Embrapa Gado de Leite: leite está em alta, mas novembro pode trazer reversão de preços pagos ao produtor
De acordo com informações do Centro de Inteligência do Leite, da Embrapa Gado de Leite, no cenário internacional, a pandemia teve impacto no setor leiteiro, em forma e intensidade diferentes, dependendo da região. Mas este impacto, no entanto, foi menor do que se esperava no início da crise. Houve desvalorização das moedas em praticamente todos os países, com redução nos volumes importados. Após um 2019 em que a produção mundial teve o menor crescimento já registrado, a expectativa é de que volte a crescer a taxas maiores em 2020 e com preços ao produtor retornando ao patamar médio dos últimos cinco anos (US$ 0,30/litro).
No caso do Brasil, os preços ao produtor que, historicamente ficaram ao redor de 10% acima dos patamares internacionais, entre junho de 2019 a junho de 2020 inverteram de posição (Fig. 1). Essa situação fez com que os volumes importados registrassem queda de 36% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado.
Entretanto, nos três últimos meses (julho a setembro), os preços apresentaram expressiva alta, chegando a R$ 2,13/litro em setembro, 59% acima da média observada entre 2015 a 2019. Essa valorização aconteceu também no mercado Spot e em intensidade ainda maior. Neste cenário, mesmo com a desvalorização do real, as importações ficaram mais competitivas, resultando em um aumento de 66% nos volumes importados de julho a setembro em relação ao mesmo período de 2019.
Pelo lado da produção, o preço da mistura milho e farelo de soja (70%+30%), que nos últimos cinco anos ficou em R$ 0,91/kg (média), subiu 38% chegando a R$ 1,25/kg. Esta valorização foi puxada pelos aumentos de 52% no preço do milho e de 26% no do farelo de soja, em relação as médias históricas corrigidas pelo IPCA. A alimentação animal mais cara elevou os custos enfrentados pelos produtores, no entanto suas margens foram compensadas por uma valorização proporcionalmente maior dos preços recebidos pelo leite. Em setembro, considerando uma proporção de um quilo de concentrado para a produção de três litros de leite, a mistura custou R$0,42/litro de leite produzido. O valor remanescente para pagar os demais custos da atividade foi R$ 1,71/litro, 65% acima do valor histórico de R$ 1,04/litro.
No atacado, o preço do leite UHT veio subindo desde abril chegando em setembro em R$ 3,71/litro, 35% acima da média dos últimos cinco anos (R$ 2,76/litro). No varejo fechou setembro em R$ 4,36/litro, 22% acima da média dos últimos cinco anos (R$ 3,57/litro).
Os preços ainda firmes dos lácteos em setembro devem refletir em uma pequena alta nos preços médios pagos aos produtores neste mês de outubro. Entretanto, o momento atual para o atacado é mais complicado, pois as negociações estão acirradas com o varejo que busca recompor suas margens. Esse quadro já resultou em quedas próximas a 10% nos preços do UHT e do queijo muçarela ao longo do mês, refletindo também em recuo ainda mais intenso no mercado Spot.
Nesse cenário, em novembro pode acontecer uma reversão nos preços pagos aos produtores. O ponto de alerta é que este segmento deve conviver por mais algum tempo com preços do milho e farelo de soja bastante valorizados. Somente no decorrer deste mês de outubro, esses dois produtos já registraram aumentos de 20% a 25% em relação ao final de setembro e os valores negociados no mercado futuro indicam valorizações ainda maiores para os próximos meses.