Milho: Clima seco compromete potencial produtivo da safrinha e preços sobem
Em meio à falta de chuvas e das altas temperaturas, as lavouras de milho safrinha já apresentam perdas no potencial produtivo nas principais regiões de produção no Brasil. As incertezas quanto à produtividade têm dado sustentação aos preços do cereal praticados no mercado interno.
"Os produtores estão limitando as vendas, atentos ao clima seco, que pode prejudicar a segunda safra. Por outro lado, o maior interesse dos compradores também contribui para a alta nos valores do milho", destacou o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) em seu comentário semanal.
Uma das situações mais preocupantes é registrada no Paraná, segundo maior produtor de milho no país, assim como no sul de Mato Grosso do Sul. Contudo, áreas de São Paulo, Goiás e até em Mato Grosso, o cenário é semelhante. A quebra ainda não pode ser quantificada, já que o retorno das chuvas ainda poderia recuperar parte do potencial produtivo em algumas regiões, segundo explicam os especialistas.
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No entanto, o quadro se agrava a cada dia sem chuva e nesta segunda-feira (7) a AgRural, reduziu para 57,2 milhões de toneladas a sua estimativa para a safrinha 2017/18. A projeção anterior era de 59,9 milhões de toneladas. Em sua última projeção, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou a safrinha em 63,01 milhões de toneladas nesta safra.
Paraná
No Paraná, os produtores rurais seguem atentos ao clima, à espera de chuvas que possam amenizar as condições das lavouras. Em recente entrevista ao Notícias Agrícolas, o analista de milho do Deral, Edmar Gervásio, reforçou que essa semana será decisiva para as lavouras de milho paranaenses.
"Em muitas regiões temos mais de 30 dias sem chuvas significativas. Esse cenário traz um viés negativo para essa safra. Contudo, caso as chuvas se confirmem, poderemos acompanhar uma recuperação no potencial produtivo das lavouras em algumas localidades", pondera o analista.
Em Maringá, por exemplo, as perdas projetadas estão próximas de 40% a 50% nesta temporada, conforme pondera o presidente do Sindicato Rural do município, José Antônio Borghi. As plantas apresentam requeima das folhas devido à baixa umidade no solo e as altas temperaturas.
"Por conta das lavouras de milho estarem no estágio de floração, na qual, exige muita umidade no solo e o prejuízo vai ser significativo", completa a liderança sindical.
Em Doutor Camargo (PR), o produtor rural, Ildefonso Ausec, destaca que "as perdas são certas e as lavouras não recuperam mais". Até esse momento, o departamento mantém a projeção para a safrinha no estado em 12 milhões de toneladas. A estimativa será atualizada no início desse mês.
Área com perdas de milho na região de Iguaraçu (PR). Envio de Gustavo Munhoz
Lavouras de milho safrinha em Itambé (PR). Envio do produtor Valdir Fries
Lavouras de milho safrinha em Itambé (PR). Envio do produtor Valdir Fries
Lavouras de milho na região de Doutor Camargo (PR)
Lavouras de milho na região de Doutor Camargo (PR)
Lavouras de milho na região de Doutor Camargo (PR)
Mato Grosso
No maior estado produtor de milho na safrinha, o Mato Grosso, as chuvas já reduziram, cenário normal para essa época do ano. Com uma área próxima de 4,48 milhões de hectares semeados nesta temporada, a perspectiva é de uma produção de 25,99 milhões de toneladas, com rendimento de 96,3 sacas do grão por hectare, de acordo com último levantamento do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).
"Daqui pra frente as atenções se voltam para as áreas que foram semeadas fora da janela ideal para o cultivo de milho, dado a baixa precipitação aguardada para o mês de maio", informou o instituto em seu último boletim. No estado, a janela ideal de cultivo da safrinha se encerra no final do mês de fevereiro.
Esse é o caso da Canarana, onde não chove há mais de 10 dias e as altas temperaturas permanecem elevadas. "O que plantou em fevereiro está escape, mas precisamos de chuvas para consolidar a produção nas lavouras tardias. E caso as chuvas não apareçam, poderemos ter perdas de produtividade", informou o presidente do Sindicato Rural do município, Arlindo Cancian.
