultivados obtenham bons rendimentos de produção, que somados aos preços altos de vendas deve garantir rentabilidade ao produtor tocantinense.
No Maranhão, a segunda safra de milho registrou aumento na área cultivada e vem se desenvolvendo bem até o momento, aproveitando as chuvas dos últimos dias no estado. A expectativa é de que a média de produtividade da safrinha fique em 100 sacas por hectare, de acordo com o presidente da Aprosoja MA, José Carlos Oliveira de Paula.
Oferta e Demanda
A publicação da Conab ainda traz informações sobre a oferta e demanda do milho no Brasil. “A alteração para cima da estimativa de produção de milho para a safra 2019/20, deixa um cenário um pouco menos complicado para o início da próxima safra. Ainda assim, um estoque de passagem com 9,3 milhões de toneladas mantém a situação para o abastecimento de milho bem mais confortável ao produtor que aos demandantes, sobretudo na possibilidade de segurar estoques e especular no mercado”.
O levantamento destaca ainda que, aproximadamente 60% da segunda safra já foi comercializada, a preços bem acima dos custos de produção e que os produtores estão capitalizados, podendo correr o risco de um mercado especulativo.
“Essa conjuntura favorável se dá devido ao dólar bastante valorizado, vez que as cotações em Chicago estão em queda acentuada, após o USDA apontar um incremento de 8% na área plantada de milho, o que levaria a uma produção próxima a 400 milhões de toneladas, bem como a demanda interna das usinas de etanol à base de milho”, diz o relatório.
“No entanto, o mercado de petróleo e à demanda menor por combustíveis devido ao lockdown provocado pelo Covid-19, poderá influenciar nas tomadas de decisão das usinas brasileiras de etanol à base de milho, podendo, inclusive, retornar parte do volume do cereal já adquirido ao mercado novamente”, alerta a Conab.
O que dizem os analistas?
A Consultoria Céleres acredita que a segunda safra de milho 2019/2020 do Brasil deve registrar um recorde de 73,5 milhões de toneladas (mesmo patamar da Conab) devido à disponibilidade adequada de umidade do solo nos Estados de Goiás e Mato Grosso, e uma esperada reposição nos níveis de chuva em abril no Paraná e Mato Grosso do Sul.
Já a consultoria Safras & Mercado elevou a projeção de colheita do cereal cultivado na primeira safra, para 23,2 milhões de toneladas, enquanto reduziu a perspectiva da segunda safra, a safrinha, para 73,8 milhões de toneladas.
A analista de mercado da INTL FCStone, Ana Luiza Lodi, espera uma produção recorde de 73,9 milhões de toneladas. Porém, destaca que o clima de abril vai ser fundamental para a manutenção destas perspectivas e que o mercado segue acompanhando de perto o desenvolvimento das lavouras.
O analista de mercado da Céleres Consultoria, Anderson Galvão diz que “A safra que está nos campos agora tudo indica que vem muito cheia. O agricultor foi incentivado por preços muito bons e aumentou a área e a tecnologia e, com clima favorável, tudo indica que vamos para uma safra recorde novamente. Esse quadro de escassez de milho vai ficando para trás”.