Oferta de milho do Brasil só melhora no 2º semestre de 2017, diz Agroconsult
Por Roberto Samora
SORRISO (Reuters) - A crise na oferta de milho do Brasil vai precisar de mais uma safra para ser resolvida, com a demanda por exportações e no mercado interno superando a disponibilidade na temporada 2015/16 e comendo estoques, após perdas pela seca em vários Estados produtores, como Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Os problemas de preços altos da matéria-prima para empresas consumidoras de milho, como produtores de aves e suínos, vão se prolongar até o segundo semestre de 2017, apesar de importações recordes previstas para 2016, segundo o analista da Agroconsult Marcos Rubin, que apontou compras externas este ano de 2,5 milhões de toneladas, ante somente 370 mil toneladas em 2015.
Se a conjuntura e o cenário aterrorizam consumidores, que lidam atualmente com preços recordes do cereal, devem impulsionar o plantio de milho em 2016/2017, visando reequilibrar oferta e demanda no Brasil, o maior exportador global de carne de frango.
"Vai ter milho plantado até nos terrenos das cidades (na próxima safra)", afirmou o analista da Agroconsult, durante palestra na noite de quinta-feira, promovida pelo Rally da Safra a produtores de Sorriso (MT), o maior produtor brasileiro de grãos.
O Brasil deverá produzir 78,5 milhões de toneladas de milho em 2015/16, ante 84,7 milhões do recorde da temporada anterior, segundo números divulgados pela Agroconsult antes do Rally da Safra, expedição técnica que busca levantar no campo o tamanho da colheita brasileira,
É possível que essa estimativa mude, após a consolidação de dados de perdas em importantes Estados produtores, ainda que o Mato Grosso --o maior produtor-- esteja registrando produtividades ruins, mas talvez melhores do que as 80 sacas por hectare estimadas após a seca de abril.
"A avaliação é que não esteja tão ruim assim", disse Rubin sobre o Mato Grosso, na abertura de sua palestra, ao comentar produtividades vistas no Rally, sem fornecer uma nova estimativa.
A Reuters acompanhou a expedição técnica nesta semana e viu muitas lavouras no Estado melhores que o esperado.
Para o analista da Agroconsult, as avaliações realizadas em Mato Grosso do Sul e Paraná vieram piores do que o esperado, enquanto a expedição organizada pela consultoria confirmou perdas expressivas em Goiás, decorrentes de uma seca acentuada no mês passado e com produtores plantando o milho fora da janela ideal de chuvas para aproveitar preços já altos no início do ano.
O agricultor Júnior Ferla, de Sorriso, afirmou à Reuters que a escassez de chuvas na região em abril não deveriam ser surpresa. "Todo mundo sabe que é difícil chover aqui em abril e foi plantando até o fim do mês, e depois quer que o ´trem´ (lavoura) dê (milho)", disse ele.
O agricultor afirmou ter conseguido plantar boa parte de suas áreas antes de as chuvas ficarem escassas e espera colher mais do que a média do município.
VENDAS PARA EXPORTAÇÃO
Segundo Rubin, da Agroconsult, a oferta de milho será baixa até a segunda metade de 2017, com o Brasil consumindo um recorde de quase 60 milhões de toneladas na atual temporada, após exportações históricas de 35,7 milhões de toneladas de julho de 2015 a abril deste ano, com o câmbio estimulando as vendas externas.
Não bastasse isso, produtores de milho do Brasil comercializaram antes mesmo da colheita visando travar preços, ainda que em patamares bem menores que os astronômicos valores do mercado spot atual.
Por causa das vendas antecipadas, a Agroconsult estima exportação este ano de 21 milhões de toneladas, um recuo expressivo ante o total de 2015, mas ainda patamar elevado, suficiente para deixar o país brigando com a Argentina pela segunda posição como maior exportador global.
Considerando esse volume de vendas externas do cereal em 2016, o Brasil teria de importar 2,5 milhões de toneladas ou mais para suprir suas necessidades internas, dependendo do tamanho final da quebra de safra nacional, com o grão vindo da Argentina e dos Estados Unidos, e o produto de fora do Mercosul contando agora com isenção de imposto para uma cota de 1 milhão de toneladas.
Os estoques finais de milho do Brasil fechariam 2016 em 6,8 milhões de toneladas, ante 5,9 milhões em 2015, volume suficiente para pouco mais de um mês de consumo nacional.