Já os preços dos contratos subiram de R$ 18,00 a saca para R$ 23,00 a R$ 24,00 a saca na região. A valorização também é um reflexo das preocupações com os efeitos do clima na produção de milho safrinha no país.
Na localidade de Nova Mutum, cerca de 15% a 20% das plantações de milho ainda precisam de chuvas. "O restante, de 80% a 85% está escape e a perspectiva é de um rendimento próximo ao observado no ano passado, de 107 sacas a 110 sacas por hectare. Os preços também melhoraram e a saca é cotada entre R$ 21,00 a R$ 22,00", pondera Emerson Zancanaro, presidente do Sindicato Rural.
Em Sorriso, importante região de produção no estado, grande parte das lavouras está definida. Isso porque, ao contrário de outras localidades, os produtores conseguiram realizar a semeadura dentro do melhor período, entre os meses de janeiro e fevereiro, conforme explica o presidente do Sindicato Rural, Luimar Gemi.
"Com a semeadura dentro da janela, temos esse cenário e com uma perspectiva de produtividade próxima a do ano anterior, de 112 sacas por hectare. Os preços voltaram a subir e, atualmente, a saca é cotada a R$ 20,00. Temos boas oportunidades aos produtores", reforça a liderança sindical.
Ainda de acordo com dados do Imea, em torno de 43,97% da safrinha de milho já foi comercializada no estado até o mês de abril. O índice está próximo do observado na safra passada, de 43,26%.
Mato Grosso do Sul
O clima adverso também afeta o desenvolvimento das lavouras de milho safrinha em Mato Grosso do Sul. Em muitas regiões do sul do estado, as plantações não recebem chuvas há mais de 30 dias e já relatos de perdas no potencial produtivo das plantas.
"Por conta da estiagem, muitas lavouras tem problemas com a requeima que está até a altura das espigas. Além disso, o cereal está entrando em fase de pendoamento em plena seca, e assim, acaba não tendo formação de espigas", disse o presidente da Aprosoja MS, Juliano Schmaedecke.
Inclusive, em algumas regiões as perdas podem ultrapassar os 40%. A entidade projeta até esse momento a produtividade em 68 sacas de milho por hectare.
As preocupações também impactaram os preços e o valor futuro bateu R$ 28,00 a saca. "Mas os produtores estão cautelosos para negociar por que ainda não sabem se vão ter milho nas lavouras”, pondera Schmaedecke.
Goiás
Assim como em outras regiões, em Goiás a situação também é bastante preocupante. As lavouras de milho safrinha estão há mais de 20 dias sem chuvas e as temperaturas permanecem elevadas. No estado, o Sudoeste é responsável por 80% da produção do cereal na segunda safra.
O analista técnico do Ifag (Instituto Para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás), Cristiano Palavro, reforça que "O déficit hídrico está aumentando a cada dia e as lavouras têm sofrido com a ausência de chuvas, mas ainda não é possível avaliar as perdas. Porém, podemos afirmar que não teremos uma safrinha com produtividade excelente".
Ainda na visão do analista, cerca de 30% a 35% da safra, estimada até esse momento em 7,2 milhões de toneladas, está mais suscetível às intempéries climáticas. São áreas cultivadas tardiamente, dentro do mês de março, e que podem apresentar perdas mais significativas caso as chuvas previstas a partir do final dessa semana não se confirmem.
"O restante de 65% a 70% da safra, semeada dentro do mês de fevereiro, que poderia ter um rendimento excelente deverá ter uma produtividade dentro da normalidade. Isso por conta da interferência climática", explica Palavro.
O cenário já tem afetado o ritmo dos negócios no estado e dado sustentação aos preços. "Temos valores entre R$ 30,00 a R$ 31,00 no estado nesse momento. E estamos acompanhando a retração nas vendas por parte dos produtores", destaca o analista.