Webinar debate a gestão do manejo do javali frente a crises sanitárias

Publicado em 04/11/2020 11:47

Na última quinta-feira (29/10) a ABCS, em conjunto com diversas instituições, abordou mais uma vez questões referentes ao manejo de javalis, desta vez sob o aspecto das crises sanitárias, compartilhando as experiências do Brasil, Espanha e Alemanha. Além disso, também foram levantados temas relacionados a medidas de enfrentamento quanto aos focos de Peste Suína Africana (PSA) na Alemanha e ações de vigilâncias a Peste Suína Clássica (PSC) realizada nos suídeos asselvajados no Brasil. O webinar foi mediado pela diretora técnica da ABCS Charli Ludtke, junto a auditora fiscal federal do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Lia Coswig. Segundo Lia, o assunto é entendido de forma multidisciplinar “um trabalho conjunto entre o Ministério da Agricultura, do Meio Ambiente, controladores, pesquisadores, produtores rurais, agroindústria de suínos, serviços veterinários oficiais, e toda a sociedade, de forma  que possamos compreender que o controle populacional de javalis envolvem questões de saúde pública, danos na agricultura, na pecuária e no meio ambiente.” 

Brasil e a vigilância da PSC

A médica veterinária e pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Virginia Santiago, iniciou as apresentações falando sobre o controle de PSC no Brasil. Ela que atua há oito anos na pesquisa central a vigilância e monitoramento populacional e sanitário de suídeos asselvajados no Brasil e participa da implementação e execução do Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali e da Estratégia Nacional de Espécies Exóticas Invasoras pode trazer com propriedade uma contextualização sobre a doença no país. De acordo com dados do IBAMA coletados em 2019, são mais de 1,536 municípios que registraram ocorrências de javalis em 22 estados. E apenas as regiões norte e nordeste não possuem o status de zonas livres de PSC. “A vigilância de javalis no Brasil é um processo recente e em construção que apresenta particularidades e desafios, mas também já demonstra progressos. Somos o quarto maior produtor e exportador de carne suína no mundo, então a invasão de javalis pode representar um grande problema para nós. Segundo a Doutora Virgínia, no Brasil não há um órgão governamental que agregue simultaneamente em gestão populacional e sanitária de fauna silvestre (ex. Wildlife Service); O abate para controle populacional do javali é realizado pela sociedade civil em caráter voluntário. Ainda, reforçou que a atividade de caça para fins recreativos, não é autorizada em âmbito nacional.

Ela falou também sobre os critérios para a determinação pela OIE quanto ao status de PSC de um país, zona ou de compartimentos, que passam por questões que envolvem o conhecimento atualizado sobre a população e habitat de suídeos asselvajados no país  ou da zona definida por parte da autoridade veterinária, e um programa de vigilância em vigor, tendo em conta a presença de barreiras naturais e artificiais, a ecologia das  população selvagens e uma avaliação dos riscos de propagação da doença. Através desse programa de vigilância objetiva-se demonstrar a ausência de circulação viral em populações de suídeos asselvajados, ou se o vírus estiver presente, estimar a distribuição e prevalência da enfermidade. Dentre os desafios dessa vigilância estão a distribuição, tamanho e padrões de movimento das populações selvagens, a determinação da viabilidade de estabelecer uma zona que considere o grau de interação dos javalis com suínos domésticos. Além de definir os limites da área de vida dos suídeos asselvajados para delimitar as unidades epidemiológicas, levando em conta barreiras naturais e artificiais, testes sorológicos e virológicos, incluindo os suídeos asselvajados encontrados mortos, ou que apresentem comportamento anormal, ou lesões sugestivas da doença. 

Alemanha e o enfrentamento dos focos de PSA 

Para falar sobre as experiências da Alemanha que recentemente vem reportando a ocorrência de PSA em suídeos asselvajados, o Webinar recebeu o médico veterinário e doutor Klaas Dietze, que atuou por 6 anos na área de produção e saúde animal na Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) na Itália e hoje está como cientista sênior no Instituto Federal de Pesquisa para Saúde Animal na Alemanha. De acordo com ele a detecção precoce da doença é crucial para o controle da situação. Mesmo antes da detecção da PSA no país, o risco da introdução da doença já era conhecido e estava em análise há muitos anos. Segundo dados apresentados por ele, em 2020 mais de 700 mil javalis haviam sido caçados, informações de caráter epidemiológico já vinham sendo difundidas e uma base de dados, e sendo elaborada e acompanhada por meio de um aplicativo criado para quantificar animais silvestres encontrados mortos. Entre os documentos difundidos para melhorar a comunicação e instruir a todos, estão os informes técnicos que abordam o que fazer ao encontrar um animal morto ou carcaças de javalis, e como implementar o controle em diferentes cenários. 

