Rússia expande portos do Báltico em busca de novos mercados de grãos

MOSCOU, 26 de setembro (Reuters) - A Rússia, maior exportadora de trigo do mundo, está expandindo seus portos no Mar Báltico com o objetivo de aumentar as exportações agrícolas em 50% até 2030, ao mesmo tempo em que reduz a dependência das rotas tradicionais do Mar Negro, disseram autoridades e executivos.

O país, que exportou pelo menos 72 milhões de toneladas métricas de grãos na temporada 2023/24, está buscando novos mercados na América Latina e na África para diversificar seus mercados tradicionais de grãos no Norte da África e no Oriente Médio.

O país tem contado com seus portos no Mar Negro para lidar com as crescentes exportações agrícolas nas últimas décadas, mas o conflito com a Ucrânia tornou a área arriscada para o transporte marítimo, com ambos os lados atacando regularmente as instalações e a infraestrutura um do outro.

"O ano passado, com sua colheita recorde, mostrou que, com o ritmo de carregamentos para exportação, não temos capacidade suficiente", disse Ksenia Bolomatova, vice-chefe do conglomerado agrícola estatal OZK, que possui vários terminais no Mar Negro, em um encontro do setor em Sochi, no sul da Rússia.

Nos últimos 18 meses, a Rússia inaugurou dois grandes portos, Vysotsky e Lugaport, no Golfo da Finlândia, não muito longe de São Petersburgo, cidade natal do presidente Vladimir Putin.

A Vysotsky embarcou seu primeiro grão em abril de 2023, enquanto a Lugaport iniciou as operações em junho deste ano e a capacidade deve atingir 7 milhões de toneladas no início de 2025, de acordo com sua proprietária, a Novaport.

Dmitry Rylko, da consultoria agrícola IKAR, disse que os dois portos poderão movimentar até 15 milhões de toneladas de exportações agrícolas, incluindo grãos, por ano.

Isso representaria um quarto das 60 milhões de toneladas de exportações de grãos da Rússia previstas para a temporada 2024/25.

A empresa privada Primorsky UPK também está planejando um terminal de grãos no porto de Primorsky com capacidade de até 5 milhões de toneladas.

RESTRIÇÕES À EXPORTAÇÃO

Putin estabeleceu uma meta de aumentar as exportações agrícolas em 50% até 2030 como parte de uma estratégia para consolidar a posição do país como uma superpotência agrícola junto com o Brasil, os Estados Unidos e a China.

A Rússia se tornou o maior exportador mundial de trigo, milho, cevada e ervilhas na última década, mas o crescimento futuro pode ser limitado por gargalos na capacidade de transporte.

Muitos portos russos anunciaram planos para aumentar a capacidade após colheitas recordes nos últimos dois anos. Espera-se que os terminais do Mar Báltico se expandam em um ritmo mais rápido.

"A expansão da capacidade dos terminais do Mar Báltico é uma questão de segurança e soberania econômica e de transporte", disse a Novotrans em um comentário por e-mail.

Até agora, os fluxos comerciais e embarques russos não sofreram grandes interrupções no Báltico, onde 96% do litoral pertence a membros da OTAN, incluindo Finlândia e Suécia.

Em contraste, as interrupções estão aumentando no Mar Negro e podem reduzir o fornecimento global de grãos, de acordo com um relatório do Banco Mundial. Duas semanas atrás, um navio ucraniano que transportava grãos para o Egito foi atingido por um míssil.

Em agosto, autoridades locais russas disseram que a Ucrânia afundou uma balsa que transportava tanques de combustível no Porto de Kavkaz , que também é usado para transbordo de grãos.

APELO ECONÔMICO

A Rússia exportou 62 milhões de toneladas de grãos por mar na temporada 2023/24, com 90% dos suprimentos indo pelo Mar Negro, principalmente para mercados no Oriente Médio e Norte da África. Essa fatia deve cair conforme a infraestrutura do Mar Báltico cresce.

Os portos do Mar Báltico carregaram 1,5 milhão de toneladas de grãos na temporada passada, um aumento de três vezes em relação à temporada anterior, mas ainda apenas 2,4% do total das exportações russas, de acordo com cálculos da Reuters com base em dados disponíveis publicamente.

“Logisticamente, o Báltico tem muitas vantagens para as exportações de grãos”, disse Darya Snitko, vice-presidente do Gazprombank, um dos maiores bancos da Rússia e um dos maiores credores para agricultores.
Ela disse que a capacidade dos terminais do Báltico de receber navios maiores deve ajudar a reduzir os custos gerais.

"Os suprimentos do Mar Báltico superaram (em termos econômicos) os embarques da área de Azov-Mar Negro no comércio com países da África fora do Mediterrâneo, bem como com a Ásia", acrescentou ela.
Vysotsky tem enviado grãos para Argélia, Brasil, Cuba, Mali, México, Marrocos, Nigéria e Tunísia, de acordo com dados da empresa de logística Rusagrotrans.

