Consumo mundial de carne de frango ultrapassa proteína bovina e suína pela primeira vez na história

Publicado em 28/07/2020 16:47 e atualizado em 28/07/2020 17:22
Apesar do fato inédito, especialista afirma que a situação é transitória, motivada principalmente pela Peste Suína Africana na Ásia, e após o controle da doença, situação deve se normalizar

A lacuna no setor de proteína animal causada pela crise da Peste Suína Africana (PSA), principalmente no continente asiático, motivou uma movimentação de aumento na produção mundial de carne de frango e, pela primeira vez na história, o consumo global da proteína avícola ultrapassou o da carne suína e bovina. De acordo com Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest, a alteração no desenho do mercado de proteína animal no mundo é transitória, gerada pela crise da PSA e deve retornar à normalidade quando a doença for controlada. 

>> Leia mais: Pela primeira vez, produção global de carne de frango deve ser maior que a de proteína suína

O consumo mundial de frango está em 98,5mi de toneladas, de carne suína em 94,3mi, e bovina 61,5 milhões de toneladas, conforme números informados pelo especialista. Entretanto, a perspectiva é que até 2022 a China, principal país afetado pela PSA, esteja com seus plantéis suínos recompostos, o que deve devolver a primeira posição do ranking à carne suína.

"Desde a metade de 2018 até agora, a produção de carne suína na China caiu 20 milhões de toneladas, e produtores mundiais não tem como suprir a demanda chinesa e nem de outros países do sudeste asiático, também afetado pela doença".

Araújo afirma que a China tem investido na produção de aves e bovinos, mas não a ponto de conseguir suprir este gap de 20 milhões de toneladas de proteína animal. 

"Em dois anos, a produção de carne suína da China caiu de 54 milhões de toneladas para 34 milhões, enquanto a produção de frango aumentou no mesmo período de 11,7 milhõe sde toneladas para 15,5 milhões. Carne bovina subiu apenas 500 mil toneladas. A conta não fecha, ainda falta 15,7 milhões de toneladas para alimentar a China", explica.

Em maio deste ano, em relatório da Agrinvest, a informação era de que, pela primeira vez, a produção da proteína avícola mundial superaria as concorrentes. a perspectiva de crescimento é de 1,5%, atingindo as 100,51 milhões de toneladas.  

A China deverá ser o país que vai puxar para cima os números da produção de carne de frango, segundo a consultoria. O país asiático deve atingir as 15,50 milhões de toneladas do produto, avanço de 12,7% em relação ao ano passado. 

AUMENTO NA PRODUÇÃO PRECISA DE RAÇÃO

Para que a China consiga recompor os plantéis suínos e aumentar a produção de carne de frango, é necessário milho e farelo de soja para formular as rações dos animais. O gigante asiático está importando volumes recordes de soja, e o Brasil segue sendo um forte parceiro comercial, também batendo recorde em quantidades vendidas para a China.

Segundo Liones Severo, diretor do SIMConsult, a China vem de três anos com déficit na produção de milho, estoques baixos, tendo que apelar para rações com arroz e trigo para complementar o alimento. 

Com a alta nos preços do milho, o farelo de soja passou a ser mais demandado na composição das rações, e o preço do insumo sobe diariamente no país asiático, conforme explica Severo.

"Chinês compra soja para usar. O alojamento de frango na China está aumentando, e as aves consomem mais do que o dobro de farelo de soja do que os suínos, proporcionalmente", explica.

De acordo com Severo, para cada quilo de carne de frango produzida, são consumidas 575gr de farelo de soja, enquanto que para cada quilo de carne suína, o consumo é de 263gr.

"Com o fechamento dos mercados de animais vivos, houve uma migração de consumo na China para porteínas mais qualificadas, e isso ampliou inclusive as importações dessas carnes", disse.

A expectativa de Severo é de que a China continue demandando proteína animal e vegetal de outros países, devido aos novos hábitos de consumo da classe média/alta e do ingresso de novos consumidores com poder aquisitivo para consumir as proteínas.

 

Por: Letícia Guimarães
Fonte: Notícias Agrícolas

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