Hortifruti: Onda de calor pode afetar a produção de frutas e hortaliças?

Publicado em 06/10/2020 07:56 e atualizado em 06/10/2020 09:47

Uma intensa onda de calor tem atingido quase todo o País desde os últimos dias de setembro, com temperaturas máximas chegando a bater 40ºC. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a presença de uma massa de ar seco sobre o interior do Brasil intensificou o clima quente e afastou a possibilidade de chuvas neste início de outubro, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste.

E, apesar da leve trégua do calorão no último fim de semana (03 e 04/10), as temperaturas devem voltar a subir nos próximos dias, com previsão de recordes em várias cidades do País – segundo a Climatempo, máximas entre 37°C e 43°C devem ser observadas em estados de todas as regiões brasileiras. Já a partir da segunda quinzena deste mês, pancadas de chuva devem ser mais regulares no centro-sul do Brasil, impedindo que as temperaturas se elevem significativamente.

Se por um lado o calor beneficia o consumo de HF, especialmente das frutas, por outro, acelera a maturação e eleva a oferta no mercado – podendo, ainda, prejudicar a produção. Confira um resumo quanto aos efeitos do clima, por produto, elaborado pela equipe Hortifruti/Cepea:

FRUTAS

BANANA – O calor e a seca afetaram a produção nas regiões de nanica, causando estresses hídrico e térmico nos bananais e impactando no desenvolvimento dos cachos – vale destacar que, em algumas localidades, como no Vale do Ribeira (SP), o cultivo ocorre em sequeiro. Quando se trata das regiões de prata, o clima refletiu em aceleração da maturação da fruta. No caso desta variedade, que é mais resistente ao calor, a produção ocorre em regiões com irrigação. Por isso, o clima ainda não resultou em grandes problemas, mas a permanência do calor pode gerar estresse nos bananais.

CITROS – A seca no estado de São Paulo está prejudicando a safra atual (2020/21), podendo impactar também a próxima. Na atual, o principal problema é a limitação no tamanho dos frutos, que estão miúdos, além da qualidade (murchos e cristalizando). Por conta do baixo calibre, o volume total colhido pode ser alterado. Para a indústria, o cenário também é problemático, não apenas pelo menor volume, mas porque o baixo calibre reduz a eficiência de extração de sucos e de óleos. Quanto à próxima safra 2021/22, há preocupações quanto ao volume produzido, visto que as floradas foram adiantadas (meados de julho), e seguidas de um período de estiagem. Assim, o pegamento destas flores pode ser prejudicado. Outro impacto importante é o aumento da população de psilídeos. Vale lembrar que, no caso da região sudoeste paulista (Avaré, Botucatu e região), o cenário é menos intenso, devido à presença de chuvas mais regulares. Para a lima ácida tahiti, o clima atual pode resultar em baixo calibre e amarelamento das frutas.

MAÇÃ – Até o momento, a onda de calor não prejudicou a produção, tendo em vista que as chuvas têm sido mais frequentes nas áreas de macieiras, que estão em fase inicial de floradas. No entanto, o clima tem sido instável no Sul, com registro de chuvas de granizo em algumas praças, o que preocupa produtores locais.

MAMÃO – As maiores temperaturas adiantaram a maturação em algumas roças de mamão, principalmente de havaí. Além disso, em lavouras que enfrentavam problemas com a desfolha (ácaros), a fruta ficou mais exposta ao sol e houve relatos de queimas e manchas.

MANGA – A safra em Monte Alto/Taquaritinga (SP) está em período de desenvolvimento, mas o clima na região preocupa produtores. No que diz respeito às floradas, a tommy teve desempenho satisfatório, mas para a palmer, muitas plantas vegetaram ao invés de florir. Para agravar a situação, o regime hídrico nesta praça está abaixo da média há alguns meses, o que pode prejudicar a produtividade dos pomares – que, em sua maioria, são cultivados em sistema de sequeiro. Com a falta de chuvas e as altas temperaturas, colaboradores do Hortifruti/Cepea têm relatado que a maioria das frutas está miúda, mas já amadurecendo. Neste cenário, a comercialização das primeiras frutas de SP pode ocorrer já no próximo mês, mas há dúvidas quanto à aceitação do mercado, diante do baixo calibre. Quanto às questões fitossanitárias, ainda que os menores volumes de chuva tenham amenizado os focos de bacteriose, aumentaram a incidência de tripes na região.