Para uma detecção rápida da doença, ele recomenda uma estimativa da população de javalis, análises de riscos para a introdução, inclusive em nível regional, animais mortos sendo notificados e animais mortos ou caçados incorporados no diagnóstico. Ainda segundo Dietze, quando há a detecção do ingresso da PSA, deve-se investigar se o caso encontrado é o primeiro, como é a distribuição dos casos, qual é a dimensão da zona infectada, quantas amostras negativas existem na zona, e principalmente evitar a dispersão dos javalis da área em questão. Para identificar as zonas infectadas e as zonas de risco, a Alemanha tem utilizado busca de cadáveres por meio de cães treinados para detectar (farejar), com o auxílio das forças armadas, helicópteros com câmera infravermelha e drones. E para evitar a contaminação de outras áreas, há também a limitação do acesso à zona infectada, proibição da caça e das atividades agrícolas e florestais, medidas estas que se tornam essenciais para evitar a propagação do vírus da PSA. 

Vigilância e maiores controles para evitar a entrada da PSA na Espanha 

E para falar sobre as medidas de enfrentamento contra a PSA na Europa e em especial na Espanha, o médico veterinário, mestre em epidemiologia e saúde pública veterinária, Germán Cáceres trouxe a sua experiência na chefia da área de epidemiologia da Subdiretoria Geral de Saúde e Higiene Animal e Rastreabilidade do Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação da Espanha. Durante a apresentação ele elencou três pontos principais: a regionalização da PSA na União Europeia, a vigilância e medidas de contingência da PSA em javalis na Espanha, e o Plano Nacional de ação para o controle de populações de javalis com foco em reduzir o risco de entrada e difusão da PSA.  Na Espanha as áreas de atuação da PSA são tratadas através de vigilância, contingência e gestão. Para a vigilância o objetivo é demonstrar ausência da enfermidade para países parceiros, monitorar e detectar precocemente os casos de introdução da doença. E contingência para uma resposta rápida, coordenada e efetiva em caso da entrada da doença no país, e gestão das populações de javalis por meio de protocolos claros de atuação.

No ano de 2002 quando o país detectou focos de PSA, as medidas básicas adotadas envolveram a criação de um grupo de especialistas que definiram a zona infectada segundo a situação epidemiológica, adoção de medidas de prevenção, elaboração de um plano de erradicação e inspeções contínuas. Vigilância oficial das propriedades rurais da zona infectada, inspeções e coletas de amostras de todos os javalis encontrados mortos, e sacrificados na zona infectada. Análises dos animais e das amostras frente à PSA. Descarte adequado de animais mortos, restos de animais e materiais contaminados. Identificação do genótipo do vírus da PSA. Colaboração com países vizinhos para estabelecer medidas de enfrentamento da doença em comum. E a apresentação do Plano de Erradicação apresentado para a Comissão no prazo de 90 dias, desde o foco, incluindo todas as medidas contempladas e as medidas de prosseguimento, além de relatórios reportando a situação a cada 6 meses. Segundo ele, as ações devem ser estabelecidas de acordo com três fases: a preventiva, a epidêmica e a endêmica. Cáceres conclui reiterando que “os javalis desempenham um papel importante na manutenção e disseminação da enfermidade para novos territórios, mesmo em situações de baixa densidade populacional. Quanto menos javalis tivermos, menor será o risco de entrada, de manutenção e difusão da enfermidade e se faz necessária uma estratégia coordenada em nível nacional para reduzir, realizar a gestão e o controle das populações de javalis a longo prazo.” 

Nas palavras da Diretora Técnica da ABCS, Charli Ludtke “Esse evento já é o segundo em que tratamos da temática dos suídeos asselvajados e, com eles, tivemos mais uma oportunidade de compartilhar experiências com especialistas renomados (nacionais e internacionais) que explanaram sobre o que está sendo feito quanto a gestão das crises sanitárias, e como são os planos de contingência dos países que ainda enfrentam problemas sérios no controle populacional de javalis e no controle de focos da PSA. Vale lembrar que o intuito desses Webinars, nesse momento é de melhorar o conhecimento e comunicação frente as possíveis doenças, e assim sensibilizar o público sobre a gravidade do problema, e da necessidade de estarmos vigilantes a qualquer caso suspeito, realizando a notificação ao serviço veterinário oficial mais próximo. Esperamos que nos próximos anos, após passar a pandemia da COVID-19, possamos realizar o seminário presencial, dando continuidade a esse projeto de cooperação internacional, entre os diversos órgãos de governos e instituições

O evento contou com a participação de 520 pessoas de 17 países e foi promovido pela ABCS, em parceria com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Associação Brasileira das Empresas de Genética de Suíno (ABEGS), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Embrapa Suínos e Aves, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Governo da Espanha e da 333 Brasil. Veja o vídeo completo para uma discussão mais aprofundada. 

Assista o vídeo na íntegra:

 

Fonte: ABCS

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