Milho: Focado na safra dos EUA, mercado acumula desvalorização de mais de 3% na semana em Chicago
Após três pregões consecutivos de perdas, as cotações futuras do milho voltaram a subir na Bolsa de Chicago (CBOT) e encerraram a sessão desta sexta-feira (6) em campo positivo. As principais posições da commodity exibiram ganhos entre 3,25 e 4,25 pontos. O contrato maio/16 era cotado a US$ 3,76 por bushel, enquanto o dezembro/16 era negociado a US$ 3,84 por bushel. Apesar da movimentação positiva, as cotações do cereal acumularam desvalorizações entre 2,66% e 3,65% ao longo da semana, conforme levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes.
Nesse instante, os analistas ressaltam que os participantes do mercado estão atentos ao andamento dos trabalhos nos campos norte-americanos. E, até o momento, não há problemas com a nova safra de milho no país. Até o último domingo (1), o plantio do cereal estava completo em 45% da área estimada para esse ciclo, segundo o relatório de acompanhamento de safras do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). O percentual ficou em linha com o registrado em igual período de 2015, mas está acima da média dos últimos anos, de 30%. O órgão atualiza as suas informações na próxima segunda-feira (9).
E como está correndo dentro do planejado até agora, há um sentimento de que não haja uma migração por parte dos produtores para a cultura da soja, cultivada pouco depois. Todo esse cenário, acaba exercendo uma pressão negativa nos preços no mercado internacional, de acordo com a analista de mercado da FCStone, Ana Luiza Lodi. Na próxima semana, o USDA traz as novas estimativas para a safra nova, em seu novo boletim de oferta e demanda que será reportado na terça-feira (10).
“Porém, temos algumas previsões de chuvas nos próximos dias no país, o que pode atrasar a semeadura”, disse Bob Burgdorfer, analista e editor do site internacional Farm Futures.
Em contrapartida, a situação da safrinha brasileira ainda dá alguma sustentação aos preços no cenário internacional. Isso porque, há muitas especulações e rumores sobre as perdas na safrinha depois do longo período sem chuvas e das altas temperaturas observadas nas principais regiões produtoras do grão. Durante essa semana, a INTL FCStone estimou a produção em 49,8 milhões de toneladas, contra 56,6 milhões de toneladas estimadas no mês anterior, uma queda de 12%.
"Isso devido à queda esperada na produtividade, cuja média para o Brasil ficou em 4,92 toneladas por hectare", informou em nota. Já a Agroconsult, projetou a segunda safra em 52,5 milhões de toneladas, uma redução de 4% em relação à previsão anterior. Em seu último relatório, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou a produção brasileira na segunda safra em 57,13 milhões de toneladas.
"Com isso, o entendimento é que a demanda mundial se desloque para o milho americano. Além disso, com a isenção da taxa de importação para mais de 1 milhão de toneladas do grão fora do Mercosul, medida anunciada recentemente pelo Governo brasileiro, a perspectiva é que esse produto também venha dos EUA, especialmente para os compradores da região Nordeste", ressalta a analista de mercado da FCStone Ana Luiza Lodi.
Ainda hoje, o departamento anunciou a venda de 132 mil toneladas de milho para Israel. O volume negociado deverá ser entregue na temporada 2015/16. Essa é a segunda operação divulgada essa semana, já que na última quarta-feira (3), o órgão indicou a venda de 107,5 mil toneladas do grão para o Japão.
Mercado interno
As cotações do milho no mercado interno brasileiro tiveram uma semana mista, segundo levantamento realizado pelo Notícias Agrícolas. Nas principais praças paulistas, Itapeva, Itapetininga, São João da Boa Vista e Jaboticabal, os preços recuaram mais de 2%. Ainda assim, os preços orbitam entre R$ 43,00 a R$ 45,00 a saca.
Em contrapartida, em Assis (SP), a alta ficou em 7,14%, com a saca a R$ 43,96, a mesma valorização foi registrada no Oeste da Bahia, mas a cotação ficou em R$ 45,00. Em Sorriso (MT), o preço subiu para R$ 36,00, com ganho de 2,86%. Em Ponta Grossa (PR), o ganho ficou em 6,12%, com a saca a R$ 52,00. Na região de Não-me-toque (RS), a alta ficou em 2,41%, com a saca a R$ 42,50. Nas demais praças a semana foi de estabilidade.
A situação é um reflexo do quadro ajustado entre oferta e demanda no mercado doméstico devido às fortes exportações registradas no ciclo anterior. "E esse ano a segunda safra, que deveria regularizar o mercado nos próximos meses, teve problemas e, em muitas regiões, será menor. Com isso, só teremos um alívio nesse cenário com uma redução nas exportações ou nas importações, que são limitadas. Acreditamos que os embarques poderiam patinar, até porque, o preço no porto está mais baixo do observado no mercado interno, em até R$ 6,00", pondera o analista da FCStone, Glauco Monte.
Diante dessa situação, a perspectiva é que haja uma pressão nos preços com a chegada da segunda safra no mercado interno. "Mesmo assim, teremos preços acima da média, com muita volatilidade, pois será difícil saber quando esse quadro no mercado interno será regularizado", pondera o analista.
Inclusive, as preocupações com a safrinha brasileira tem sido um dos fatores de sustentação às cotações na BM&F Bovespa. Apesar da leve queda registrada nesta sexta-feira (6), entre 0,11% e 0,47%, os preços continuam acima do patamar de R$ 40,00 a saca. O maio/16 fechou a sessão a R$ 51,05 a saca e o setembro/16, referência para a safrinha, encerrou o dia a R$ 41,40 a saca.
Hoje, as cotações acompanharam a movimentação do dólar. A moeda norte-americana finalizou a sessão a R$ 3,5030 na venda, com queda de 1,04%. Na máxima do dia, o câmbio chegou a R$ 3,5747 e na mínima a R$ 3,4945. Segundo a agência Reuters, o mercado alimentou expectativas de que os juros nos Estados Unidos vão demorar mais para subir após a divulgação de dados ruins sobre o mercado de trabalho no país.
Confira como fecharam as cotações nesta sexta-feira: