Cepa altamente patogênica de gripe aviária é encontrada na Colômbia e acende alerta para a América do Sul

Publicado em 28/10/2022 12:06 e atualizado em 04/11/2022 15:22
No Brasil, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves aponta que a distância deste caso detectado não muda, de imediato, o status sanitário do país, mas momento ainda assim é de alerta

O Instituto Agropecuário Colombiano (ICA) confirmou que no último dia 19 foi detectada a presença de dois focos de Influenza Aviária Altamente Patogênica no município de Acandí, no departamento de Chocolate. A informação parte de uma nota oficial da entidade governamental colombiana. Segundo a nota do ICA, a descoberta dos dois focos da doença se deu por meio de ações de vigilância epidemiológica realizadas em todo o território nacional. (Confira o comunicado do ICA completo, traduzido para o português, no final do texto).

Em nota emitida ao Notícias Agrícolas, a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) informou que revisou os protocolos de biossegurança para a influenza aviária e doença de Newcastle. A nota ainda pontua que "O novo plano reforça a importância da notificação imediata aos serviços veterinários estaduais (SVE), por qualquer cidadão, de aves domésticas e silvestres com suspeita de influenza aviária, indispensável para a detecção rápida da doença". (Leia o comunicado completo no final do texto)

O pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Luizinho Caron, diz que, em seu entendimento do caso, a localidade do caso se deu na divisa com o Panamá, “então ainda é tecnicamente América Central”. O especialista pontua que a cepa encontrada na Colômbia é a mesma que está causando estragos nos Estados Unidos, que sobreviveu ao verão, quando tipicamente os casos da doença tendem a diminuir.

“Os casos se mantendo nessas regiões e não chegando mais na América do Sul mais continental, como Equador, Peru, acho que não muda muito nosso status. Ainda assim fica o alerta, já que algumas aves migratórias podem passar pela América do Sul”. 

Segundo informações divulgadas pela agência internacional de notícias Reuters, no último dia 18 de outubro, os Estados Unidos registraram recorde na mortandade de aves devido à esta doença. Ainda segundo o veículo de comunicação, mais de 47 milhões de aves morreram devido a infecções e abates, o que prejudicou as exportações e diminuiu a produção de ovos, frangos e perus. “Em 2015, 50,5 milhões de aves morreram no surto mais letal dos EUA, o pior evento de saúde animal do país até hoje”, informou a Reuters.

A variante que está sendo combatida nos Estados Unidos - de uma doença que ocorre com mais frequência nas estações mais frias do ano - é a H5N1 do vírus que sobreviveu durante o verão, segundo a diretora veterinária do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) Rosemary Sifford, em publicação da Reuters. Este mesmo subtipo da doença também está se espalhando pela Europa.

Ainda de acordo com Caron, foi um surto em aves de fundo de quintal, “mas o vírus está aí e a migração de aves é algo natural”. Ele ainda complementa: “o MAPA está focado no monitoramento em regiões perto de lagoas, no litoral e rotas migratórias, e claro que, se aumentar o risco, vai intensificar a coleta de amostras”. 

“O ICA recebeu a notificação de sinais compatíveis com a doença em 8 de outubro e imediatamente mobilizou o pessoal necessário para cumprir os protocolos estabelecidos para esses casos. Os funcionários do Instituto atenderam as ocorrências e recolheram as respectivas amostras, que foram enviadas para o Laboratório Nacional de Diagnóstico Veterinário onde, através de processos analíticos de diagnóstico molecular efetuados entre 14 e 18 de Outubro, foi identificado que a estirpe encontrada em duas propriedades rurais com população mista (aves de quintal e aves silvestres) corresponde à sequência genética de um vírus altamente patogênico, com subtipo H5”, destacou o Instituto.

Ao todo, as duas granjas onde a doença foi encontrada contavam com 175 aves que, como medida sanitária de controle e erradicação da doença e de acordo com os procedimentos técnicos estabelecidos, foram abatidas.

No relatório do instituto está detalhado que a região onde a s granjas estão localizadas fica na fronteira com o Panamá, e “não está conectada por terra com o restante do território nacional”.  O Instituto pontua ainda que nesta região não existem granjas comerciais e que a produção avícola do município é caracterizada exclusivamente por criação de aves para subsistência.

“A presença da doença no país ainda está sendo estudada pelo ICA,e a primeira hipótese é a de uma interação próxima com aves migratórias selvagens , que geralmente são portadoras do vírus influenza. É importante esclarecer que esta região geográfica está na rota migratória de aves selvagens que viajam do norte do continente, onde, segundo relatórios da Organização Mundial para Saúde Animal ( WOAH na sigla em inglês), existem focos ativos da doença” informa o órgão colombiano em nota.

