Lavouras de grão-de-bico resistem a fortes geadas ocorridas no centro-sul do Brasil
Plantas geralmente sensíveis a altas temperaturas ou a frio intenso, as hortaliças podem ter a sua evolução afetada quando expostas a essas ocorrências, umas mais outras menos, a depender da espécie cultivada e também de seu estágio de desenvolvimento. Entre as cultivares de grão-de-bico, desenvolvidas pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), a BRS Aleppo, por exemplo, comprovou características importantes de tolerância a condições climáticas adversas, como as geadas que ocorreram recentemente nos estados do Paraná, de São Paulo e do Mato Grosso do Sul.
O pesquisador Oscar Fontão Jr., da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados-MS), explica que o florescimento e o progresso reprodutivo do grão-de-bico são influenciados principalmente por três fatores: disponibilidade de água, comprimento do dia e temperatura, sendo essa última considerada mais importante do que o fotoperíodo. E com relação a essa questão, conforme o pesquisador, as cultivares de grão-de-bico responderam com um bom nível de tolerância. “Em diversos locais do Mato Grosso do Sul, quando houve a ocorrência de geadas durante cinco dias, verificou-se uma perda inicial de flores e vagens, mas as plantas continuaram a florescer”, observa Fontão.
O bom comportamento do grão-de-bico frente a essas condições climáticas adversas também foi observado no Paraná, na região de Uraí, próxima à Londrina, Campo Mourão e Maringá, e surpreendeu o agrônomo Ademir Santini, da empresa SantiniAgro. Segundo ele, as geadas provocaram forte prejuízo na cultura do milho, principalmente, já que o trigo por estar ainda na fase vegetativa – entre a germinação e a floração – não sofreu danos, “e o único cultivo que permanece em condições de campo e não foi afetado pela mudança climática foi o de grão-de-bico”. “Ficou bastante evidente que o grão suportou bem a forte geada”, destaca Santini.
Também no Paraná, dessa vez no oeste do estado, o produtor Airton Cittolin também apontou a ocorrência de geadas bastante severas “como há muito tempo não acontecia na região”, e ressaltou o bom comportamento do grão-de-bico. “Plantamos o grão-de-bico e com 40 a 50 dias de germinação, e mesmo em fase de crescimento suportou bem as geadas”, atestou Cittolin, referindo-se à cultivar BRS Aleppo, que divide a área plantada com a cultivar BRS Toro, que mostrou menor tolerância.
Para o pesquisador e chefe-geral da Embrapa Hortaliças Warley Nascimento, que coordena as pesquisas de melhoramento genético com as leguminosas secas, as chamadas pulses (ervilha, lentilha e grão-de-bico), a resposta positiva da cultivar BRS Aleppo quando submetida a baixas temperaturas pode servir como “fonte para novas pesquisas de melhoramento”. “Podemos utilizar a BRS Aleppo para gerar outras cultivares, uma vez que ela é produtiva, resistente a fungos de solo e com mais essa característica comprovada de tolerância ao frio”, avalia Nascimento.
O pesquisador acrescenta que nessas localidades onde ocorreram fortes geadas, outras culturas que “competiriam” com o grão-de-bico como milho, feijão, gergelim e mesmo o trigo sofreram bastante com a geada, assim essa leguminosa seria uma boa opção entre essas culturas de inverno, com menores riscos.
Zoneamento Climático
O grão-de-bico foi incluído no Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) desenvolvido em conjunto pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Embrapa. Até o final do ano, o programa vai apresentar os estudos sobre as culturas de canola, maçã, pêssego, café, abacaxi, grão-de-bico, cana, soja e milho.
Conforme dados divulgados pelo MAPA, o zoneamento tem como objetivo reduzir os riscos relacionados aos problemas climáticos ao possibilitar a identificação pelo produtor sobre a melhor época para o plantio, levando em consideração a região do País, a cultura e os diferentes tipos de solo. Com essas informações, será possível reduzir perdas provocadas por eventos meteorológicos adversos, como os que ocorreram em diversas regiões brasileiras.