Estudo aponta tendência de aumento da temperatura do ar em Goiás

Publicado em 13/01/2020 08:51

Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) evidencia tendência de aumento da temperatura média do ar no Estado. O estudo se baseou na temperatura média diária de uma série histórica que abrangeu o período de 1980 a 2014 em cada uma das 75 estações climáticas espalhadas pelo Estado. A partir dos dados coletados, foi aplicado o método de análise de regressão linear e que permite correlacionar variáveis. Esse método leva à formulação de uma expressão matemática, cujo cálculo possibilita a obtenção do coeficiente angular, um resultado que evidencia indiretamente tendências de alterações climáticas.  

Das 75 estações climáticas que integraram a pesquisa, 57 apresentaram valores positivos para os coeficientes angulares. Nos gráficos abaixo, isso está representado pelos coeficientes angulares maiores que zero, valores à direita das linhas pontilhadas. Isso significa que a temperatura média do ar em Goiás tende a crescer ao longo dos anos e que esse movimento deve ser mantido, tendo como base o período de 34 anos de dados avaliados pelo estudo.

A pesquisa realizada pela UFG e pela Embrapa considerou três agrupamentos de dados de temperatura média do ar para cada uma das 75 estações climáticas. Isso foi feito para melhor observar a tendência de mudança de temperatura geral ao longo de todos os meses do ano e diante de duas importantes épocas de cultivo no Estado de Goiás. A primeira entre abril e setembro (Época da seca), período dos cultivos sob irrigação; e de outubro a março, período das chuvas de primavera e do verão (Época das águas).    

Ao fragmentar os dados de temperatura média do ar pelas duas épocas de cultivo, o coeficiente angular aumentou para 68 das 75 estações consultadas, confirmando a tendência de aumento da temperatura média do ar e sinalizando para a possibilidade de um futuro que possa impactar culturas de relevância econômica para o Estado de Goiás, como algodão, cana, feijão, milho, soja, sorgo e tomate. A temperatura do ar é um dos principais elementos climáticos condicionantes para a produção vegetal, pois influencia no metabolismo e no ciclo das plantas, no uso da água, e pode ocasionar danos à produção.

Apesar do alerta, o estudo que foi conduzido não permite afirmar que a tendência de aumento da temperatura média do ar se configura em mudança climática. Para tanto, seria necessária maior base histórica de dados climáticos, o que não foi possível fazer, pois a organização sistemática dessas informações começou a ser elaborada só a partir de 1980. Além disso, a avaliação de quantos graus centígrados pode ser esse aumento e sua repercussão demanda outros tipos de pesquisas que considerem a projeção do clima com o auxílio de modelos de análise, com diferentes cenários de evolução, como por exemplo, os Caminhos Representativos de Concentração (RCPs), estabelecidos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Um dos coordenadores do trabalho sobre a tendência de aumento da temperatura média do ar no Estado de Goiás, o pesquisador da Embrapa, Alexandre Bryan Heinemann, esclareceu que o resultado alcançado pelo estudo pode ser atribuído a vários fatores. “Há o efeito da urbanização, o aumento da emissão de gases de efeito estufa, as queimadas de matas e florestas e o desmatamento, além de causas naturais”, disse. Ele considera que a tendência de elevação da temperatura média do ar depende muito de como as pessoas irão atuar para mitigá-la ou, ao contrário, intensificá-la.

“A tendência de aumento da temperatura média do ar pode impactar a agricultura de diferentes maneiras. Uma elevação de 1ºC ou 2ºC poderá alterar o regime de precipitação, intensificando a ocorrência de secas em determinadas regiões e enchentes em outras. Isso dificultará a programação das safras e a previsibilidade dos cultivos. O aumento da temperatura também altera a distribuição de doenças e pragas nas regiões produtoras, aumentando riscos de perdas na produção”, comentou Heinemann.

Localização das estações climáticas

Os dados climáticos utilizados no estudo são provenientes de 75 estações climáticas do INMET, localizadas no Estado de Goiás (ver mapa). De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (WMO, sigla em inglês), agência especializada da Organização das Nações Unidas, para uma análise de séries históricas de dados climáticos, há a necessidade de pelo menos 30 anos de observações. No estudo realizado, que abrangeu 1980 e 2014, esse requisito foi cumprido.

Situação de estresse para as plantas

A temperatura do ar é resultado do efeito da radiação solar. Ela interfere na duração do ciclo da planta, afeta o florescimento e a fixação dos frutos. Temperaturas acima de níveis ótimos para as plantas afetam processos fisiológicos, que só ocorrem de forma adequada entre certos limites térmicos. As consequências de mudanças na temperatura do ar podem ser drásticas, alterando a adaptação e práticas de uso do solo, a incidência de insetos-pragas e de doenças; e, até mesmo, a distribuição geográfica das culturas, causando sérias limitações para a produção de alimentos.

Análise de temperaturas extremas

Um outro método de pesquisa foi usado pela equipe da UFG e da Embrapa para avaliar a tendência da temperatura média do ar. Só que nesse caso o objetivo foi estabelecer a tendência das médias das temperaturas máxima e mínima diárias. Para tanto, após a coleta de dados nas 75 estações climáticas, foi aplicado o método conhecido como regressão robusta lowess, o qual permitiu espacializar no mapa do Estado de Goiás a tendência das médias dos dois extremos de temperatura.

A média da temperatura máxima extrema está ilustrada no gráfico abaixo. A região do oeste goiano apresentou as maiores ocorrências de temperaturas máximas extremas, variando de 33°C a 35°C. O período do ano de ocorrência do maior número de temperaturas máximas extremas foi entre os dias julianos (contagem sequencial de dias corridos no ano) de 220 a 291, concentrando entre os dias 267 a 291, que representam os meses de agosto, setembro e outubro, fase final da época da seca, característica do bioma cerrado. O leste goiano, no entorno do Distrito Federal, apresentou as menores temperaturas máximas médias. A avaliação de temperatura de extremos também indicou a alta frequência da ocorrência das temperaturas máximas, no dia do ano 291 (outubro). Esse registro ocorreu em 40 das 75 estações avaliadas.

No mapa de temperaturas mínimas históricas (abaixo), podem ser vistos diferentes pontos de registro das temperaturas mais baixas, estando elas localizadas na região do entorno do Distrito Federal e do sudoeste goiano. No entanto, a ocorrência das maiores temperaturas mínimas coincidiu com a região registrada no mapa acima de temperaturas máximas (oeste goiano). Além disso, as datas de incidência das temperaturas mínimas se mostraram bem distribuídas, em junho e julho.

 

Fonte: Embrapa

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