Leite ao produtor: Incertezas diante de coronavírus crescem e podem pressionar valores em maio
Pesquisas em andamento do Cepea indicam que, na “Média Brasil”, o preço do leite ao produtor em abril (referente à captação de março) deve manter a tendência de alta. Já o valor do leite captado em abril, que, por sua vez, será pago em maio aos produtores, pode se enfraquecer, pressionado por incertezas relacionadas à crise do coronavírus.
Os impactos no consumo de lácteos se deram a partir de 17 de março, quando a pesquisa diária do Cepea, realizada com o apoio financeiro da OCB, registrou choque de demanda para o leite UHT. Redes atacadistas e varejistas intensificaram a procura pelo derivado, diante da forte demanda de clientes, que queriam fazer estoques por conta das recomendações de isolamento em decorrência da pandemia de coronavírus. Com a menor disponibilidade do produto, o preço médio do UHT registrou forte alta 22,7% na segunda quinzena de março e de 24,8% no acumulado do mês .
Por outro lado, com fechamento de redes de serviço e alimentação, o consumo de lácteos refrigerados como queijos foi muito prejudicado. A pesquisa diária do Cepea mostrou que o preço médio da muçarela recebido pelas indústrias em negociações no estado de São Paulo teve queda acumulada de 0,97% em março. Ressalta-se que dificuldades no escoamento de queijos colocam em risco o faturamento de pequenas e médias indústrias – algumas, inclusive, já paralisaram suas atividades e suspenderam a compra de leite no campo em regiões onde o sistema agroindustrial do leite é menos desenvolvido.
Mesmo com o desempenho ruim da muçarela, o leite spot (negociado entre indústrias) havia registrado alta nas duas quinzenas de março, ficando, na média, quase 5% maior do que em fevereiro em Minas Gerais. Assim, o pagamento ao produtor em abril deve se manter na tendência altista.
No entanto, a fragilidade do mercado de queijos e a instabilidade do consumo geraram um efeito em cadeia, levando a queda no preço do leite spot. Em Minas Gerais, o preço médio do leite spot caiu 7,3% e 11,7% nas primeira e segunda quinzenas de abril, respectivamente. A elevada incerteza da atual conjuntura tem impactado a decisão dos agentes em recompor estoques, dado o contexto em que não há boas perspectivas para o consumo de longo prazo, devido à diminuição da renda da população. A pesquisa diária do Cepea mostrou que, de 1º a 15 de abril, os preços médios do UHT e da muçarela registraram quedas acumuladas de 4% e de 4,2%, respectivamente.
MAIO
As negociações em queda dos derivados e do spot durante abril indicam um cenário ruim para o preço ao produtor de maio. As indústrias lácteas poderão se deparar, em poucas semanas, com um cenário de baixo faturamento, o que certamente será transmitido aos produtores. Ao mesmo tempo, a queda na receita dos produtores num momento de alta nos custos de produção e próximo ao período típico de entressafra no Sudeste e Centro-Oeste pode refletir em aumento do abate de fêmeas e na saída de produtores da atividade. Assim, o momento é delicado, pois privilegia decisões focadas no curto prazo, o que pode trazer consequências negativas no longo prazo – ainda mais para uma atividade tão complexa quanto a produção de leite.
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