Importações de milho da Argentina pelo Brasil devem ser as maiores em 15 anos
As importações de milho argentino realizadas pelo Brasil deverão atingir em 2016 os maiores volumes em 15 anos, à medida em que os preços no mercado brasileiro dispararam após fortes exportações realizadas pelo país nos últimos meses.
Informações no mercado dão conta de negócios de importações, já realizados, de centenas de milhares de toneladas, visando atender a uma escassez enquanto agricultores brasileiro evitam vender o produto da safra nova, apostando em preços mais altos.
Na segunda-feira, a avícola GTFoods, do Paraná, anunciou que importará sozinha 90 mil toneladas de milho da Argentina.
A esse volume se somam negócios reportados na semana passada de cerca de 250 mil toneladas, para entregas até meados de maio.
A última vez que o Brasil importou volumes tão elevados da Argentina foi em 2001, quando o país comprou 321 mil toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura brasileiro.
Os números são pequenos, no entanto, perto do que o Brasil exportou no ano passado, um recorde de mais de 30 milhões de toneladas, enquanto em janeiro e fevereiro as exportações atingiram quase 10 milhões de toneladas.
A forte desvalorização do real no último ano é o principal motivo do grande movimento exportador que reduziu fortemente os estoques locais de milho.
Os volumes de importação também são pequenos se comparados com o consumo mensal do Brasil, em 4,5 milhões de toneladas.
"Mas não são pequenos levando em conta o que o Brasil importa no ano. Se levar para esse lado, dá um susto, e é um sinal que a Argentina está de volta", disse a analista Daniele Siqueira, da AgRural, lembrando que o país vizinho tem ampliado as exportações após mudanças nas políticas para o setor agrícola com o novo governo.
No ano passado, as importações de milho da Argentina pelo Brasil praticamente inexistiram, somando pouco menos de 2 mil toneladas, enquanto as compras totais do país, de todas as origens, atingiram cerca de 370 mil toneladas.
PREÇOS ALTOS
As compras mais volumosas agora, que deverão resultar em desembarques em abril e maio, ocorrem com os preços do cereal no mercado interno em picos históricos, deixando o produto da Argentina mais competitivo.
O milho para exportação no porto brasileiro de Paranaguá está 25 por cento mais alto do que em Buenos Aires, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Já a cotação média do milho em março na praça de Campinas (SP), importante região para negociação do cereal no Brasil, está um pouco abaixo de 50 reais por saca, o maior valor desde fevereiro de 2008, segundo o Cepea, após as exportações brasileiras dispararem.
O pesquisador do Cepea Lucílio Alves lembrou que o Brasil fechou o ano comercial do milho (fevereiro de 2015/janeiro de 2016) com 10,5 milhões de toneladas em estoques, volumes que caíram quase pela metade com os embarques de 5,5 milhões em fevereiro de 2016. E, em março, o governo já reportou quase 2 milhões de toneladas de exportações.
Ainda que o Brasil atualmente já tenha colhido mais da metade de sua safra de verão, de cerca de 28 milhões de toneladas, produtores estão relutantes em vender o produto recém colhido, acreditando que os preços poderão subir mais.
Os volumes importados, que deverão atender uma escassez localizada, não deverão ter impacto nos preços, até porque não serão elevados, disse Alves.
"(A importação da Argentina) vai ser algo muito pontual ainda... Não acho que é isso que vai ter mudança de preço no mercado interno. O mercado interno vai se ajustar com a chegada da segunda safra, e mesmo a partir do momento que produtores começarem a vender a primeira safra", disse o pesquisador do Cepea.
O Brasil deverá colher um volume próximo de um recorde em 2015/16, mas a maior parte, ou cerca de 55 milhões de toneladas só deverá chegar ao mercado em meados do ano, na segunda safra.