Tendência é de estabilidade para o mercado do leite, mesmo em período de entressafra
Mesmo em época de entressafra nas principais bacias leiteiras do país, a tendência é de estabilidade no mercado de leite, conforme explica a analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila. Segundo ela, o que impede que mercado suba nesta época é a maior oferta de leite spot.
De acordo com a analista, devido à quarentena, e mesmo com medidas de flexibilização no funcionamento de comércios, cadeias de foodservice, os produtos de maior valor agregado, como queijos, requeijões e iogurtes, tiveram seu consumo afetado.
"Na primeira quinzena de abril houve mais oferta de leite spot dos laticínios e cooperativas menores, que trabalham mais com este tipo de produto, e esse leite foi canalizado para laticínios maiores para produção majoritária de leite UHT e em pó".
No momento, os preços pagos ao produtor estão pressionados, e a analista explica que, caso esse cenário persista, no médio prazo pode haver pressão de baixa.
"Considerando a média nacional, 18 estados que a gente acompanha, em março referente ao leite entregue em fevereiro, o preço pago ao produtor foi de R$ 1,28 o litro sem o frete, alta de 0,9% em relação ao pagamento anterior. Estamos observando alta, mas mais comedida em relação a outras quinzenas".
A captação, apesar deste cenário, tem ocorrido normalmente, de acordo com Juliana. O que vem influenciando o volume é o período de entressafra. Ela afirma que é normal ter menos leite no campo, e o clima diverso em várias regiões, principalmente no sul do país, que teve uma seca muito severa, acabou prejudicando a produção de leite. Ela aponta também a alta nos custos de produção, principalmente milho e farelo de soja, como fatores que contribuem para a menor oferta.
"Em geral, a produção caiu mais intensamente no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, e começou a diminuir com menor ritmo em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, porque teve um período de chuva um pouco tardia que acabou dando um pouco mais de fôlego nas pastagens".
Sobre a demanda, ela explica que para o ano de 2020 a expectativa era positiva, devido à melhora na economia, mas com a retração na economia por causa da pandemia do coronavírus, os produtos com maior valor agregado foram os que mais sofreram.
"O leite faz parte da alimentação da população. Sobre o UHT, não acreditamos que vai ter redução no consumo. A demanda pelo UHT está estabilizada, na primeira e segunda semana de março, quando começou a quarentena, houve corrida aos supermercados e teve alta de preços intensa".
Passada essa euforia, e as pessoas passaram a ir mais compassadamente no mercado, a analista conta que o leite UHT na segunda quinzena de abril estava com preço médio de R$ 2,64/litro no atacado, queda de 4,6% em relação à quinzena anterior. "Isso mostra que a população está abastecida, comprando paulatinamente, não mais fazendo grandes estoques".
Com relação aos custos de produção, os valores vêm subindo nos últimos seis meses, o que aperta a margem de lucro do produtor. Segundo Juliana, ainda que os preços pagos ao produtor tenham aumentado, os custos de produção, principalmente gastos com milho e farelo de soja, subiram em proporção maior.
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