StoneX: Cacau avança na semana, com oferta global no foco dos agentes

Publicado em 07/09/2023 12:10

As cotações dos contratos futuros de cacau com segundo vencimento mais próximo (dezembro/23) apresentaram recuperação e avançaram na última semana. Na bolsa de Nova Iorque (ICE/US), o contrato com vencimento em dezembro começou a semana cotado a US$ 3.357/ton, apresentou valorização de 2,7% e encerrou o pregão da última sexta (18) precificado em US$ 3.449/ton. O contrato futuro equivalente na bolsa londrina (ICE/Europe), por sua vez, apresentou uma alta ainda mais expressiva durante o período, valorizando-se 3,1% e saindo de GBP 2.637/ton para GBP 2.720/ton entre os dias 11 e 18.  Nesse período, observou-se uma queda de 1,4% para o índice de preços futuros de commodities do Commodity Research Bureau (CRB), enquanto o Dollar Index ganhou força e avançou 0,5%.  

Na última semana, foram relatadas chuvas abundantes nas principais regiões produtoras de cacau da Costa do Marfim, de modo que o clima tem beneficiado o desenvolvimento dos frutos que serão colhidos durante a próxima safra principal. Nos últimos dias, foi reportada também uma maior incidência solar nas lavouras, o que ajuda tanto no processo de secagem das amêndoas quanto na melhoria da qualidade das vagens que ainda estão nas árvores. De acordo com produtores locais, caso haja a combinação ideal de chuvas e incidência solar no próximo mês, os cacaueiros devem produzir frutos de alta qualidade pelo menos até janeiro.

Contudo, apesar das perspectivas iniciais para a próxima temporada serem positivas graças ao clima favorável, o mercado mantém-se altista com as projeções de um terceiro déficit global da amêndoa em sequência. A Organização Internacional de Cacau (ICCO, na sigla em inglês) divulgou em seu último relatório trimestral que a produção ganense — a segunda maior — chegaria a 750 mil toneladas de cacau, no entanto, participantes do mercado a que o volume deve ser menos expressivo que o previsto pela instituição. Assim, com as entregas decepcionantes na Costa do Marfim e em Gana reportadas nas últimas semanas, o déficit pode ser ainda maior do que se imaginava, de modo que os temores relativos à oferta da commodity continuam a sustentar suas cotações. 

Nesse sentido, contribui para a alta do cacau observada na semana os dados econômicos positivos divulgados para a zona do euro, importante mercado consumidor da amêndoa. De acordo com o Serviço de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), o índice de preços ao consumidor (CPI) da zona do euro recuou 0,1% no comparativo mensal em julho, de maneira que o resultado de 12 meses teve desaceleração e ficou em 5,3%, ambos os valores vieram de acordo com a mediana das estimativas. Para o núcleo do indicador — que exclui os preços mais voláteis como alimentos e energia — houve também uma queda mensal de 0,1%, mas no resultado relativo aos últimos 12 meses a inflação manteve-se estável, ficando em 5,5%. 

Os dados da inflação foram divulgados na mesma semana que o PIB do segundo trimestre na região, o qual teve avanço de 0,3% em relação aos três primeiros meses do ano. Como a Europa se trata do principal mercado consumidor da amêndoa, os dados sinalizando maior controle do avanço inflacionário na zona do euro e uma economia em recuperação dão fôlego aos investidores, uma vez que os derivados do cacau são considerados bens discricionários — isto é, bens cujo consumo é afetado mais que proporcionalmente por restrições orçamentárias às famílias — e o maior otimismo com a economia da região tende a sinalizar positivamente para a demanda pela commodity. Contudo, vale destacar que a inflação acumulada em 12 meses para o chocolate e produtos achocolatados segue em avanço, o que segue como ponto de atenção.

CONSUMO DO CACAU TENDE A DESACELERAR NA PRÓXIMA TEMPORADA

Em meio à escalada, a indústria cacaueira vem buscando realizar movimentos comerciais no sentido de tentar reduzir os custos na produção de chocolates, ou mesmo passá-los aos consumidores para recuperar parte de sua margem, mas estes últimos já dão os primeiros sinais de recuo do consumo de tais produtos. Apesar de os preços do cacau terem testado suas máximas nos últimos meses, a demanda por chocolates se mostrou resiliente — o que se explica pelos novos hábitos de consumo de snacks herdado do período de isolamento — e manteve-se em alta durante o período. No entanto, o aumento considerável dos custos à indústria devido à escalada de preços tanto do açúcar quanto do cacau levou as firmas a buscar maneiras de baratear suas atividades, de forma que, recentemente, as empresas do setor realizaram mudanças como diminuição do tamanho das barras de chocolate, alterações na proporção de subprodutos usados e outros ajustes nas receitas e, assim, a tendência é de que os produtos no futuro sejam menores e usem menos manteiga de cacau na sua composição, com preferência pelo uso do pó de cacau, derivado de menor valor.

Dessa forma, entende-se que o uso do pó pode se tornar um fator de maior relevância para guiar o processamento de cacau no futuro. 

No último trimestre, foi reportado um recuo do esmagamento de cacau na Ásia, América do Norte e Europa, o qual foi compensado em partes por aumentos da moagem em outras regiões do globo e maior uso dos estoques de derivados construídos durante o período de isolamento, o que resultou numa queda menor que o esperado das vendas do varejo. Contudo, é esperado que a safra 2023/24 apresente uma desaceleração ou estagnação do consumo em reação ao aumento dos preços dos insumos. Após os consumidores nos Estados Unidos e na Europa observarem altas expressivas dos preços de chocolates nos últimos dois anos, a aquisição de chocolates e outros derivados da amêndoa deve cair em algumas regiões, com agentes do varejo já diminuindo seus pedidos.  

Esta dinâmica já pode ser observada nos resultados de algumas companhias do setor. Nesse sentido, a Hershey, uma das principais empresas do ramo, viu seu volume de vendas desacelerar conforme aumentava os preços de seus produtos, o que resultou em queda de 2,7% no segundo trimestre desse ano, ao passo que foi registrado um aumento de 5% para a receita no mesmo período. A Barry Callebaut, por sua vez, registrou uma queda de mesma magnitude das vendas para o período compreendido entre setembro de 2022 e maio deste ano, mas com aumento menos expressivo da receita, a qual apresentou alta de 3,6%. De acordo com a CEO da Hershey, Michele Buck, a empresa deve anunciar mais altas de preços em 2023 e em 2024, de forma que os aumentos mais substanciais serão realizados ainda neste ano. 
 

Fonte: StoneX

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