Sistema de Classificação de Terras para Irrigação agora abrange soja e arroz

Publicado em 18/04/2023 10:22

A Embrapa acaba de lançar a terceira versão do Sistema Brasileiro de Classificação de Terras para Irrigação (SiBCTI), agora disponível para todas as regiões brasileiras e habilitada para fornecer informações sobre 16 culturas agrícolas e englobando mais duas de grande relevância nacional: soja e arroz. A metodologia permite definir a potencialidade de um ambiente para desenvolver culturas sob determinada tecnologia de irrigação, classificando a aptidão e o potencial das terras para essa finalidade.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Fernando Cezar do Amaral, coordenador do projeto do SiBCTI, o sistema pode indicar que, em determinadas regiões, de acordo com as características do solo e do sistema de irrigação, pode ser mais viável técnica e economicamente um sistema do que outro. Para a cultura do arroz, por exemplo, ele cita a inviabilidade econômica da irrigação do tipo localizada, principalmente em solos com baixa condutividade hidráulica no horizonte superficial. O pequeno espaçamento entre as fileiras do arroz implica uma quantidade tão grande de tubo gotejadores que eleva sobremaneira o custo da irrigação. 

“Ainda para o arroz, temos visto o aumento da demanda por irrigação por aspersão utilizando pivôs de irrigação, principalmente na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. A produtividade é menor do que no sistema por inundação, mais usual na fronteira leste, mas a lucratividade é maior, uma vez que o manejo da cultura é facilitado, o maquinário tem menor custo e a movimentação do solo é diminuída”, acrescenta.

Já para a cultura da soja, a grande vantagem da irrigação é a maior segurança de retorno econômico, explica o pesquisador. “Com o sistema de irrigação adequado, o produtor de soja pode aumentar a produtividade da lavoura e diminuir os riscos para a colheita, pois não dependerá da chuva. Também facilita os tratos culturais, já que ele pode adubar ou aplicar defensivos via irrigação. E com a utilização de variedades precoces, é possível antecipar os plantios do milho e, consequentemente, da soja, abrindo a possibilidade até de um terceiro cultivo, como de trigo ou feijão. A irrigação é uma prática custosa, mas por diminuir o risco e aumentar a rentabilidade, justifica-se plenamente.”

Desenvolvimento sustentável

De acordo com os pesquisadores que desenvolveram o SiBCTI, com o uso adequado do sistema é possível evitar que terras que não possuam aptidão para irrigação sejam incluídas no processo produtivo, minimizando o impacto ambiental e a perda de recursos financeiros. Do mesmo modo, a partir do embasamento em uma avaliação afinada com as características do ambiente, o SiBCTI permite que áreas antes consideradas “não irrigáveis” possam ser classificadas como “aptas à irrigação”.

O sistema também possibilita o uso racional da água nos processos de irrigação, além de prevenir a salinização dos solos manejados, um grave problema ambiental e econômico, especialmente no Semiárido.

A ferramenta, disponibilizada à sociedade por meio de um software, pode servir de base para projetos de irrigação e colaborar com a execução de políticas públicas, em especial para a implementação da Política Nacional de Irrigação (Lei Nº 12787/13), conduzida pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e que tem como principal diretriz a indução à eficiência no uso de recursos hídricos para o setor agropecuário.

Semiárido motivou a tecnologia

A primeira versão do SiBCTI era específica para o Semiárido e foi lançada em 2005, fruto da cooperação entre Embrapa e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e com apoio de diversas instituições e profissionais das áreas de pedologia e irrigação. A segunda versão, entregue à sociedade em 2012 e ainda voltada apenas ao Semiárido, trazia atualizações e ampliações no banco de dados e novas funcionalidades relacionadas a potencial e limitações dos elementos solo, água e cultura vegetal, com avanços na estrutura de tecnologia da informação, o que permitiu o acesso às informações em ambiente web.

A partir de 2016, contando com o apoio e financiamento do Ministério da Agricultura e Pecuária, um grupo de trabalho liderado pela Embrapa Solos (RJ) deu início à formulação da versão nacional do SiBCTI, para abarcar todas as regiões brasileiras e ampliar o número de culturas, inserindo café, arroz e soja no rol que já contava com acerola, banana, cana-de-açúcar, capim-elefante, cebola, coco, feijão, goiaba, manga, melancia, melão, milho e uva. A terceira versão completa foi disponibilizada em abril deste ano.

Brasil tem potencial para quadruplicar sua área irrigada

Dados da International Commission on Irrigation and Drainage (ICID), publicados pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), mostram que o Brasil irriga apenas 7 milhões de hectares de suas terras, ocupando a sétima posição mundial. De acordo com o MIRD, o País tem um potencial estimado de 30 milhões de hectares de área irrigada.

A China é o país com maior área irrigada do mundo, com 65 milhões de hectares, seguido da Índia, Estados Unidos e Paquistão, esse último com 19 milhões de hectares irrigados.

