Nota sobre os altos custos de produção do leite
Tendo em vista a nota divulgada pelo Conselho Nacional da Indústria de Laticínios, na última sexta-feira (23), a Comissão Técnica de Pecuária de Leite da FAEMG entende como fundamental esclarecer algumas informações acerca do processo produtivo de leite e seus custos em Minas Gerais.
A importância e a expressividade econômica, social, ambiental e cultural do sistema agroindustrial do leite e derivados para Minas são aspectos amplamente reconhecidos e em todo e qualquer fórum de discussão relacionado ao desenvolvimento do agronegócio do estado.
Dados do IBGE (2019) indicam que Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil, com a participação de 27,1%, o que corresponde a 9,4 bilhões de litros produzidos e 1,2 milhões de trabalhadores diretos. Em 2020, o valor bruto da produção da atividade leiteira, em Minas, foi de 21,4 bilhões.
Além de ser o principal estado na produção leiteira, Minas Gerais possui, ainda, experiência positiva na implantação do Conseleite-MG, fórum que discute e avalia o valor de referência pago ao produtor pelo litro de leite. É consenso entre os participantes, segmentos produtivo e industrial de lácteos, que o Consleite-MG possibilita maior transparência nas negociações comerciais, estreitamento no pacto de compromissos estabelecidos, formalização de contratos de compra e venda, e harmonização de ganhos em toda a cadeia de valor de leite e derivados.
Apesar disso, os altos custos de produção observados têm desafiado os produtores de leite, que estão trabalhando com margens estreitas ou mesmo negativas em alguns períodos. São anos de custos em alta e com forte elevação registrada nos últimos meses. Segundo dados do Índice de Custos de Produção de Leite – ICPLeite/Embrapa, calculado pela Embrapa Gado de Leite, o incremento nos últimos 12 meses foi de 39,4%, com destaque para alta nos custos de alimentação e suplementação animal, sendo 68,25% e 48,74 respectivamente.
Por fim, a sustentabilidade da atividade leiteira demanda produção associada à preservação de recursos naturais, viabilidade econômica, respeito aos direitos sociais e segurança que envolve o fornecimento de alimentos com qualidade e quantidades necessárias.
Neste panorama, com a manutenção dos altos custos, a tendência é de desmotivação por parte dos produtores em investir na atividade, o que pode ocasionar o abandono por parte do produtor.
Assim, compreendendo as dificuldades enfrentadas pelos diversos elos da cadeia produtiva de leite em Minas Gerais, a Comissão de Leite da FAEMG reforça seu constante interesse no diálogo e na transparência das relações, colocando-se à disposição para discussões, inclusive utilizando-se de reuniões extraordinárias do Conseleite-MG, se for o caso.
*Eduardo de Carvalho Pena é presidente da Comissão Técnica da Pecuária Leiteira da FAEMG.