Milho sobe até 21% no mercado interno na primeira semana do ano com impulso do câmbio e das exportações
Mesmo com a queda registrada no dólar nesta sexta-feira (8), o preço da saca do milho permaneceu estável no Porto de Paranaguá, em R$ 38,00 a saca. Na semana, a alta no porto ficou em 2,70%, de acordo com o levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes. O balanço semanal também foi positivo às cotações do cereal no mercado doméstico.
Somente em Tangará da Serra (MT), a saca do milho subiu 21,05% e fechou a semana a R$ 23,00. Ainda no estado, Campo Novo do Parecis acumulou ganho de 15,79% e a saca negociada a R$ 22,00. Na região de São Gabriel do Oeste (MS), a valorização ficou em 14,81%, com a saca a R$ 31,00. Já em Jataí (GO), a saca do cereal registrou alta de 12% e fechou a sexta-feira a R$ 28,00.
Nas praças de Ubiratã, Londrina e Cascavel, ambas no Paraná, a alta ficou em 5,06%, com a saca do grão negociada a R$ 27,00. Em Não-me-toque (RS), a valorização foi menos expressiva, em torno de 1,69%, e a cotação subiu de R$ 29,50 para R$ 30,00 a saca. As cotações têm encontrado suporte na valorização cambial e nas exportações do cereal que seguem fortes.
Por sua vez, a moeda norte-americana fechou o dia a R$ 4,0403 na venda, com queda de 0,30%. Mesmo com o recuo, a agência Reuters informou que, o dólar acumulou 2,34% na primeira semana do ano. O avanço das ações da China e a estabilização dos preços do petróleo contribuíram para pressionar o dólar ao longo do dia.
Enquanto isso, no mercado interno, as cotações continuam em patamares recordes e, segundo os analistas, as expectativas são favoráveis. Isso porque, as exportações aquecidas registradas nesta temporada ajudaram a enxugar o mercado doméstico. No acumulado do ciclo, os embarques já totalizam 30 milhões de toneladas e para janeiro, as nomeações indicam um volume comprometido de 5,5 milhões de toneladas.
"Deveremos chegar a 35 milhões ou até 35,5 milhões de toneladas do grão embarcadas na temporada. Com isso, nas regiões mais próximas aos portos a oferta ficou enxuta e agora temos dificuldade no abastecimento interno. E enquanto não tivermos entrada de um bom volume de milho novo para atender toda a demanda interna teremos um mercado que pode subir a qualquer nível", disse o analista de mercado da Safras & Mercado, Paulo Molinari em recente entrevista ao Notícias Agrícolas.
BM&F Bovespa
Os futuros do milho negociados na BM&F Bovespa fecharam o pregão desta sexta-feira (8) com ligeiras quedas. Após trabalhar em alta ao longo da semana, as cotações do cereal acompanharam a queda observada do dólar e voltaram a operar em campo negativo. As quedas ficaram entre 0,47% e 0,60%. O vencimento janeiro/16 era cotado a R$ 39,95 a saca.
Apesar das ligeiras desvalorizações, as principais posições da commodity subiram mais de 4% ao longo dessa semana. O vencimento janeiro/16 subiu de R$ 37,78 a saca, observado no fechamento da última segunda-feira (4), para R$ 39,95 a saca nesta sexta-feira. No mesmo período comparativo, maio/16 saltou de R$ 37,70 a saca para R$ 39,45 a saca.
Bolsa de Chicago
As cotações futuras do milho negociadas na Bolsa de Chicago (CBOT) encerraram o pregão desta sexta-feira (8) do lado positivo da tabela. As principais posições do cereal fecharam o dia com altas entre 4,00 e 4,50 pontos. O vencimento março/16 era cotado a US$ 3,57 por bushel, depois de iniciar o dia a US$ 3,55 por bushel. Já o contrato maio/16 era cotado a US$ 3,62 por bushel. Na análise semanal, as cotações do cereal subiram mais de 1%.
"Os mercados de grãos foram mais elevados diante de movimento de cobertura de posições vendidas apoiada pela firmeza nos mercados de ações registrada nesta sexta-feira ao redor do mundo. E os preços do petróleo acabaram se estabilizando", conforme disse Paul Georgy, CEO da Allendale em entrevista ao site AgWeb.
