Novo inseto-praga do maracujazeiro-azedo no estado do Acre
A cultura do maracujazeiro-azedo no Brasil gera emprego e renda ao produtor rural. No entanto, várias espécies de ácaros e insetos estão associadas à cultura, podendo gerar perdas econômicas expressivas. O conhecimento acerca desses organismos é o primeiro estágio no estabelecimento de estratégias de controle eficientes e racionais. A descoberta de novas pragas em qualquer cultivo agrícola deve ser amplamente divulgada, a fim de que os produtores possam reconhecê-las em seus plantios. Nesse sentido, é importante divulgar a espécie de besouro conhecida popularmente como “besouro-da-flor-do-maracujazeiro”, o qual vem se alastrando em plantios comerciais de maracujazeiro-azedo no estado do Acre.
De acordo com dados do IBGE, para o ano de 2020, o estado do Acre possuía cerca de 139 hectares plantados com maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis, Passifloraceae), com rendimento médio de 7,8 toneladas por hectare. Os municípios de Senador Guiomard, Rio Branco e Plácido de Castro, juntos, respondem por 67% da área plantada do estado. A cultivar BRS Gigante Amarelo é uma das recomendadas para o Acre por sua produtividade e qualidade dos frutos e foi obtida a partir de melhoramento genético desenvolvido pela Embrapa Cerrados.
O caráter social da cultura do maracujazeiro é de grande relevância, visto que é uma fruteira cultivada predominantemente por produtores familiares em pequenas áreas (de 1 a 4 hectares) e promove a geração de empregos, absorção e fixação de mão de obra no meio rural.
Apesar da importância da cultura, no Brasil, o cultivo dessa fruteira enfrenta problemas de ordem fitossanitária, gerando prejuízos econômicos aos produtores. Um numeroso complexo de insetos e ácaros, associado ao cultivo da cultura, pode causar severos danos econômicos e comprometer essa atividade agrícola, dependendo dos níveis populacionais. As lagartas-desfolhadoras e os percevejos-sugadores são as principais pragas do maracujazeiro no Brasil.
Em agosto de 2019 foi realizada uma visita técnica a um plantio comercial de maracujazeiro cultivar BRS Gigante Amarelo, no município de Senador Guiomard, objetivando avaliar o elevado índice de abortamento de flores, mesmo com aplicações periódicas de produtos fitossanitários.
Em um caminhamento no plantio, algumas flores foram coletadas e abertas, sendo verificada a presença de pequenos besouros em seu interior, com média de seis insetos por flor. Os insetos foram coletados, acondicionados em frasco de vidro contendo álcool etílico (70%) e
identificados por um especialista.
Os besouros foram identificados como Conotelus luteicornis Erichson, um coleóptero (besouro) pertencente à família Nitidulidae. Os adultos dessa espécie medem aproximadamente 4,0 mm de comprimento e possuem o corpo alongado e coloração escura. O gênero Conotelus abriga 25 espécies de besouros nativos do continente americano. As espécies comumente alimentam-se de frutos em decomposição, sucos fermentados de plantas, fungos e algumas vivem em flores. No Brasil, há registros de espécies desse gênero em plantas das famílias Marantaceae, Solanaceae, Asteraceae e Passifloraceae.
Em 2016, no estado de Rondônia, besouros do gênero Conotelus foram registrados associados ao maracujazeiro, mas sem a identificação da espécie. No estado do Ceará, outro representante dessa família, Brachypeplus sp. (Coleoptera: Nitidulidae), foi registrado infestando flores de maracujazeiro, sendo encontrados mais de 100 insetos em uma única flor. O ataque desses besouros às flores do maracujazeiro ocorre nas sépalas, pétalas e corola. Ao se alimentarem, os besouros perfuram a base das sépalas até atingir o ovário da flor, causando o abortamento floral. Como consequência, os frutos que não caem ficam deformados e escurecidos. Ademais, as injúrias causadas por esses insetos podem servir como porta de entrada para patógenos oportunistas.
Segundo relatos de produtores do estado de Rondônia, o ataque desses insetos em plantios comerciais de maracujazeiro ocasionou perda econômica de até 80% na produção. Apesar do potencial danoso para a cultura, por se tratar de uma praga ainda pouco conhecida, ainda não há métodos de controle estabelecidos. Porém, recomenda-se realizar a limpeza do plantio para eliminar todo material que possa servir de abrigo ao inseto, como flores secas e flores e frutos abortados. Essas medidas devem ser intensificadas durante a época chuvosa, devido à maior ocorrência da praga nesse período. Não há inseticida registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle do besouro-da-flor-do-maracujazeiro no Brasil. No entanto, pesquisas internacionais sugerem o emprego de inseticidas à base de fosforados, carbamatos e piretroides para o controle desse inseto, desde que possam ser registrados para essa espécie e para a cultura do maracujazeiro.