HF's fora do padrão são deixados de lado na quarentena
Em meio à quarentena, a comercialização de hortifrútis fora dos padrões estéticos exigidos pelo mercado (seja em termos de calibre, coloração ou deformação) está sendo ainda mais dificultada. Isso porque estes produtos perdem valor comercial, já que os consumidores ainda têm certa relutância em adquiri-los, resultando em descarte e, consequentemente, em desperdício de alimentos.
Os HF's com problemas estéticos, até então, eram escoados para mercados institucionais (como merenda escolar) e food service, serviços que estão paralisados ou com a capacidade bastante reduzida desde que as medidas de isolamento social se instalaram no Brasil. Neste cenário, produtores temem que as perdas se elevem ainda mais, já que o único canal de escoamento tem sido o varejo tradicional, onde a demanda já não era positiva para estes produtos.
PROBLEMA ANTIGO – A cada ano, mais de 1,3 bilhão de toneladas de comida é desperdiçada ou se perde no decorrer das cadeias produtivas de alimentos, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). E mais! Entre 20% e 40% dos alimentos colhidos anualmente são descartados antes mesmo de chegar ao consumidor final, devido a um único motivo: não atender aos padrões estéticos exigidos pelo mercado.
Destaca-se, contudo, que estes produtos possuem o mesmo valor nutricional de suas versões com formato, cor e calibre tradicionalmente desejados pelos consumidores. Além disso, em tempos de dificuldades financeiras, podem ser boas opções de compra, já que os preços, normalmente, são inferiores aos de "melhor" padrão.
Para os produtos acompanhados pelo Hortifruti/Cepea, o escoamento para alguns calibres e padrões está limitado desde o início da pandemia, principalmente para batata, cenoura, maçã e tomate.
BATATA – A diversa (categoria com "defeitos", como casca escura e rachaduras) é a que tem sido mais afetada pela quarentena, já que era destinada aos mercados institucional e food service. A de primeira (que seria uma especial de tamanho inferior), apesar de estar se saindo bem nos mercados do Sul e Sudeste, registra menor saída no Nordeste, já que é destinada às feiras livres, que também enfrentam dificuldades de funcionamento.
CENOURA – Os tipos A (fino) e G (grande) têm sido os mais prejudicados em termos de venda, já que eram escoados principalmente para os mercados impactados pela paralisação. Os preços destes calibres, inclusive, estão bastante inferiores aos da cenoura de "melhor padrão".
MAÇÃ – As frutas miúdas são as menos demandadas no varejo nacional, registrando bom escoamento apenas em mercados institucionais e cozinhas industriais, onde as atividades foram interrompidas e/ou reduzidas na quarentena. Assim, produtores estão receosos quanto à campanha 2019/20, que está sendo marcada pela grande disponibilidade de menores calibres, principalmente a partir do 180, já que o clima seco no Sul afetou o enchimento da fruta. Normalmente, menores calibres já são mais baratos, o que continua ocorrendo neste ano. Vale destacar que, apesar de miúdas, as maçãs estão com uma das melhores qualidades sensoriais e shelf life dos últimos anos.
TOMATE – Os primeiros dias da quarentena foram bastante críticos ao tomate 1A, categoria demandada principalmente pelos mercados que tiveram as atividades interrompidas. Naquele período, inclusive, produtores chegaram a descartar o produto, devido à sua alta perecibilidade e às dificuldades de comercialização. No entanto, o cenário foi normalizado no decorrer das semanas, tendo em vista a redução da oferta nacional de tomate.