Global Agribusiness Forum: O que Al Gore ainda tenta provar sobre o aquecimento global?

Publicado em 28/09/2012 13:05 e atualizado em 28/09/2012 18:17
Os impactos causados pelas mudanças climáticas na agricultura mundial foram o principal tema abordado pelo ex-vice presidente dos EUA e conhecido ativista ambiental Al Gore. O ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2007 esteve presente no Global Agribusiness Forum, que aconteceu nestas terça (25) e quarta-feiras (26) em São Paulo e afirmou que "se a crise climática afeta a agricultura, o oposto não é menos verdadeiro". Sendo assim, o político tomou o oposto como base de seu discurso e continuou explanando sobre como a produção agrícola poderia ser uma das principais responsáveis pelo aquecimento global. 

Para ilustrar sua teoria, o político apresentou diversas fotos e vídeos e alguns dados - desatualizados - sobre o desmatamento e seus efeitos não só no Brasil como em mais nações emergentes, afirmando que cenários como estes são alguns dos principais motivos das mudanças climáticas que são conhecidas hoje em dia e que, na visão de Gore, seriam as principais "ameaçadoras" da oferta global de alimentos.
 
Foram apresentadas imagens falando sobre a seca que provocou uma séria quebra na produção de grãos dos Estados Unidos neste ano e, ao mesmo tempo, imagnes do desmatamento no estado do Pará entre 2001 e 2005. Paralelamente, citou ainda dias em que as temperaturas em países do Oriente Médio como Irã, Iraque e Kuwait chegaram a superar os 50°C. 

Entretanto, as imagens que ilustravam o problema eram de regiões norte-americanas e as que indicavam as causas desse mesmo problema eram de regiões brasileiras, africanas, chinesas ou de alguma outra nação menos desenvolvida. Não menos enfático, o ex-vice presidente afirmou ainda que tais mudanças climáticas e, claro, consequentemente o aquecimento global, seriam capazes de dificultar as previsões sobre o tempo nos próximos anos, dizendo que "a perturbação do ciclo biológico acabará com a possibilidade de se prever a ocorrência das chuvas". 

Energia x Alimentos – Para Al Gore, o aquecimento climático e as tais mudanças climáticas são os principais ameaçadores da oferta mundial de alimentos e energia. "Quanto mais quente o tempo, menor o rendimento e mais os preços sobem, tanto dos combustíveis quanto dos grãos", disse Al Gore sobre os picos de preços registrados pelos grãos nos últimos anos. O político afirma que, caminhando ao lado dessas alterações no clima, cresce uma enorme pressão sobre o campo. 

Para o ex-vice presidente, em poucos anos o número de conflitos no campo irá crescer e os agricultores terão que se decidir entre plantar para a produção de energia ou para a produção de alimentos. Ao mesmo tempo, lembrou que nos últimos 100 anos a população mundial quadruplicou e, com ela, veio a busca por alimentos de melhor qualidade, com uma alteração de sua dieta básica marcada pela intensificação do uso da carne.
 
Então, Al Gore novamente falou do relevante papel que a América do Sul, principalmente o Brasil, desempenha na segurança alimentar ao lado, é claro, dos Estados Unidos. 

Entretanto, criticou novamente nossos mecanismos de produção ao sugerir que os produtores brasileiros precisam reduzir o uso de defensivos que agridem o solo e que precisam ainda adotar práticas mais sustentáveis de agricultura. 

Brasil x EUA - Ao final, Al Gore agradeceu e parabenizou o agronegócio brasileiro. Disse que o Brasil é uma grande potência no cenário da produção mundial de alimentos e que se orgulhava dos produtores brasileiros. 

No entanto, durante importantes pontos em que a preservação ambiental vinha à tona, inclusive sobre assuntos intimamente ligados ao Código Florestal brasileiro, o político dizia "bom, não vou entrar nesta questão já que eu sei que vocês têm um grande debate sobre isso". Porém, em nenhum momento, Al Gore disse que, neste caso, o Brasil, um dos poucos países que possuem uma legislação ambiental, poderia servir de modelo para seu país.

Em nenhum momento, o ex-vice presidente norte-americano deu dados como a diferença entre a área protegida do Brasil e a de outros países, até mesmo como o seu. De acordo com dados da União Internacional para Conservação da Natureza, o Brasil tem aproximadamente 30% de sua área protegida, enquanto o percentual de outros países como China, Estados Unidos, Austrália, Rússia e Canadá não chega a 20 ou 10%. 

O Brasil, atualmente, é o país que possui maior área protegida do mundo e, além disso, preserva áreas que têm muito potencial e não espaços como desertos, como é o que acontece na China, ou áreas completamente congeladas, como é o caso da Sibéria. Diante disso, nossos 30% de área protegida têm bastante qualidade.

Frente a essas críticas e a essa listagem de algumas deficiências na produção, uma última pergunta faltou ser respondida na palestra de Al Gore: quais as soluções para os problemas apontados e quais caminhos seguir então? A explanação acabou e esse foi um ponto em que, aparentemente, o ativista preferiu não tocar. 

Al Gore encerrou seu discurso dizendo que, por trás de toda essa "comprovada teoria" das mudanças climáticas e do aquecimento global há uma indústria da negação, referindo-se aos estudos que dizem que o que não existe, de fato, é o aquecimento global e que a agricultura, não só brasileira como mundial, sozinha, seria capaz de alterar tão drasticamente o padrão climático do planeta. 

Diferente dos demais palestrantes do Global Agribusiness Forum, Al Gore se negou a dar uma entrevista coletiva aos jornalistas presentes.
Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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