Milho: Oferta ajustada pode gerar disputa pela safra de verão; preços avançam
Os preços do milho no Brasil iniciaram 2016 em alta e com perspectivas favoráveis para o ano. Em comparação com o mesmo período de 2015, as cotações registram valorizações de mais de 40%. Porém, a notícia positiva aos produtores do grão já preocupa o outro lado da cadeia produtiva, o de proteína animal. A apreensão está relacionada à possibilidade de escassez do cereal no primeiro semestre e ao impacto nos custos de produção do setor que já registram elevação.
De acordo com levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bittencourt Lopes, as cotações do cereal subiram em média 35,49% no mercado doméstico no período comparativo de 7 a 14 de janeiro dos anos de 2015 e 2016. Em Paranaguá, a valorização é ainda mais expressiva e chega a 45,51%, no mesmo período.
Para o consultor de mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze, o abastecimento do cereal aos produtores de aves e suínos não deverá ser comprometido. "Acredito que não faltará milho no mercado interno, mas o produto será bem disputado nos primeiros meses do ano. Isso porque, temos um quadro de oferta e demanda mais ajustado no Brasil. Como boa parte da safrinha do ano passado já foi embora com as exportações, os estoques estão mais enxutos e as demandas doméstica e internacional seguem firmes", explica.
Levando em conta os últimos números reportados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), caso as exportações se confirmem em 30.877,7 milhões de toneladas, os estoques iniciais de milho deverão somar 10.020,7 milhões de toneladas.
Entretanto, é consenso entre os analistas de mercado de que os embarques poderão chegar a 35 milhões de toneladas. “Se embarcarmos esse volume, os estoques poderão chegar a 5 milhões de toneladas. E teoricamente a safra de verão atende a demanda até a safrinha, porém, nem toda a produção será vendida. Diante da perspectiva de preços mais altos, os produtores podem segurar as vendas. Com isso, algumas regiões como Nordeste, por exemplo, não serão atendidas por essa safra de verão devido aos custos elevados com o frete”, alerta o analista de mercado da FocoMT Agentes Autônomos, Marcos Hildenbrandt.
“Então, teremos estoques pequenos e, além disso, a qualidade desse milho armazenado pelo Governo é baixa, uma vez que foi adquirido há muito tempo. Já o nosso consumo interno é em torno de 1 milhão de tonelada por semana. E as exportações brasileiras continuam a todo vapor”, completa o analista.
Ainda de acordo com o levantamento da companhia, a safra de verão registra uma queda na área cultivada com o milho de 7,8%. Até o momento, a perspectiva é que sejam colhidas 27.764,8 milhões de toneladas e o consumo interno para 2016 está projetado em 58.197,9 milhões de toneladas do grão.
Na temporada passada, os produtores brasileiros colheram mais de 30 milhões de toneladas somente na primeira safra. Entretanto, no momento do planejamento da safra de verão muitos agricultores acabaram optando pela cultura da soja devido à relação custo de produção e preço. "Na região Centro-Sul, a queda na área cultivada com o milho está entre 15% até 20%. E a produção deverá ser próxima de 25 milhões a 26 milhões de toneladas", pondera o consultor.
Proteína Animal
Ainda assim, o momento é de cautela e gera apreensão aos produtores de aves e suínos. O presidente da Acsurs (Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul), Valdecir Folador, sinaliza que desde o segundo semestre do ano anterior, os custos de produção já subiram 11% aos suinocultores gaúchos. E com o preço de R$ 3,63 o quilo do suíno, a margem do produtor está bastante ajustada.
"Por enquanto, o que mais nos preocupa são os preços altos não só do milho, mas do farelo de soja também. Contudo, precisaremos de boas produções de safrinha no Paraná e Mato Grosso, para atender toda a demanda do Rio Grande do Sul. Com isso, os suinocultores estão cautelosos e devem retrair um pouco os investimentos na atividade", relata Folador.
Em São Paulo, o setor já se mobiliza para encontrar soluções e minimizar os efeitos da alta nos preços do milho na cadeia produtiva. Os custos de produção da avicultura já registram valorização de 15% nesse ano, segundo o presidente da APA (Associação Paulista de Avicultura), Érico Pozzer. Desde dezembro, os custos estão entre R$ 2,60 a R$ 2,70 por quilo. Em contrapartida, o quilo do frango vivo no estado é de R$ 2,80.
"Sabemos que existe milho, mesmo com as exportações elevadas. Mas os avicultores estão com dificuldades de adquirir o grão, em função da retenção por parte dos agricultores no mercado diante das expectativas de novas altas nos preços. Os avicultores que estavam com planos de crescer esse ano, pode ser que reavaliem e não cresçam. Com um impacto desse é impossível que o setor se mantenha alheio a isso", pondera Pozzer.
Já o vice-presidente de aves da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, destaca que a entidade está buscando alternativas junto ao Governo para solucionar o impasse e uma reunião já está marcada para a próxima terça-feira (19) para debater o assunto.
“É preciso que haja a regularização do fornecimento do grão e um equilíbrio nos preços, que é o principal insumo do setor de aves e suínos. E também de medidas que evitem especulação em produtos essenciais, como é o caso do milho. Os valores das carnes de frango, suíno e ovos irão subir devido à valorização do cereal”, diz.
Entre as medidas, o vice-presidente de aves da entidade destaca a importação do grão do Paraguai, Uruguai e Argentina ou até mesmo de outras origens. “O Governo também poderá usar vendas de estoques, leilões de transferência de estoques”, completa.
Em Santa Catarina, o presidente da Faesc (Federação de Agricultura do Estado), José Zeferino Pedrozo, também prevê um cenário mais complicado para o abastecimento do cereal para as cadeias produtivas de avicultura e suinocultura no primeiro semestre. "O grão está caro e escasso, portanto, com preço em ascensão. A situação somente irá melhorar no segundo semestre, com a entrada da segunda safra", alerta.
Exportações
A desvalorização do real frente à moeda norte-americana contribuiu para a competitividade do milho brasileiro no cenário internacional. Com isso, no acumulado da temporada, de fevereiro a dezembro de 2015, os embarques de milho totalizam 25,7 milhões de toneladas, de acordo com dados oficiais da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Porém, os analistas sinalizam que o volume acumulado já ultrapassa os 30 milhões de toneladas e para janeiro, o volume comprometido estaria próximo de 5 milhões a 5,5 milhões de toneladas do grão. O recorde brasileiro foi alcançado em 2013, com 26,6 milhões de toneladas de milho exportadas.
"O Brasil já se consolidou como grande player no mercado de milho. E conseguimos exportar no momento da entressafra mundial. Não dá para voltar atrás, temos boas relações comerciais com o Irã e para esse ano há perspectivas favoráveis para países da África, como, por exemplo, a África do Sul, que terá que importar bons volumes do grão para suprir as perdas registradas em sua produção decorrentes do clima irregular", diz Brandalizze.
Para a temporada 2015/16, de fevereiro/16 a janeiro/17, os embarques de milho são estimados em 28 milhões de toneladas, segundo a Conab. No mesmo período, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), acredita em exportações ao redor de 34 milhões de toneladas. “E a tendência é que 2016 também seja um ano favorável às exportações brasileiras. Até o momento, já temos 20 milhões de toneladas da safrinha, que ainda será plantada, comprometidas”, acredita Brandalizze.