MELANCIA – A colheita de melancias da safra principal (2020/21) de Marília/Oscar Bressane (SP) deve começar no início de outubro, se intensificando a partir da segunda quinzena do mês, segundo colaboradores do Hortifruti/Cepea. No entanto, a falta de chuvas pode impactar na temporada, visto que as precipitações estão abaixo da média no estado há alguns meses, cenário acompanhado por altas temperaturas na maior parte do tempo. Produtores comentam que o custo de produção tende a se elevar, dada a maior necessidade de irrigação. Já os que cultivam no sistema de sequeiro podem obter menor produtividade.

MELÃO – Em termos de produção, ainda não houve grande impacto à cultura do melão, pois as principais regiões produtoras ficam no Nordeste e investem em irrigação. Em termos de consumo, as elevadas temperaturas podem ser benéficas, já que elevam a procura por frutas refrescantes.

UVA – Os reflexos do clima atual não devem ser significativos à produção de uva, pois a maioria das áreas possui irrigação. A seca e o calor têm beneficiado a qualidade (frutas mais doces) e a sanidade (menos doenças), porém aumentaram a incidência de pragas (não em quantidade significativa). Um ponto positivo é que o inverno ameno permitiu manter o calendário de podas nas regiões que colhem no final do ano, não sendo previstos atrasos – diferentemente do que tem ocorrido em anos recentes em algumas praças do Sul e do Sudeste.

HORTALIÇAS

ALFACE – O clima quente e seco favoreceu a proliferação de pulgão nas roças de São Paulo, mas a infestação foi controlada e não houve dano significativo em termos de oferta. Apesar de o calor contribuir para um possível aumento no consumo, há grande preocupação quanto à irrigação, que pode prejudicar a qualidade dos pés e limitar o transplantio no médio prazo.

BATATA – Na maior parte das regiões, o forte calor e as altas temperaturas têm prejudicado a produção. Até o momento, os maiores problemas estão relacionados à qualidade (escurecimento e má formação da pele) e à produtividade (já que a planta acaba vegetando mais e acumula menos reserva). Embora as áreas sejam irrigadas, a baixa umidade relativa do ar e o forte calor acabam afetando a fisiologia da planta. Com o encurtamento do ciclo, devido às altas temperaturas, a colheita é acelerada para evitar a perda de qualidade – e, por isso, o ritmo tem sido intenso desde setembro. Quanto à irrigação, ainda não há relatos de falta d’água, mas produtores estão receosos. De forma geral, para as áreas em início e meio de desenvolvimento, ainda não houve impacto significativo – mas, principalmente no Sul, onde a maior parte das áreas não são irrigadas, a escassez de chuva pode ser prejudicial.

CEBOLA – O calor prejudicou a finalização da colheita no Cerrado (Minas Gerais e Goiás). Além disso, as altas temperaturas adiantaram a colheita e causaram o "ressecamento" da casca do bulbo, reduzindo a qualidade.

CENOURA – O calor não afetou as áreas que estão sendo colhidas e nem o desenvolvimento (as produtividades permanecem crescentes). Entretanto, a permanência da onda de calor pode começar a prejudicar a produção em algumas praças.

TOMATE – A maturação vem sendo acelerada pelo calor, mas, até o momento, não há severos impactos na formação dos frutos (por danos fisiológicos). Caso o clima permaneça nestes moldes, problemas poderão ocorrer, inclusive falta d’água para irrigação e aumento da incidência de pragas (sendo que, neste segundo caso, produtores já têm relatado a ocorrência).

Fonte: Cepea/Hortifruti

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