Apesar de safra recorde, Brasil pode ter falta de milho no 2º semestre
Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - O mercado brasileiro pode enfrentar nova escassez de milho no segundo semestre de 2016, com possibilidade de importar alguns volumes dos Estados Unidos e da Argentina, em função de uma safra praticamente estável e de mais uma temporada com fortes exportações, projetou nesta terça-feira a consultoria Agroconsult.
A empresa reduziu nesta terça-feira sua previsão para a safra total do cereal no país em 2015/16 para 85,6 milhões de toneladas, ante previsão anterior de 88,5 milhões. Se confirmado, o volume será recorde, mas apenas 1 por cento superior ao volume colhido em 2014/15.
Ao mesmo tempo, o Brasil deverá terminar o ano comercial 2015/16 (de fevereiro a janeiro), referente aos grãos colhidos no ano safra 2014/15, com embarques recordes, de cerca de 34 milhões de toneladas, estimou a Agroconsult.
Com o real desvalorizado ante o dólar, a competitividade do grão brasileiro no exterior deverá se manter ao longo de 2016, estimulando as exportações e enxugando o mercado doméstico inclusive no segundo semestre, quando é colhida a segunda --e principal-- safra de milho do país.
A Agroconsult projeta que as exportações de milho do Brasil no novo ano comercial poderão ficar entre 30,5 milhões e 31 milhões de toneladas.
"A gente pode ter uma situação muito estranha. Podemos ter que revisar os números de exportação para baixo (pela indisponibilidade de produto) e eventualmente ter até que importar da Argentina ou dos Estados Unidos", estimou o diretor da Agroconsult, André Pessôa, em encontro com jornalistas.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o Brasil vá chegar em 31 de janeiro com estoques de passagem de 10 milhões de toneladas, um dos maiores dos últimos anos.
Na avaliação de Pessôa, este volume está mal distribuído no país e, em boa parte, nas mãos de produtores capitalizados que não têm interesse imediato em vender, podendo gerar escassez localizada em determinados meses do ano.
"O fluxo não fecha em todos os lugares. Vai ficando muito curto esse estoque", afirmou o analista.
PREÇOS ELEVADOS
A situação de escassez e de preços recordes já é um problema enfrentado atualmente por muitas empresas compradoras, que dependem do milho para a ração animal.
Executivos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as indústrias de aves e suínos, estiveram reunidos nesta terça-feira com o Ministério da Agricultura em Brasília para tratar do assunto.
Segundo nota da ABPA, o governo federal comprometeu-se em "realizar ações incisivas contra a forte elevação e a escassez de milho nos polos de produção".
Os preços de referência do milho no mercado à vista do Brasil bateram na semana passada a máxima histórica de 43,44 reais por saca de 60 kg, segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa.
Segundo Pessôa, da Agroconsult, a situação de mercado enxuto deverá se perpetuar ao longo do ano, mesmo com uma nova grande safra do cereal, tudo em função dos grandes volumes a serem exportados.
"Os grandes compradores têm que se antecipar (fechando contratos de entrega futura). O risco de desabastecimento no segundo semestre já entrou na agenda", afirmou o analista.