Reportagem de Olga Popova e Gleb Stolyarov; Redação de Gleb Bryanski; Edição de Emelia Sithole-Matarise

Exportações de grãos da Rússia: uma olhada nos principais terminais e expansões planejadas

MOSCOU, 26 de setembro (Reuters) - Cerca de 90% das exportações marítimas de grãos da Rússia, que totalizaram 62,4 milhões de toneladas métricas na temporada 2023/2024, são encaminhadas por seus portos do sul do Mar Negro. No entanto, o aumento nas exportações está levando-a a aumentar a capacidade de carga em outras regiões.

Aqui estão seus principais terminais de exportação e expansões planejadas:

SUL DA RÚSSIA
A bacia Azov-Mar Negro inclui vários terminais de exportação de grãos importantes, como os de Novorossiysk no Mar Negro e os dos portos de Taman e Kavkaz no Estreito de Kerch. Alguns desses terminais estão envolvidos em transbordo offshore.

A região também apresenta vários terminais de médio e pequeno porte em Rostov-on-Don, dentro do delta do Rio Don no Mar de Azov e no porto de Azov. Um terminal do Mar Negro, Aval, está localizado na Península da Crimeia, que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014. Na temporada 2023/2024, 56,5 milhões de toneladas, ou 90,5% de todas as exportações marítimas de grãos, foram enviadas para o exterior por meio desses terminais.

Planos de expansão:

- O Delo Group, dono do terminal de grãos KSK no maior porto da Rússia em Novorossiysk, planeja aumentar sua capacidade de 9 milhões de toneladas para 10,5 milhões de toneladas. A empresa não especificou um cronograma.
- O Grupo estatal OZK e o Grupo privado Demetra iniciaram um projeto para aumentar a capacidade do seu terminal NKHP em Novorossiysk de 7,1 milhões de toneladas para 11,6 milhões de toneladas até 2026.
Mas dados fracos sobre o sentimento do consumidor nesta semana alimentaram os temores de desaceleração do mercado de trabalho, com as ações na quarta-feira perdendo alguns ganhos recentes.

MAR CÁSPIO

A bacia do Cáspio ocupa o segundo lugar em termos de volumes de carregamento e é crucial para as exportações de grãos para o vizinho Irã, bem como para o Turcomenistão e o Azerbaijão. Um total de 3,6 milhões de toneladas, ou 5,75% dos grãos transportados pelo mar, foram exportados por três portos do Cáspio - Astrakhan, Makhachkala e Olya. O maior terminal de grãos no Mar Cáspio é o porto de Olya, que carregou 935.000 toneladas de grãos na última temporada.

Planos de expansão:

- O grupo chinês Famsun planeja construir um terminal de grãos no porto de Makhachkala com capacidade de 1,5 milhão de toneladas por ano
- A empresa russa AgroTerminal Caspian está construindo um terminal de grãos com capacidade de quase 1 milhão de toneladas no porto de Olya.

MAR BÁLTICO

A bacia do Báltico, que ocupa o terceiro lugar em termos de volumes de carregamento, foi responsável por 1,47 milhão de toneladas ou 2,36% das exportações marítimas de grãos na temporada 2023/2024. No entanto, a região está pronta para ficar em segundo lugar em um futuro próximo devido a novos projetos que já estão em andamento ou com lançamento previsto para breve. Inclui portos no Golfo da Finlândia, em São Petersburgo e arredores, bem como no enclave russo de Kaliningrado, no Mar Báltico.

Vysotsky, que abriu em 2023 com uma capacidade de 4 milhões de toneladas e carregou 975.000 toneladas na temporada passada, é o maior porto de grãos da região. Além disso, a região de Kaliningrado tem o segundo maior terminal marítimo agrícola da Rússia, de propriedade do grupo privado de empresas Sodrugestvo. O terminal tem uma capacidade potencial de até 18 milhões de toneladas e é especializado em sementes oleaginosas, farelo, leguminosas e óleos vegetais, lidando também com pequenas remessas de grãos.

Planos de expansão:
- Em junho, a Lugaport começou a operar em Ust-Luga, na região de Leningrado. No início de 2025, sua capacidade atingirá 7 milhões de toneladas, de acordo com sua proprietária, a Novaport.
- No porto de Primorsky, a empresa privada Primorsky UPK planeja operar um terminal de grãos com capacidade de até 5 milhões de toneladas.
- A operadora ferroviária Technotrans anunciou planos no início de 2019 para construir um terminal de grãos offshore com capacidade de 3,5 milhões de toneladas para exportação até 2023. O terminal não foi construído, e a empresa não respondeu a uma solicitação da Reuters sobre seus planos.

EXTREMO ORIENTE DA RÚSSIA

A bacia do extremo leste da Rússia é a menor em termos de volumes de carregamento, com empresas que operam lá tendo quase nenhum plano de expansão ativo devido aos altos custos de embarque ferroviário para esses portos das principais áreas produtoras de grãos, bem como à baixa demanda por grãos transportados por via marítima dos principais mercados regionais. Na temporada 2023/2024, 869.000 toneladas foram exportadas por quatro portos na bacia do extremo leste, respondendo por apenas 1,4% do volume total de exportação por via marítima.

Todos os terminais que movimentaram mais de 1 milhão de toneladas métricas de grãos na última temporada estão no sul da Rússia.

Reportagem de Gleb Stolyarov e Olga Popova, edição de Gleb Bryanski e Emelia Sithole-Matarise