Ao longo da semana, as cotações do cereal exibiram ligeiras movimentações, orbitando no intervalo de US$ 3,50 e R$ 3,80 por bushel. Os analistas ainda ressaltam que os preços operam de forma técnica frente à falta de novas informações. Os produtores dos EUA colheram uma grande produção, próxima de 346,82 milhões de toneladas, conforme último boletim de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Contudo, as vendas para exportação caminham mais lentamente nesta temporada e o volume negociado está cerca de 25% abaixo do registrado em igual período do ciclo anterior. Ainda nesta quinta-feira, o departamento indicou as vendas semanais de milho em 252,9 mil toneladas na semana encerrada no dia 31 de dezembro. E, mais uma semana, o volume ficou abaixo das estimativas dos participantes do mercado, entre 400 mil a 600 mil toneladas.
Por outro lado, os especialistas reforçam que os investidores começam a dar mais atenção à definição da safra 2016/17 no país. E, por enquanto, é consenso que os atuais patamares praticados para o milho em Chicago não remuneram os produtores, uma vez que não cobrem os custos de produção.
Ainda essa semana, o site Farm Futures reportou as primeiras estimativas para a nova safra americana. A safra do cereal poderá próxima de 344,7 milhões de toneladas na safra 2016/17. O número projetado é inferior ao colhido na última safra, de 346,83 milhões de toneladas, segundo dados do USDA.
Confira como fecharam os preços nesta sexta-feira:
Caminho sem volta
Antes patinho feio destinado ao mercado interno,milho se consolida como produto importante nas exportações do país
(por MAURO ZAFALON, na coluna VAIVEM DAS COMMODITIES - FOLHA DE S. PAULO)
O Brasil exportou o recorde de 29 milhões de toneladas de milho no ano passado. Há dez anos, apenas 1 milhão de toneladas, conforme os dados divulgados na quinta-feira (7) pelo Ministério do Desenvolvimento.
As exportações de milho são um caminho sem volta. Até o início dos anos 2000, os produtores ficavam à mercê das indústrias e de grandes consumidores desse cereal.
Em um ano de boa safra, a oferta aumentava e os produtores, em geral, recebiam valores inferiores aos do custo de produção.
Mesmo em período de escassez de oferta, devido a quebras de safra, a negociação com as indústrias era difícil, e nem sempre a remuneração para o produtor era adequada.
O milho brasileiro era o patinho feio e só tinha um destino: o mercado interno.
Essa corrente foi quebrada em 2001, quando uma cooperativa paranaense se lançou no mercado externo e iniciou as exportações do cereal.
Até um ano antes, o país era grande importador. Em 2000, as importações somaram 1,8 milhão de toneladas, com a sangria de US$ 200 milhões na balança comercial do agronegócio.
As exportações de 2001 somaram 5,6 milhões de toneladas, com receitas de US$ 493 milhões.
O país demorou para se adequar ao mercado externo. Em 2011, no entanto, as exportações já beiravam 10 milhões de toneladas.
O Brasil ganha espaço por uma série de fatores. Uma delas é a entrada de Mato Grosso nessa cultura. Ao avançar a área de soja, o Estado amplia também a de milho. A safra do cereal vem logo após à de soja para um aproveitamento da terra.
Mato Grosso representa atualmente 25% da produção brasileira de milho. O aumento da produtividade no Estado e no país também é um dos fatores de destaque.
Há dez anos, o Brasil plantava 13 milhões de hectares, e produzia 43 milhões de toneladas do grão. Nesta safra, serão 15 milhões de hectares, com 82 milhões de toneladas. A área cresceu 15% no período. A produção, 91%. A produtividade média do país por hectare, que era de 3.279 quilos, está em 5.370 quilos. A do centro-sul atinge 6.122 quilos.
Mas, nesse quesito, o país tem muito a avançar. A produtividade média da Nova Zelândia é de 12 toneladas por hectare. A do líder mundial de produção -os EUA- fica em 11 toneladas.
Além de avançar na produtividade, o país precisa buscar os principais importadores mundiais, como o Japão. Assim como o país fez uma luta intensa para abrir esses mercados para as carnes, terá de direcionar mais cereal para os asiáticos. O Japão importa 15 milhões de toneladas por ano, mas levou apenas 2,8 milhões de toneladas do Brasil em 2015, ocupando o quarto lugar na lista nacional.
Em 2013, devido à seca nos Estados Unidos, o maior exportador mundial de milho -o Brasil é o segundo maior-, os japoneses e os sul-coreanos compraram uma média de 3,5 milhões de toneladas cada um no Brasil.
Vietnã e Irã, com volumes superiores a 4 milhões de toneladas cada um, foram os maiores importadores de 2015.
Estimativas indicam que o país poderá produzir acima de 100 milhões de toneladas de milho nos próximos anos. Consolidação de mercados externos e regularidade nas exportações farão o país encostar nos Estados Unidos, que exportam 45 milhões de toneladas.
Colheita de milho em fazenda de MT |