Com estímulo dos preços, área plantada com milho safrinha pode crescer até 10%
Os produtores rurais brasileiros já iniciaram o plantio da safrinha 2015/16 de milho. E a perspectiva dos especialistas é de que haja um incremento na área semeada entre 8% a 10% em função dos preços elevados. Ainda assim, com o atraso no cultivo da soja, há muitas especulações no mercado sobre a área total a ser plantada com o grão nesta temporada e também do nível de tecnologia empregado.
Segundo a APPS (Associação Paulista dos Produtores de Sementes), a área cultivada nesta safra deverá crescer até 10%. "Há um consenso de que área deverá ser maior em decorrência das cotações mais elevadas no momento da tomada de decisão dos produtores. E acreditamos que mesmo com a janela ideal de cultivo menor, os agricultores não deixarão de plantar o cereal", afirma o diretor executivo da entidade, Cássio Camargo.
O consultor de mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze, também acredita que a área plantada com o grão deverá ser maior nesta safra. “Deveremos ter um crescimento de até 500 mil hectares, podendo superar os 10 milhões de hectares cultivados na safrinha. Mesmo que a semeadura seja fora da janela ideal em algumas regiões, os preços mais altos servem de estímulo aos produtores”, pondera.
Do mesmo modo, dados da consultoria Agroconsult apontam para uma alta de 9% na área semeada com o milho na segunda safra, que poderá totalizar 10,5 milhões de hectares. Com isso, a perspectiva é que sejam colhidas 57,7 milhões de toneladas do cereal, um ganho de 6% em comparação com o ciclo anterior.
Para essa temporada, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta a área de semeadura com o milho safrinha em 9.550,6 milhões de hectares, mesmo número registrado na safra passada. Em relação à produção, a perspectiva é que sejam colhidas em torno de 54.562,8 milhões de toneladas, contra as 54.590,5 milhões de toneladas registradas na safra 2014/15.
Em contrapartida, o presidente institucional da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho), Sérgio Luís Bortolozzo, pondera que a estiagem prolongada inviabilizou a semeadura do milho safrinha na região Nordeste. “Alguns agricultores mais estruturados até podem investir na cultura, mas acreditamos que haverá uma diminuição nos investimentos em tecnologia, o que já sugere uma queda na produtividade. No Brasil, algumas análises já indicam uma diminuição na área da safrinha, especialmente nas que foram mais afetadas pelo clima irregular”, completa.
Enquanto isso, os preços do milho continuam em patamares elevados no mercado brasileiro. De acordo com informações do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a valorização cambial contribuiu para as exportações do cereal, deixando os estoques finais mais baixos. Conforme dados oficiais da Conab, os estoques de milho estão próximos de 10.020,7 milhões de toneladas.
E essa situação associada às incertezas sobre a safra 2015/16 tem feito às cotações se elevarem. O Indicador ESALQ/BM&F Bovespa, referente à região de Campinas (SP), fechou a última segunda-feira (25) a R$ 42,84 a saca de 60 kg, valorização de 16,32% no mês de janeiro. Na última semana, o valor chegou a R$ 43,46 a saca de 60 kg.
Tecnologia empregada
O preço elevado também deve ser um fator de estímulo à utilização da tecnologia por parte dos produtores, sinalizam os especialistas. “No ano passado tivemos um retrocesso no nível de tecnologia empregado, pois os preços não eram interessantes. Consequentemente, em torno de 85% das sementes usadas tinham a tecnologia Bt. Para essa safra, projetamos que entre 88% até 90% das sementes utilizadas tenham a tecnologia”, estima Camargo.
“Por enquanto, as cotações praticadas incentivam os produtores a usarem tecnologia mais alta, especialmente em sementes e adubação. Mesmo com os riscos em relação ao clima, os agricultores irão buscar uma produtividade mais alta e, assim sendo, uma rentabilidade melhor com a produção”, ressalta Brandalizze.
Principais estados produtores
Ainda assim, no Mato Grosso, maior estado produtor de milho safrinha, a perspectiva é de redução nos investimentos em fertilizantes, especialmente em decorrência dos custos mais elevados, em torno de R$ 2.553,87/hectare. Consequentemente, o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) revisou para baixo a produtividade das lavouras do cereal de 106,9 sacas por hectare para 95,51 sacas por hectare.
Com isso, a produção de milho segunda safra deverá somar 19.361,615 milhões de toneladas. No ciclo anterior, os produtores colheram 21.205,324 milhões de toneladas, ainda segundo dados do instituto. Para a Conab, a safra do estado deverá somar 19.929,6 milhões de toneladas do grão.
Apesar do aumento na área plantada de 2,18%, totalizando 3.378,553 milhões de hectares. Até o momento, o plantio segue em ritmo lento e está completo em 3,09% da área estimada para essa safra.
Por outro lado, no Paraná, a área plantada atingiu 3% do total estimado para essa safra, de acordo com levantamento do Deral (Departamento de Economia Rural). A perspectiva é que sejam semeados 2,03 milhões de hectares nesta temporada, um aumento de 5,2% em comparação com o ano anterior.
A produção deverá ficar próxima de 11,7 milhões de toneladas de milho na safrinha, com produtividade média de 5.800 quilos por hectare. Já para a Conab, a produção do estado deverá ficar próxima de 11.284,8 milhões de toneladas nesta temporada.
Clima
Nas principais regiões produtoras do Brasil, o plantio da segunda safra de milho fica concentrado nos meses de janeiro a março. Segundo levantamento do agrometeorologista da Somar Meteorologia, Marco Antônio dos Santos, o fenômeno climático El Niño, um dos mais fortes dos últimos 50 anos, deve começar a perder força, mas ainda assim deverá continuar influenciando o clima no país até o outono.
“A partir de fevereiro deveremos ter uma diminuição das chuvas no Norte e na região Central do país, já que as precipitações retornam à região Sul do Brasil. O El Niño se manterá ativo ao longo do verão, mas de uma maneira mais branda do que aconteceu na primavera”, diz o agrometeorologista.
Contudo, as chuvas deverão retornar à região Centro-Oeste em meados de maio e contribuir para o desenvolvimento das lavouras de milho safrinha. “Teremos mais precipitações na faixa Central, Sudeste e até mesmo no Matopiba, favorecendo o desenvolvimento da cultura do milho”, ratifica Santos.
Brandalizze ainda ressalta que, com o atraso na chegada das chuvas, os produtores acreditam que as precipitações se alonguem em 2016, como já aconteceu no ano anterior. “Muitos agricultores que plantaram o milho em março de 2015 tiveram um rendimento melhor do que os cultivaram o grão mais cedo”, relata.