O Instituto Agropecuário Colombiano ainda ressaltou em seu comunicado que há um plano de contingência contra a doença ativo formado por uma equipe com epidemiologistas, veterinários e técnicos pecuários, que se concentrou no escritório local da instituição em Acandí para controlar e erradicar a situação. 

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) se manifestou por meio de nota (confira na íntegra no final do texto), e informou que é uma situação que acende um alerta máximo, uma vez que a doença retornou para a América do Sul.

Além de reiterar aos integrantes da cadeia produtiva que mantenham os cuidados de biosseguridade das granjas em dia e informem colaboradores, empresas e sócios sobre o caso, a ABPA enviou mensagem direta ao Ministro da Agricultura, Marcos Montes, ao Secretário de Defesa Agropecuária e ao Diretor de Saúde Animal, “para que seja reforçada a mobilização do MAPA nas diversas frentes de defesa agropecuária nos portos, aeroportos e fronteiras, seja pela ação ativa ou por meio de campanhas, estimulando o engajamento de todos na proteção do bem setorial mais precioso, que é a sanidade de nossos plantéis".

NOTA OFICIAL DO INSTITUTO AGROPECUÁRIO COLOMBIANO (ICA)

"O Instituto Agropecuário Colombiano confirmou, como resultado das ações de vigilância epidemiológica realizadas em todo o território nacional, a presença de dois focos de Influenza Aviária Altamente Patogênica no município de Acandí, no departamento de Chocolate.

O Instituto recebeu a notificação de sinais compatíveis com a doença em 8 de outubro e imediatamente mobilizou o pessoal necessário para cumprir os protocolos estabelecidos para esses casos. Os funcionários do ICA atenderam os casos e recolheram as respectivas amostras, que foram enviadas para o Laboratório Nacional de Diagnóstico Veterinário onde, através de processos analíticos de diagnóstico molecular efectuados entre 14 e 18 de Outubro, foi identificado que a estirpe encontrada em duas quintas com população mista (aves de quintal e aves silvestres) corresponde à sequência genética de um vírus altamente patogênico, com subtipo H5.

A população total das duas granjas era de 175 aves, que como medida sanitária de controle e erradicação da doença e de acordo com os procedimentos técnicos estabelecidos, foram abatidas.

Acandí está localizada no extremo norte do departamento de Chocó, em uma área de fronteira com o Panamá que não está conectada por terra com o restante do território nacional. Não há granjas comerciais na região e a produção avícola do município é caracterizada exclusivamente por quintas de quintais com aves criadas num único espaço e cujos produtos são utilizados exclusivamente para autoconsumo .

A presença da doença no país ainda está sendo estudada pelo ICA,e a primeira hipótese é a de uma interação próxima com aves migratórias selvagens , que geralmente são portadoras saudáveis ​​de vírus influenza. É importante esclarecer que esta região geográfica está na rota migratória de aves selvagens que viajam do norte do continente, onde, segundo relatórios da WHOA, existem focos ativos da doença.

Neste momento, o Plano de Contingência para o atendimento da Influenza Aviária está ativo e foi formada uma equipe de atendimento composta por epidemiologistas, veterinários e técnicos pecuários, que se concentrou no escritório local da instituição em Acandí para controlar e erradicar a situação. . Nas propriedades identificadas como positivasMedidas de quarentena foram estabelecidas para mitigar o risco de propagação da doença para outras áreas do departamento de Chocó ou do país.

Os funcionários do ICA, com três grupos de trabalho em campo, têm realizado atividades de monitoramento permanente na área intervencionada e a população de aves tem sido monitorada por meio de inspeção clínica e amostragem para diagnóstico laboratorial e até o momento não foram encontradas aves. . As atividades de vigilância continuarão a ser realizadas em todo o território nacional de forma permanente.

Da mesma maneira,As ações necessárias serão articuladas com as autoridades sanitárias locais, para gerar recomendações voltadas à prevenção e atendimento às comunidades deste território.

O ICA dá uma parte de tranquilidade aos produtores e consumidores do país; a localização dos focos não coloca em risco a produção ou consumo nacional de ovos e carne de frango, e o trabalho interinstitucional garante que todos os esforços estão sendo feitos, cumprindo os protocolos estabelecidos em nível internacional para conter a doença e prevenir sua propagação.

Da mesma forma, faça umaapelando às comunidades da região para que comuniquem quaisquer sinais suspeitos nas suas aves ao escritório do ICA mais próximo ou através dos canais estabelecidos para o efeito, para que possam actuar rapidamente na eventualidade da possível presença da doença".

NOTA OFICIAL DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA)

"O Departamento de Saúde Animal (DSA) tem trabalhado de forma contínua, para o fortalecimento da biosseguridade das granjas e na vigilância para influenza aviária (IA). Esse trabalho tem como objetivo minimizar o risco de introdução e disseminação da doença no país, considerando a situação mundial da IA e a disseminação do vírus, principalmente por aves silvestres.
 
