Setor de grãos em Goiás calcula prejuízos milionários após tabelamento de fretes
Negociações praticamente travadas. Morosidade na retirada de soja dos armazéns pelas empresas compradoras. Início da colheita de milho safrinha com dificuldades de armazenamento. Atrasos na entrega de fertilizantes para o plantio da próxima safra de soja. Esses são apenas alguns dos impactos observados pelos produtores após a Medida Provisória (MP) 832/2018, que estabelece o tabelamento de fretes, e foi aprovada pela Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (11/07).
Só em Goiás, o potencial de perdas ao setor de grãos chega a R$ 600 milhões desde que a medida entrou em vigor, no final de maio, atendendo à reivindicação dos caminhoneiros. Esse número calculado pelo Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária Goiana (IFAG), ligado à Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), considera os efeitos sobre a alta dos fretes, o aumento dos preços de insumos agrícolas e os impactos negativos sobre as cotações dos grãos.
Além disso, devido às incertezas causadas pela aplicação ou não da tabela de fretes, os produtores têm perdido boas oportunidades de vendas, já que muitas empresas compradoras diminuíram ou mesmo paralisaram o fluxo de negociações nas últimas semanas. "Tudo isso gera um efeito cascata que prejudica não só os produtores, mas toda a população. Já estamos sentindo e provavelmente haverá um aumento ainda maior da inflação nos próximos meses", ressalta o presidente da Aprosoja-GO, Adriano Barzotto.
As altas nos preços dos alimentos fizeram a inflação oficial do País (IPCA), divulgada na semana passada, avançar 1,26% em junho, depois de fechar em 0,4% no mês de maio. Um levantamento da Confederação Brasileira de Agricultura e Pecuária (CNA) mostra que o preço da cesta básica já subiu 12% após o tabelamento de fretes. Segundo a entidade, a inflação deve superar o teto da nova meta do governo federal (5,25%) ao final de 2018, caso ocorra o repasse integral dos aumentos dos transportes para a cadeia produtiva.
Impactos na safrinha
Em meio a esse cenário, a colheita do milho safrinha em Goiás está preocupando os produtores. "Apesar do atraso no plantio, estamos conseguindo bons resultados nas lavouras, mas agora esse milho está chegando e não vamos ter onde colocar, porque os armazéns ainda têm muita soja", afirma o presidente da Aprosoja-GO. Até o momento, as projeções apontam a produção de 6,64 milhões de toneladas de milho, que devem ser retirados do campo até meados de agosto.
Barzotto acredita que haverá excesso de demanda de frete nos próximos meses, o que vai encarecer ainda mais o custo do transporte, e essa conta vai acabar ficando para o produtor pagar. "Já estamos prevendo uma perda de renda considerável."
Alternativas ao tabelamento
A Aprosoja apoiou a greve dos caminhoneiros em sua pauta inicial, de redução dos preços de óleo diesel, porque assim como ocorre com o transporte rodoviário, esse combustível impacta altamente o custo de produção da soja – entre 30% e 40%, segundo estudo da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Porém, a entidade e todo o setor agropecuário são contrários ao tabelamento de fretes porque essa medida viola os fundamentos do livre mercado (Lei da Oferta e Procura). Com a aprovação da MP 832/2018 na Câmara, a Aprosoja vai reforçar o trabalho junto à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) do Congresso Nacional para derrubar a votação no Senado Federal, de forma a impedir que a MP do tabelamento vire lei.
Como alternativas aos caminhoneiros, a Aprosoja defende a redução de tributos sobre pedágios e insumos do transporte rodoviário (pneus, lubrificantes, peças de reposição, entre outros) e a criação de uma agenda de Estado comprometida com a melhoria da infraestrutura de transportes e logística, reduzindo a dependência das rodovias para longas distâncias e promovendo os outros modais.