Exportação de milho do Brasil pode despencar para 20 mi t em 2018, diz Dreyfus
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de milho do Brasil em 2018 podem totalizar apenas 20 milhões de toneladas, abaixo do esperado atualmente pelo mercado, com o país lidando com uma safra menor neste ano, disse nesta terça-feira um executivo da Louis Dreyfus Company (LDC) no Brasil.
Uma exportação de 20 milhões de toneladas em 2018 representaria uma queda drástica na comparação com as cerca de 30 milhões de toneladas de 2017, quando o Brasil colheu uma safra recorde.
"Se exportar 27 milhões de toneladas, podemos acabar sem estoques. A exportação pode ser próxima de 20 milhões", afirmou o diretor-executivo de Oleaginosas da LDC, Luis Barbieri.
Contudo, pelos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil terá estoques ao final de 2018 de mais de 10 milhões de toneladas, ainda que exporte 30 milhões de toneladas --os números oficiais se assemelham ao de consultorias do setor.
Analistas e entidades, que vêm reduzindo suas projeções para os embarques do país em 2018, ainda apostam em um volume mais próximo do previsto pela Conab.
Recentemente, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), integrada pela Dreyfys e outras tradings do setor, cortou sua estimativa para 27 milhões de toneladas, de 30 milhões anteriormente.
O Brasil é o segundo maior exportador global de milho, atrás apenas dos Estados Unidos, mas deve registrar uma safra 2017/18 de cerca de 83 milhões de toneladas, ou aproximadamente 15 milhões de toneladas menor ante o recorde de 2016/17, em meio a redução de área plantada e seca nos últimos meses, segundo dados da Conab.
Barbieri, no entanto, avalia que as exportações brasileiras de milho tendem a ficar abaixo dos números projetados atualmente.
"O tanto que vai exportar vai depender do rimo de venda do produtor", afirmou durante apresentação em evento promovido por Datagro e XP em São Paulo.
A LDC integra o chamado ABCD de gigantes tradings com forte atuação no comércio global de grãos, ao lado de Archer Daniels Midland (ADM), Bunge e Cargill.
FRETE
O executivo criticou ainda o tabelamento de fretes, instituído pelo governo após os protestos de caminhoneiros e que, desde então, tem sido motivo de críticas por parte do setor produtivo.
"Além de ter volatilidade de acordo com oferta e demanda, ao longo do período o valor do frete é corregido pela inflação, se ajusta...", disse ele, notando que o tabelamento "é um entrave a qualquer atividade econômica no Brasil nos próximos anos".
Para justificar sua afirmação, Barbieri comentou que o frete de Jataí (GO) até o Porto de Santos para o transporte de milho, soja e açúcar aumentou 37,9 por cento entre 2013 e 2018, em linha com a inflação no período, de 36,6 por cento.
Ainda segundo ele, tal tabela deve levar o setor a “alocar capital de forma errada”, ao investir em compras de caminhões para formação de frota própria.
“Hoje é impossível precificar a próxima safra, porque tem a questão dos fretes e tem a guerra comercial”, acrescentou ele, referindo-se à escalada de tensões entre EUA e China.
Barbieri ainda disse que a infraestrutura portuária no Brasil, que representou um entrave às exportações brasileiras no passado, não é mais um problema.
Após uma expansão nos últimos anos, o país tem hoje capacidade para embarcar 221 milhões de toneladas de granéis sólido (basicamente soja, milho e açúcar), mas deve exportar pouco mais de 150 milhões em 2018, afirmou o executivo da LDC.
“Na questão portuária, já passamos o gargalo”, resumiu.
(Por José Roberto Gomes)