Em julho de 2022, o DSA concluiu a revisão das novas orientações para a vigilância e para a notificação de suspeitas de IA e publicou um novo plano de vigilância para influenza aviária e doença de Newcastle.

O novo plano reforça a importância da notificação imediata aos serviços veterinários estaduais (SVE), por qualquer cidadão, de aves domésticas e silvestres com suspeita de influenza aviária, indispensável para a detecção rápida da doença. Orientações sobre a caracterização de casos suspeitos de IA podem ser encontradas na ficha técnica disponibilizada no site do MAPA. A notificação pode ser realizada ao SVE por meio da plataforma e-Sisbravet ou por qualquer outro meio (e-mail, telefone, pessoalmente) .

O plano também amplia a coleta de amostras pelo SVE a partir de aves comerciais e de subsistência e inclui a amostragem em propriedades localizadas em municípios alcançados por rotas de aves migratórias. Essas coletas visam, de um lado, demonstrar a ausência de circulação do agente viral e apoiar a certificação do Brasil como país livre da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) e, por outro, a adoção de ações de mitigação e contenção da doença uma vez detectada.

A Colômbia, em outubro de 2022, notificou a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) a detecção da IAAP - vírus H5N, em propriedades de aves de subsistência, tendo como fontes de infecção aves silvestres. As propriedades afetadas naquele País encontram-se próximas à divisa com o Panamá, distantes da fronteira com o Brasil.

Considerando essa recente notificação de IAAP em um país da América do Sul e o grande número de ocorrências de IAAP reportadas em diversos países, o DSA ratifica a importância da notificação imediata de casos suspeitos ao SVE, do cumprimento das ações do novo plano de vigilância para a doença e do reforço pelos produtores das medidas de biosseguridade das granjas.

O DSA ressalta que a IAAP é uma doença exótica no Brasil e sua prevenção é responsabilidade de todos, requerendo esforço conjunto entre os órgãos públicos e o setor produtivo, a fim de salvaguardar a saúde pública e a sanidade do plantel avícola nacional e mitigar os impactos sócio-econômicos de uma eventual ocorrência da doença".

NOTA OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL (ABPA)

"Senhores associados

Recebemos por meio de nossos colegas produtores da Colômbia a informação de registro de dois focos de Influenza Aviária identificado pelo Instituto Colombiano Agropecuário (ICA) no município de Acandí – departamento de Chocó.  
Os focos são provenientes de aves silvestres e de fundo de quintal.  Entretanto, corresponde ao subtipo H5, de alta patogenicidade. O município de Acandí está localizado ao norte da Colômbia, próximo à fronteira com o Panamá, conforme se pode confirmar no mapa abaixo.


   
FONTE da informação: https://www.ica.gov.co/noticias/ica-confirma-presencia-influenza-aviar-acandi
Este é um momento de alerta máximo para a avicultura brasileira, com o retorno da enfermidade à América do Sul. A ABPA emitiu hoje uma solicitação de reforço à mobilização do Ministério da Agricultura, em mensagem direta ao Ministro, ao Secretário de Defesa Agropecuária e ao Diretor de Saúde Animal, nas diversas frentes de defesa agropecuária, nos portos, aeroportos e fronteiras, seja pela ação ativa ou por meio de campanhas, estimulando o engajamento de todos na proteção do bem setorial mais precioso, que é a sanidade de nossos planteis. 
Ao mesmo tempo, REFORÇAMOS a todos a necessidade de manutenção dos cuidados com relação a visitas nas unidades produtoras e ao retorno de colaboradores que estejam no exterior.  
O PROTOCOLO DE BIOSSEGURIDADE FOI ATUALIZADO.  Redistribuam internamente em suas empresas e entre seus sócios, para que todas as áreas mantenham total atenção, seja com relação às visitas nas unidades produtoras ou com o retorno de colaboradores que estão no exterior.  Vejam o link para acessá-lo: https://abpa-br.org/wp-content/uploads/2022/10/Manual-de-Biosseguridade-revisao-1.pdf
Não é demais solicitar àqueles que estiveram em áreas com registros da enfermidade – como a França, com a recente realização da SIAL Paris – para que realizem períodos de quarentena antes de retornar para granjas e escritórios, ou contato com técnicos que vão a campo. 
Em outra frente, a ABPA, por meio do GEPIA (Grupo Especial de Prevenção à Influenza Aviária) reforçará as campanhas com relação aos cuidados preventivos.
Este é momento estratégico de ação para proteger a nossa avicultura, única entre os grandes produtores mundiais a nunca registrar a enfermidade – e assim continuaremos!"

 

Por: Letícia Guimarães
Fonte: Notícias Agrícolas

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