Embrapa Gado de Leite: A nova Guerra na Europa repercute no mercado globai

Publicado em 14/03/2022 09:25

O ambiente político e econômico mundial está dominado pelo conflito bélico entre a Rússia e a Ucrânia. Estes dois países são importantes fornecedores mundiais de commodities agrícolas e energéticas. A Rússia responde por 12% da produção mundial de petróleo. A Ucrânia é o terceiro maior exportador mundial de milho, contribuindo com quase 15% da exportação deste produto. Os dois países também respondem por mais de 30% das exportações globais de trigo. Estes números mostram a importância destes países no mercado mundial de commodities.

Desde o início do conflito, no final de fevereiro de 2022, o petróleo subiu cerca de 30% no mercado internacional, o milho, 20%, a soja, 10%, todos com impactos diretos no custo de produção de leite e derivados. O leite em pó, integral e desnatado, aumentou cerca de 5%. Tais aumentos em tão curto espaço de tempo ilustram quão desafiador é o momento atual, que se soma à recuperação ainda em curso da pandemia de Covid 19 (Figura 1).

Neste cenário, o preço do leite no mercado internacional alcança os maiores patamares dos últimos 8 anos: O leite em pó integral está cotado em US$ 4.500/ tonelada. A oferta de leite nos principais mercados globais continua limitada e o aumento do custo de produção seguram o incremento da produção internacional.   

A balança comercial brasileira de lácteos tem reagido ao aumento dos preços internacionais e ao câmbio ainda favorável ao comércio exterior brasileiro. As exportações acumuladas nos primeiros dois meses de 2022 somam US$ 36 milhões. Esta é uma cifra pequena, comparada com o valor da produção brasileira de lácteos, mas representa avanço de 152% sobre os US$ 14 milhões registrados nos primeiros dois meses de 2021. As importações, por sua vez, caíram 58% neste período, somando US$ 108 milhões. O déficit da balança de lácteos alcançou US$ 71 milhões, uma redução de mais de 70% sobre o acumulado nos primeiros dois meses de 2021.

Os preços de derivados lácteos no Brasil continuaram a aumentar no atacado durante o mês de fevereiro, sinalizando algum alívio para a indústria, que tem trabalhado com margens apertadas e capacidade ociosa. O preço ao produtor alcançou R$ 2,15 em fevereiro, um pequeno aumento sobre o mês anterior. O leite no mercado spot, no entanto, alcançou o maior valor em seis meses em Minas Gerais: R$ 2,54, sinalizando que há espaço para aumento do preço pago ao produtor.

Ainda que o produtor receba mais pelo valor do seu produto, suas margens também continuam estreitas, por conta do aumento do preço de importantes insumos para a produção do leite. Milho e soja registraram forte valorização devido a quebra da safra de Verão que ocorreu por conta de problemas meteorológicos em especial no sul brasileiro. Além disso, a demanda firme e a oferta apertada, por conta da Guerra, têm mantido o preço destas commodities em alta.

Do ponto de vista do consumidor a situação é de cautela. A renda média do brasileiro caiu e ainda não retornou aos patamares pré-pandemia. A nova realidade da guerra é um complicador adicional para a economia, por conta da inflação mundial que repercute também no Brasil. No entanto, alguns dados atenuam este cenário. Desde o início de 2022 a entrada de recursos estrangeiros para investimentos se intensificou no Brasil e o real se apreciou em mais de 10% no período, em relação o dólar. A bolsa de valores também se valorizou nas últimas semanas, antecipando a perspectiva de crescimento da economia nacional, cuja previsão acaba de ser revisada de 0,3% para 0,4% pelo Banco Central. É um crescimento tímido, mas o viés de alta é positivo. O programa governamental de ajuda às famílias de baixa renda, o Auxílio Brasil, também pode alavancar o consumo de lácteos. Investimentos contratados pelas concessões de rodovias, portos, aeroportos e ferrovias somam mais de R$ 1 trilhão e este é mais um fator que pode impulsionar a economia brasileira e o poder aquisitivo da população.

Por fim, é importante lembrar que março é o mês da mulher. Vale ressaltar a importância da mulher como impulsionadora do consumo de lácteos. Estudos da Embrapa Gado de Leite mostram que as mulheres consomem mais leite fluido e iogurte que os homens, respondendo por um consumo médio de lácteos anual 7% superior aos homens. Parabéns a todas as mulheres, em especial àquelas do agronegócio do leite!

Fonte: Embrapa Gado de Leite

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Leite/Cepea: Depois de subir ao longo de 2024, preço ao produtor deve encerrar ano em queda
Embrapa Gado de Leite: Custo de produção de leite cresce pelo sétimo mês seguido
Gadolando projeta avanços no setor em 2025 com entrada de lei em vigor
Sindilat apoia investigação de dumping no leite
Guarapuava (PR) recebe unidade de laticínios da Coamig Agroindustrial
MDIC abre investigação de dumping contra o leite em pó importado após solicitação da CNA
undefined