Avanços no controle de doenças da bananeira é tema de palestra aberta na Embrapa Amapá
As ameaças fitossanitárias à bananicultura brasileira, um desafio para pesquisadores, agentes de defesa agropecuária e produtores, é o foco principal da palestra do fitopatologista Wilson da Silva Moraes, a ser realizada das 8h às 10h desta sexta-feira, 06/03, no auditório Marabaixo da Embrapa Amapá, em Macapá. Vinculado ao maior polo produtor de bananas do Brasil - o Vale do Ribeira em São Paulo - Moraes acumula experiência técnica por 15 anos na pesquisa, pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta); por 10 anos na docência pela UNESP (campus de Registro) e atualmente na Superintendência do Ministério da Agricultura em São Paulo. Trata-se de uma das referências em capacitação téorico-prática nos aspectos da identificação, monitoramento e manejo da Sigatoka-negra e outras doenças que fragilizam o cultivo da banana no país. A palestra é gratuita e as inscrições serão feitas no local.
O evento é realizado pela Embrapa, por meio do Projeto TecFruti – financiado pelo Fundo Amazônia, com o objetivo de oportunizar ás instituições e técnicos do Amapá a atualização de conhecimentos e tecnologias adaptadas ou geradas na região do Vale do Ribeira (SP) para auxiliar os produtores locais a conviverem, sobretudo, com a Sigatoka-negra, considerada a mais severa e destrutiva doença foliar da bananeira. No sábado, 07/03, Wilson Moraes será responsável por uma estação do Dia de Campo “Inovações tecnológicas da cultura da banana na Perimetral Norte”, a ser realizado pela Embrapa no assentamento Munguba, município de Porto Grande (AP).
A Sigatoka-negra foi registrada pela primeira vez no Amapá em 2000. Atualmente, está disseminada por todo o estado, com elevada severidade em variedades comercialmente cultivadas e, em muitos casos, provocando o total comprometimento da qualidade e quantidade do produto. Conforme Wilson da Silva Moraes, a introdução de cultivares de bananeiras resistentes à Sigatoka-negra, inclusive as lançadas pela Embrapa, é a principal alternativa à garantia de continuidade da bananicultura no Amapá.
De acordo com o palestrante, outros assuntos também serão tratados no evento, como a eminente importação de bananas do Equador, que apresenta risco potencial da introdução do vírus do mosaico das brácteas da bananeira (BBrMV) e de isolados de M. fijiensis resistentes a fungicidas, além do Plano Nacional de Contingência do Fusarium oxysporum f.sp. cubense Raça Tropical 4, agente causal da murcha vascular ou Fusariose em bananeira do grupo Cavendish (Nanica) e em todas demais variedades de bananeiras.
Técnica de avaliação da eficiência agronômica de fungicidas
Wilson Moraes reitera que a Sigatoka-amarela e a Sigatoka-negra (causadas pelos fungos Mycosphaerella musicola e Mycosphaerella fijiensis ) são as principais doenças que atacam as folhas da bananeira nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Os danos causados por essas doenças resultam em desfolhas precoces que promovem perdas de 50 a 100% da produção. Com relação à técnica de avaliação da eficiência agronômica de fungicidas, o palestrante adiantou que vai informar sobre orientações atualizadas de manejo baseado na sua experiência no Vale do Ribeira, polo que concentra 35 mil hectares contínuos de cultivo de bananeiras.
Em publicação técnica de sua autoria Wilson Moraes explica que “a elevada severidade da Sigatoka negra e agressividade do fungo Mycosphaerella fijiensis, principalmente, sob as condições climáticas do Vale do Vale do Ribeira, SP; a crescente migração do registro de defensivos agrícolas da endêmica Sigatoka amarela para a epidêmica Sigatoka negra; o aumento da demanda de pesquisas relacionadas ao controle químico, bioquímico e biológico desta doença; fez com que novas técnicas experimentais fossem desenvolvidas, visando simplificar e tornar mais rápida e objetiva a determinação da eficiência agronômica de fungicidas no controle da Sigatoka negra”.
De acordo com dados do IBGE, em abril de 2018, a bananicultura brasileira contou com uma área de 478.030 hectares, que produzem 6.989.671 toneladas de bananas, com rendimento médio de 14.622 toneladas por hectare. Este cenário posicionou a banana entre as cinco frutas mais importantes do agronegócio brasileiro, ao atingir faturamento anual de 16 bilhões de reais, gerando 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos. Porém, ressalta Moraes na publicação técnica, que “as variedades resistentes são as mais importantes ferramentas para se conviver de forma sustentável com essas doenças, porém carecem de aceitação comercial, por parte do consumidor, que prefere variedades do tipo Cavendish (Musa AAA) e do tipo Prata e Maçã (Musa AAB), consideradas altamente suscetíveis. Em se tratando dessas variedades, as aplicações foliares de fungicidas sistêmicos e protetores tornam-se inevitáveis, para garantir a produção de frutos”.
O fitopatologista alerta que o “uso dos fungicidas deve ser feito de forma racional”. Ele cita a adoção de alternância de grupos químicos, aliado ao monitoramento semanal da severidade da doença, à erradicação dos bananais abandonados (inóculo primário); à desfolha sanitária, seguido de amontoa e aplicação de ureia a 10% (inóculo secundário). “Estas são as principais medidas de controle que, uma vez integradas, podem manter o número de aplicações em níveis baixos”, observa Wilson Moraes.