Feijão: exportação é caminho para expandir cultura, mas ainda faltam contratos que deem segurança ao produtor

Publicado em 01/07/2024 13:50 e atualizado em 01/07/2024 14:25
Para analista, o que falta para essa cultura é furar a barreira do mercado internacional

O mercado externo ainda é um desafio muito grande para o feijão brasileiro, de acordo com o que afirmou Evandro Oliveira, analista de mercados de arroz e feijão da SAFRAS & Mercado. De acordo com ele, há um antes e depois do mercado internacional para todas as commodities e isso ainda está faltando para o feijão brasileiro.

Oliveira explica que todos os anos há uma média de produção de quase 3,2 milhões de toneladas e um consumo interno entre 2,9 e 3 milhões toneladas de feijão no Brasil, o que deixa um estoque de passagem na casa dos 200 mil até 300 mil toneladas.

Segundo ele, esse cenário mantém os preços pressionados ou atuando em um intervalo de certa estabilidade, já que reflete um mercado bem ofertado e uma demanda, até certo ponto, retraída. “Neste ano, muitas regiões operaram abaixo dos custos de produção, com regiões do Paraná abaixo dos R$ 200/sc, em Santa Catarina chegando a indicações de até R$ 140/sc”, afirmou o consutor.

E o mercado externo poderia mudar essa realdiade, como explica Oliveira, mas ainda com impacto limitado, ao menos por enquanto. Afinal, o o volume de feijão exportado pelo Brasil ainda é pouco significativo, com um total que varia entre 150 mil e 200 mil toneladas por ano:  “É só isso que está faltando para o mercado de feijão. É furar essa barreira do mercado internacional”.

O analista da SAFRAS pontuou que o Brasil ainda não possui um mercado cativo para essa demanda. O que existem são demandas pontuais, que surgem por alguma necessidade imediata. E sem esta frequência de compras e essa constância dos clientes, o incentivo para o aumento de área de produção no Brasil, portanto, ainda é insuficiente entre os produtores. 

O consultou ponderou que de nada adianta ao produtor rural aumentar a área plantada visando o mercado externo, sendo que existem apenas essas demandas pontuais, e na temporada seguinte pode não ter esses compradores. “O produtor precisa ter segunça de que esses mercado vão manter suas compras anuais para ficar com segurança de investir”, frisou.

Mercado internacional daria segurança ao produtor de feijão

Afrânio Migliari, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Feijão e Pulses, também afirmou que o aumento das exportações poderá trazer mais oportunidade para que o pequeno e médio produtor, principalmente, possam atuar mais com o feijão. “Podemos atender ainda mais o mercado internacional, com contratos antecipados que garantam a produção”.

Também integrante da mesma Câmara Setorial e presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders, reforçou que o produtor brasileiro pode atender um aumento da demanda internacional, só o que precisa é previsibilidade. De acordo com Lüders, hoje já existem diversos produtores brasileiros que têm exportadores fazendo contratos com eles, situações em que o produtor planta já com preço alinhado ou planta sabendo que no momento da colheita terá liquidez.

Além disso, ele cita que o mercado internacional seria importante para o Brasil exportar seus excedentes. “Sempre exportaremos depois que nosso mercado está abastecido. Assim, o produtor não fica a mercê do governo que tem dificuldades em atender os produtores com preço mínimo, por exemplo”.

Lüders usa como exemplo o caso do feijão-preto neste ano: “O feijão preto, havia uma expectativa, para aqueles que estavam acompanhando menos o mercado internacional, de que teríamos uma sobra fabulosa e o produtor teria uma prejuízo enorme. E a gente vinha acompanhado desde o ano passado o desenvolvimento do clima na América do Norte e Ásia. Tudo isso acabou afetando aqui e neste ano teremos exportação recorde de feijão-preto e feijão-mungo preto”.

Barreira cultural atrapalha entreda do feijão carioca no mercado internacional

Para Evandro Oliveira, o Brasil somente terá um impacto na balança comercial quando conseguir inserir o feijão carioca no mercado internacional. “Esse sim é o nosso grande desafio”. Como contou, a cadeia produtiva vem tentando ano após ano ultrapassar a barreira do mercado externo inserindo o feijão carioca em outros países. Porém, há uma barreira cultural, pois Brasil tem a produção dessa variedade. “A nossa produção majoritariamente é do carioca, é nossa especilidade e não conseguimos ultrapassar essa barreira”, afirmou.

Migliari revelou que o Brasil está em negocioação com a China para abertura desse mercado, pois somente os brasileiros são consumidores dessa variedade. Entretanto, o país asiático segue fechado para as exportações brasileiras. Mesmo assim, percebe na China uma tendência que pdoe ser favorável para a abertura desse mercado. “A China é grande produtor e consumidor de feijão. Como estão substituindo muita área por soja e milho, a tendência é que haja no futuro, entre dois e três anos, a abertura do mercado para os nossos feijões”, afirmou.

Ações desenvolvidas para levar o feijão brasileiro a outros países

O presidente do Ibrafe falou ainda que existem ações sendo desenvolvidos pela cadeia do feijão para consolidação da marca Brasil dentro do projeto Brazil Superfoods, organizado pelo Ibrafe junto à  ApexBrasil. Há também a divulgação dos produtores que produzem de forma sustentável e outra frente de abertura de novos mercados como México e Colômbia.

Além disso, há diversos países com barreiras tarifárias. “Algumas vezes conseguimos acordo fitosanitario, mas o país tem impostos com alíquotas altas. Estamos trabalhando neste sentido também, revelou Lüders.

Para ele, é possível o tamanho dos desafios para segurança alimentar leve o Brasil a poder  concentrar esforços no feijão-carioca. “Entendemos que pode ser necessário mais investimentos para apresentar o feijão-carioca para população indiana, por exemplo”, afirmou.

Ele espera ainda este ano ter um nova missão para a índia para reforçar o feijão-carioca. “Estamos fazendo isso também através da imprensa indiana informando como produzimos e onde produzimos o carioca, por exemplo, e como e por que se tornou o nosso favorito”, explicou o presidente do Ibrafe. Ele citou os cultivares IAC 2051, Agronorte, Dama e IAC 2051 como exemplos de feijão carioca que tem escurecimento lento, o que para exportação é fundamental.

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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