Reflexos da estiagem gaúcha devem impactar novamente mercado do leite
Os desafios enfrentados pela cadeia láctea foram debatidos na noite deste dia 18 de novembro no debate sobre Mercado Lácteo, no evento virtual "Agropauta Web Talks", promovido pela AgroEffective. Participaram o presidente da Associação das Pequenas e Médias Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul, Delcio Giacomini, o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, o economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Tarcísio Minetto, e o presidente do Conseleite/RS e assessor da Farsul, Rodrigo Rizzo.
Apesar de uma alta no preço do leite ao produtor ao longo do ano, que vem desacelerando neste momento, não houve uma compensação ao menos para os criadores de gado leiteiro do Rio Grande do Sul. A estiagem que assolou o Estado no início do ano e que agora novamente se avizinha ligam o sinal de alerta de toda a cadeia produtiva, especialmente com a falta de alimentação e aumento dos custos já sentidos. Além disso, a questão tributária e as importações também vem pressionando a cadeia.
Segundo Giacomini, quando se fala insumos, as pequenas e médias indústrias também tem sofrido com a alta dos custos de produção. A pandemia também foi determinante para as empresas, especialmente no início. "Também precisamos trabalhar com margens. Também estamos preocupados com o produtor no campo que produz esse leite. A pandemia atrapalhou nossa margem que já era pouca, mas estamos trabalhando com a conscientização para incentivar o produtor. De que forma incentivar o produtor? Pagando bem. Pois sem o leite do produtor não temos indústria", ressaltou.
Tang reforçou que o produtor já veio de uma estiagem anterior e que agora deve amargar um novo cenário de prejuízos. Para sobreviver a estas adversidades, o dirigente reforçou que é preciso que haja uma margem de lucro para planejamento. "Sem comida não tem como a vaca ficar viva imagina produzir leite. O leite é uma atividade de médio e longo prazo. O produtor já se profissionalizou. O produtor que não defende qualidade e sanidade como pré-requisitos, estará fora do mercado. Só que ele tem que ter o mínimo lucro. Por mais que a gente ame nossa atividade, ele não pode trabalhar com uma margem mínima de lucro. E tem muito produtor que está trabalhando no vermelho há muito tempo", ponderou.
Já Minetto explanou que o mercado é preocupante no sentido de que em algumas regiões produtores já consolidam expressivas perdas no milho, o que deverá dificultar o acesso à ração. "Pelo cenário, houve um momento interessante até o final de setembro e depois os preços começaram a sinalizar uma tendência de queda. Ainda por cima esta estiagem deixa o cenário complexo. Em algumas regiões do Noroeste gaúcho já temos perdas de 70% a 80% e esse milho não pode nem ser aproveitado para a ração animal. E já vinha uma composição fraca de alimentação com a silagem desde a safra passada e agora se agrava", destaca.
Rizzo lembrou a pandemia também impactou no aumento de custos de produção ao produtor, fato já consolidado, mas que o produtor deve ter o ensinamento de administrar o futuro com as informações para ter um planejamento na propriedade. Analisou também que, em relação à estiagem, se o alimento não chegar para os animais, a conversão para o leite ficará mais difícil. "Todas estas dificuldades, em termos das nossas pastagens e também do milho e da soja que complementam a alimentação dos animais, se agravam com a seca. Se não tivermos milho ou soja para oferecer aos nossos animais viveremos dentro de um quadro complicado", frisou.