Melão brasileiro tem pegada de carbono 50% menor que o produzido no exterior
O melão amarelo que sai da região Jaguaribe-Açu – o principal polo produtor brasileiro da fruta – deixa na atmosfera a metade da quantidade de gases de efeito estufa que a liberada pelo melão do tipo italiano cultivado na região da Sicília, Itália. Outros importantes produtores mundiais apresentam quantidades similares ou até mais emissões que as registradas no Sul da Itália. Veja a comparação no quadro abaixo:
Os dados foram calculados durante um amplo estudo de eficiência ambiental da cultura, realizado dentro de fazendas produtoras do polo Jaguaribe-Açu, pela rede Repensa Melão - um consórcio que reuniu instituições de pesquisa e representantes do setor produtivo. Os dados estão disponíveis na internet em publicação no formato digital.
“A pesquisa atende a uma necessidade dos produtores. Eles desejavam mensurar a eficiência ambiental para garantir espaço em mercados mais exigentes, que buscam produtos com certificados ambientais”, explica a pesquisadora Maria Clea Brito de Figueiredo, da Embrapa Agroindústria Tropical (CE).
Fonte: (Cellura et al., 2012), (Audsley et al., 2009) Arte: Ana Elisa Galvão Sidrim
*Equivalência em dióxido de carbono (em inglês, carbon dioxide equivalent), CO2eq ou CO2e, é uma medida internacionalmente aceita que expressa o potencial de aquecimento global de gases de efeito estufa (GEEs) em relação ao do dióxido de carbono (CO2)
Consumo de água também foi avaliado
Além de calcular a pegada de carbono, o estudo incluiu a pegada de escassez hídrica, avaliou 24 diferentes sistemas de produção e chegou a uma proposta de modelos mais eficientes dos pontos de vista ambiental e econômico. Os pesquisadores buscaram sistemas que pudessem ampliar o estoque de carbono no solo, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, consequentemente, reduzir a pegada de carbono no melão brasileiro.
“É um estudo para o setor tomar como referência. Com base nos dados, cada exportador pode calcular sua própria eficiência e atuar para melhorá-la”, salienta Clea Figueiredo. Os pesquisadores acreditam que o impacto pode ser formidável, sobretudo quando for restabelecida a normalidade das chuvas na região, que enfrenta sucessivos anos de estiagem. O polo Jaguaribe-Açu é responsável por cerca de três quartos da área colhida, mais de 80% da produção e a quase totalidade das exportações brasileiras.
Modelo mais verde é o mais lucrativo
Os pesquisadores não só avaliaram a eficiência ambiental do modelo tradicional de produção, mas também buscaram alternativas para reduzir a pegada de carbono e aumentar receitas. Para isso, foram comparados ao sistema tradicional vários modelos alternativos de cultivo. A surpresa do estudo é que o sistema ambientalmente mais eficiente em sequestro de carbono mostrou-se também o mais lucrativo economicamente.
Esse campeão ambiental e econômico foi o sistema de rotação com milho e braquiária, com a incorporação da matéria orgânica no solo, e cultivo do meloeiro com utilização de filme de polietileno (mulching). O modelo de produção, testado na região de Jaguaribe-Açu, apresenta variação positiva no estoque de carbono, considerando o perfil de solo estudado (0-40 cm) e o período monitorado.
A avaliação econômica mostrou que esse sistema de cultivo oferece um aumento de mais de 100% na rentabilidade se comparado ao sistema tradicional, em um cenário considerado favorável (chuvas regulares garantindo água para irrigação e quebra do ciclo das principais pragas). Nesse cenário, o sistema de rotação de milho e braquiária apresenta rentabilidade de 117,90 % e o tradicional, de 59,69%.
Os números do melão
Fonte: livro Produção de Melão e Mudanças Climáticas: Sistemas conservacionistas de cultivo para redução das pegadas de carbono e hídrica
Arte: Ana Elisa Galvão Sidrim
Implantação barata
A segunda boa notícia para os produtores é que a implantação dessa alternativa de produção não exige um grande desembolso de recursos. O investimento adicional é de 6%. O estudo usou como indicador de rentabilidade o retorno sobre o investimento (ROI) e levou em consideração cenários favorável e adverso. Avaliou, ainda, o risco dos sistemas mais rentáveis.
O pesquisador da Embrapa Pedro Felizardo Adeodato de Paula Pessoa, um dos responsáveis pela avaliação de viabilidade econômica dos sistemas, explica que uma rentabilidade superior a 20% já é considerada atrativa. “Para compensar os riscos envolvidos, deve ser superior em duas ou três vezes as rentabilidades oferecidas pelas alternativas de investimento mais conservadoras e de baixo risco”, esclarece.
Dados disponíveis na internet
Qualquer produtor ou pesquisador pode ter acesso aos resultados, reunidos no livro “Produção de melão e mudanças climáticas – Sistemas conservacionistas de cultivo para redução das pegadas de carbono e hídrica”, que está disponível gratuitamente para download. A publicação foi editada pela Embrapa e parceiros com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Participaram desse estudo, além da Embrapa, Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). A pesquisa sobre pegada de escassez hídrica e de carbono também está sendo realizada com produtores da região do Submédio São Francisco em parceria com a Embrapa Semiárido, para as culturas de melão e manga.