China desiste de focar em autossuficiência em seu novo relatório de política rural
A China está mudando o foco da sua política agrícola, abandonando sua obsessão por autossuficiência em função de atender melhor a demanda interna por consumo, aponta o novo Relatório de Política Rural do país.
Quebrando a tradição dos últimos seis anos, o documento, publicado no último domingo, omitiu qualquer referência a uma "autossuficiência básica" nas safras de commodities, um pilar chave da agricultura do país ao longo da última década.
Essa ausência é o sinal mais recente de que o governo está mudando de rumo após anos de apoio à produção de grãos como milho, trigo e arroz, o que levou a grandes estoques, porém, sem mercado.
Agora, Pequim precisa absorver esse excesso de colheitas e compensar uma demanda estagnada, à medida em que o crescimento da economia do país também diminui.
"Ninguém pensou que a China poderia manter a autossuficiência do jeito que eles fizeram. Eles basearam a medida em um suporte de preços e isso foi extremamente caro", disse Erlend Ek, gerente de pesquisa em agricultura na China Policy, uma empresa de consultoria baseada em Pequim.
A China abandonou os preços mínimos para o milho no ano passado. Essa semana, o país também confirmou que irá manter o suporte para o trigo e o arroz neste ano, porém, com preços futuros mais alinhados ao mercado.
Os grandes estoques de grãos permitem que a China foque menos no tamanho da colheita e invista mais em tornar o setor agrícola mais preparado para enfrentar futuras crises de estoques, investindo bilhões de yuans em irrigação, infraestrutura e revitalização das fazendas.
Tang Renjan, deputado-chefe da frente agrícola do Partido Comunista, disse para repórteres que o foco foi mudado para balancear oferta e demanda, "melhorando qualidade e competitividade e aprimorando a habilitade de um desenvolvimento sustentável na agricultura".
O documento também aponta por uma estabilização na produção de suínos, por um estímulo para a demanda por laticínios e também para encontrar novos canais para a utilização dos estoques de milho.
Ele ainda destaca o papel do mercado internacional em ajudar a China a encontrar a demanda, em um forte sinal do crescimento da aceitação de importações por parte de Pequim.
"Isso significa muito para o mercado global", acrescentou Ek. "A meta do desenvolvimento agrícola é encontrar a demanda. Ela pode vir internamente ou internacionalmente que está tudo certo".
Tradução: Izadora Pimenta