Paralisação de caminhoneiros gera perdas de mais de R$ 5 bi à agropecuária, diz Ipea

Publicado em 05/06/2018 15:36

Por Iuri Dantas

SÃO PAULO (Reuters) - A paralisação dos caminhoneiros gerou prejuízos de mais de 5 bilhões de reais ao setor agropecuário, exigirá em alguns casos mais de um mês para regularização do abastecimento e causará aumentos de preços para os consumidores nas próximas semanas, segundo nota técnica de um instituto do governo brasileiro.

Produtores de leite, frango, suínos, bovinos e frutas contabilizaram um impacto negativo de mais de 4 bilhões de reais, deixando embarcar o equivalente a 520 milhões de dólares, considerando somente o setor de carnes, um dos mais afetados, aponta nota técnica elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que é vinculado ao Ministério do Planejamento.

Além dos setores citados pelo Ipea, exportadores de soja, café, suco de laranja e açúcar, produtos em que o Brasil lidera no mercado global, também sofreram com a greve, gerando preocupações sobre a capacidade de honrar os embarques.

"O que se observou durante a greve é que, em quase todos os segmentos, o produtor assumiu o prejuízo", diz um trecho do documento.

"O que se percebeu foi a dificuldade de se manterem os estoques e os níveis de insumos, o que acabou gerando pressão de custos para o produtor, que teve prejuízos líquidos."

Até o momento, não é possível saber todos os prejuízos causados pela paralisação de 11 dias, que desabasteceu mercados e fábricas, resultou num pacote de 13,5 bilhões de reais em benefícios aos motoristas de frete e levou Pedro Parente a deixar o cargo de presidente da Petrobras.

De acordo com a nota técnica do Ipea, "será confirmado nos próximos dias se houve algum processo de desorganização da cadeia produtiva", além de ser possível mensurar no detalhe o que houve com fornecimento de insumos e problemas fitossanitários, avalia a nota, assinada pelo diretor de Macroeconomia do instituto, José Ronaldo de Castro Souza Júnior.

Com a regularização na distribuição de alimentos, combustíveis e produtos regularizada, o governo reduzirá benefícios para levantar cerca de 4 bilhões de reais para manter a saúde das contas públicas ao mesmo tempo em que reduz impostos sobre o óleo diesel.

Outras medidas, como o tabelamento do frete e direcionamento de cargas da Conab, também geram críticas sobre seus impactos adverso na economia.

PREÇOS AO CONSUMIDOR

A análise do Ipea mostra que nas próximas semanas o consumidor vai arcar com os prejuízos absorvidos até o momento pelos produtores agrícolas, com pequeno impacto de alta na inflação que deve ser revertido ao longo dos próximos meses. No front inflacionário, o IPCA está abaixo dos 3 por cento no acumulado em 12 meses desde maio do ano passado, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, não acredita que a crise mude os rumos da política monetária.

Os produtores de leite descartaram 280 milhões de litros do alimento, ao mesmo tempo em que reduziram a quantidade de ração para as vacas, o que vai exigir de um a dois meses para normalização, diz o texto do Ipea.

"Esse manejo implicará problemas para a retomada da produção nos mesmos patamares anteriores à paralisação", diz o documento, citando a retirada da produção de animais com mais de 200 dias pós-parto.

"Dentro da indústria, o processo de fabricação de derivados lácteos pode ser comprometido por um tempo maior", afirma o Ipea, ressaltando que o cenário "deverá afetar diretamente os preços do leite e derivados no mercado doméstico".

O setor de aves e suínos registrou prejuízo direto de 3 bilhões de reais com a morte de 64 milhões de aves adultas e pintinhos --valor que já engloba perdas de 350 milhões de dólares com 120 mil toneladas que não foram exportadas.

"Em relação ao preço do frango no mercado doméstico, o que se observa é que ele já vinha apresentando queda desde janeiro, acumulando cerca de 20 por cento nos primeiros quatro meses do ano. O aumento de 30 por cento no preço nas gôndolas... irá recuperar essa queda", diz o documento.

Os prejuízos de frutas e hortaliças totalizam 920 milhões de reais, com o descarte de mercadorias. "Como o ciclo das hortaliças é curto, em termos de abastecimento, já na próxima semana o consumidor terá o produto nos mercados na maior parte das cidades."

As frutas mais atingidas foram mamão, uva, manga, goiaba e acerola.

O setor de carne bovina, por outro lado, deixou de embarcar 170 milhões de dólares, segundo o Ipea.

(Por Iuri Dantas)

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Santos Brasil amplia capacidade das operações de granéis líquidos no Porto do Itaqui (MA)
Portos do Arco Norte ganharão novo corredor logístico no Rio Tocantins
Segunda greve portuária dos EUA evitada após sindicato e empregadores chegarem a acordo
Terminais portuários movimentam 97,2% das exportações e importações do Brasil em 2024
BR-101 se mantém como rodovia com maiores preços médios de combustíveis em dezembro, segundo Edenred Ticket Log
Trabalhadores portuários da Costa Leste dos EUA e grupo de empregadores reiniciarão as negociações na próxima semana
undefined