Café, arroz e soja na versão nacional

A validação para a introdução das culturas café, arroz e soja no SiBCTI foi realizada por meio de campanhas de campo lideradas por pesquisadores da Embrapa Solos (RJ). A observação e o estudo da realidade dos manejos permitiram o fino ajuste das diversas variáveis de solo, água, sistemas de irrigação e especificidades de cada cultura vegetal que compõem o banco de dados do sistema.

“Quando fomos procurados por técnicos do Ministério da Agricultura para aprofundar e ampliar o sistema, nós sugerimos três culturas: café, soja e arroz, que estão entre as mais cultivadas fora do Semiárido. Somente no Rio Grande do Sul, o arroz tem mais de um milhão de hectares irrigados, e grande abrangência também em Santa Catarina. A soja, apesar de não ter uma área irrigada tão grande, é a principal cultura brasileira. E o café irrigado está crescendo muito no País. Durante nossa campanha pelo Cerrado Mineiro, observamos que as lavouras de café onde era utilizado o pacote tecnológico com irrigação e colheita mecanizada eram muito rentáveis, enquanto as tradicionais vinham registrando prejuízos”, explica Fernando Amaral.

Utilização do sistema

O SiBCTI é um sistema especialista de tomada de decisão cujo elemento principal é a informação. Seu objetivo é armazenar e tratar os dados fornecidos pelo próprio usuário do software do sistema para entregar a classificação automática da terra para fins de irrigação. Bastam alguns cliques de escolha de campos e a inserção de dados de entrada. Estando sem pendências e sem valores anormais, o programa cruza todos os dados relacionados aos diferentes planos de informação (solo x cultura vegetal x qualidade e custo da água x sistema de irrigação) e apresenta a classificação final indicada para aquela situação apresentada pelo usuário.

As informações solicitadas são 18 parâmetros relacionados ao solo, como profundidade, quantidade de cálcio e magnésio, pH do solo medido em água, capacidade de água disponível, condutividade elétrica, mineralogia da argila, posição na paisagem, topografia, condutividade hidráulica, velocidade de infiltração básica, pedregosidade e rochosidade; além de parâmetros relativos à qualidade e ao custo de captação da água para irrigação, relação ou razão de adsorção de sódio, distância da captação d’água e presença de boro, ferro e cloreto.

“Um dos planos de informação inclui ainda as variáveis relacionadas às características das plantas de cada uma das 16 variedades habilitadas no sistema. A classificação é feita analisando as limitações do ambiente, especificamente a cada cultura vegetal e a cada sistema de irrigação. A metodologia conta ainda com uma classificação generalizada, que se aplica bem aos estudos de pré-viabilidade e a levantamentos de solo, de menor escala ou mais generalizados”, acrescenta Amaral.  

Para facilitar a operação do sistema foram elaborados um manual de métodos dos parâmetros exigidos pelo sistema e um documento que detalha os valores e intervalos de todos os parâmetros solicitados pelo software por cultura agrícola e método de irrigação.

O SiBCTI pode ser acessado por este link.

 

As três versões do SiBCTI

1ª versão (2005)
Era específica para o Semiárido e foi lançada em 2005, fruto da cooperação entre Embrapa e Codevasf, com o apoio de diversas instituições e profissionais atuantes nas áreas de pedologia e irrigação. Estava habilitado para as culturas de acerola, goiaba, banana, manga, cana-de-açúcar, melancia, cebola, melão, coco, milho, feijão e uva.

2ª versão (2012)
Ainda voltada ao Semiárido, trazia atualizações e ampliações no banco de dados e novas funcionalidades relacionadas a potencial e limitações dos elementos solo, água e cultura vegetal. Houve também avanços na estrutura de tecnologia da informação, o que permitiu o acesso às informações em ambiente web. Trouxe como novidade a habilitação para a variedade capim-elefante.

3ª versão (2023)
A partir de 2016, contando com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um grupo de trabalho liderado pela Embrapa Solos deu início à formulação da versão nacional, para abarcar todos as regiões brasileiras, além de três novas culturas: soja, arroz e café. A nova edição completa foi oficialmente lançada em abril de 2023.

 

Curso a distância ensina a operar software do SiBCTI

Está disponível na plataforma e-Campo do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Embrapa o curso a distância que ensina a utilizar o software do SiBCTI. As inscrições são gratuitas e as aulas podem ser assistidas a qualquer momento, no computador, tablete ou celular (acesse aqui).

Com carga horária de 40 horas, o curso é autoinstrucional, permitindo que o usuário siga seu próprio ritmo. É destinado principalmente a profissionais e estudantes das diversas áreas da engenharia, técnicos agrícolas, agentes de transferência de tecnologia e de assistência técnica, projetistas de irrigação, tomadores de decisões dos setores público e privado, consultores técnicos e planejadores agrícolas.

Fonte: Embrapa

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