Onda de calor na China continua castigando extensas áreas de arroz e milho, além de pastagens e pecuária

Publicado em 23/08/2022 17:28
Lama rachada no Poyang, o maior lago de água doce da China, que encolheu para uma fração de seu tamanho - Foto: AFP

O atual cenário climático segue como destaque e tem sido um dos principais vetores de influência sobre os mercados de grãos neste momento, com problemas e perdas sendo registrados em diversos pontos determinantes para a oferta e o consumo globais. Uma severa onda de calor segue castigando a China, tirando volumes importantes de suas safras de grãos, em especial de milho neste momento, no sudoeste do país. 

Os principais e maiores rios e lagos da China estão secando ou registrando seus mais baixos níveis de todos os tempos, inclusive comprometendo volumes de água, inclusive, para irrigação de áreas-chave de produção agrícola, além de estarem comprometendo toda a cadeia logística.

Segundo explica a cientista climática Jennifer Francis, do Woodwell Climate Research Center, nos EUA, as ondas fortes de calor não só na China, mas também na Europa, são reflexo de uma alongada área de alta pressão atmosférica que permanece estacionada sobre a Rússia, o que impede que as massas de ar frio cheguem à nação asiática trazendo algum alívio aos chineses. 

"Quando as condições quentes e secas ficam presas, o solo seca e aquece mais facilmente, reforçando ainda mais a cúpula de calor", explica Jennifer em uma entrevista à agência internacional de notícias Bloomberg. O quadro é tão grave que a população local tem buscando algum descanso do 'calorão' em abrigos antiaéreos que datam da Segunda Guerra Mundial. 

A região de Poyang Lake, no centro da província de Jiangxi, é uma das principais áreas de produção de arroz da China e já sente, de acordo com uma matéria do South China Morning Post, os efeitos da falta da irrigação. As temperaturas têm superado os 40ºC nos últimos dias. 

Em mais publicações internacionais, as notícias têm concentrado as informações sobre as adversidades climáticas que se registram agora e o efeito dominó que exercem sobre o mercado de commodities. Como explica, por exemplo, o meteorologista John Baranick, "o foco para uma commodity como o milho pode estar nos EUA, Ucrânia, Rússia e China de março a outubro, e no Brasil e Argentina de setembro a junho. A sobreposição de períodos de cultivo para certas culturas também complica o mercado geral, enviando sinais confusos".

E é isso o que tem acontecido agora. Além das altas fortes que os futuros do milho registraram na Bolsa de Chicago no pregão desta terça-feira (23), encerrando o dia com ganhos na casa dos 4%, os preços subiram mais de 1% no mercado futuro brasileiro e fecharam o dia em campo positivo também na Bolsa de Dalian, na China. Trigo e arroz também sentem forte. 

As seis áreas mais afetadas pela seca – Sichuan, Chongqing, Hubei, Henan, Jiangxi e Anhui – responderam por quase metade da produção de arroz da China em 2021, segundo informoum uma nota do banco internacional Goldman Sachs nesta semana. E assim, o Ministério da Agricultura da China disse, no fim de semana, que o atual quadro climático vem impondo um  "um grave desafio" para a queda na produção de grãos e pediu, novamente, às autoridades locais que fortaleçam o investimento de capital e recursos para combater a seca. Na província de Henan mais de 1 milhão de hectares foram afetados, de acordo com um relatório da CCTV, ainda de acordo com a Bloomberg.

"Os chineses já colheram a pior safra de trigo da história e agora, nessa região do Rio Amarelo - com 6,3 km de extensão, sendo o maior da Ásia e o terceiro maior do mundo - o problema pior é o arroz. Não tem água para irrigar o arroz. O rio Amarelo tem segmentos que estão completamente sem água", explica o diretor do SIMConsult, Liones Severo. 

Imagem: SIMConsult

E há ainda muitas outras culturas que dependem deste rio, incluindo boa parte da produção de milho. "A China fez alertas sobre a seca e as altas temperaturas que chegam a 40 graus centígrados. Grandes cidades com Chingqing, Whuham e Suzhow se abastecem desse rio", complementa Severo. Mais do que isso, ele lembra ainda que falta água para pastagens e a pecuária também sofre agressivamente. 

"A China tem o segundo maior rebanho comercial bovino, ficando apenas atrás do Brasil e está faltando água para o gado", diz o consultor de mercado e diretor do SIMConsult.

 
Fotos: Reuters Internacional

No complemento da análise, Eduardo Vanin destaca os campos de milho pendoando no vale central da China, sentindo em cheio os efeitos da onda de calor. "Tem muita lavoura de milho na China pendoando e enchendo grão nessa região. Imagino que o estrago pode ser até maior. No começo da temporada chinesa de plantio, muitos falaram em redução da adubação de cobertura pelas limitações das entregas de fertilizantes – o tal do covid zero. Esse milho certamente está menos preparado para as temperaturas de 45 ºC que os chineses estão reportando. Já nas províncias de Liaoning, Jiling e Heilongjiang, o MT da China, as condições são boas", detalha o analista de mercado da Agrinvest Commodities.

Assim, Vanin alerta sobre ainda a possibilidade de um mercado mais volátil e intenso para os preços do milho tão logo estas perdas sejam efetivadas e absorvidas pelo mercado. "Os preços do milho na China estão bem comportados, mas isso pode mudar logo após a colheita. Produtores podem optar por segurar, até porque os chineses dispõem cada vez menos de alternativas de investimento", diz. 

Com informações da Reuters Internacional, Forbes, South China Morning Post e Bloomberg

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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