Exportação de frango do Brasil cai 4,7% em abril, em recuo visto como pontual
As exportações brasileiras de carne de frango caíram 4,7% em abril em relação a igual período de 2019, mas no acumulado dos quatro primeiros meses do ano registraram avanço de 5,1% no volume embarcado, disse a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) nesta segunda-feira.
Apesar do recuo mensal, tratado por representantes do setor e analistas ouvidos pela Reuters como pontual, decorrente de feriados de abril e dos efeitos do coronavírus, as perspectivas para o setor seguem positivas.
No mês passado, o país exportou 343,3 mil toneladas da proteína, considerados produtos in natura e processados, ante 360,1 mil toneladas embarcadas em abril do ano anterior.
Já no intervalo de janeiro a abril de 2020, o país exportou 1,36 milhão de toneladas de frango, ante 1,29 milhão de toneladas um ano antes.
Em receita, o país registrou 515,9 milhões de dólares em abril com as exportações, recuo de 13,9% ante os 599,1 milhões de dólares obtidos um ano antes. No quadrimestre, a receita subiu somente 0,5% na comparação anual, para 2,151 bilhões de dólares.
"Além da já esperada alta das vendas para a China, houve considerável aumento das exportações para destinos da África, Ásia e Oriente Médio", afirmou o presidente da ABPA, Francisco Turra, em nota sobre o desempenho do quadrimestre.
À Reuters, o presidente da ABPA esclareceu por telefone que o recuo nas vendas verificado em abril foi uma questão pontual causada pelo número de feriados do mês e, consequentemente, redução dos dias úteis para embarque.
"Acho que se não houvesse tanto feriado (em abril de 2020), teríamos registrado, no mínimo, o mesmo (volume exportado) que o do mesmo mês do ano passado", afirmou.
"Tivemos um pouco de redução no volume mensal embarcado para a África do Sul, mas nada que nos pareça uma questão mais forte", acrescentou Turra.
De acordo com o executivo, a China vem aumentando gradativamente as importações da proteína brasileira desde janeiro e, atualmente, é o principal mercado comprador como destino de cerca de 18% do total do frango exportado pelo Brasil.
Somente em abril, a China importou 55,5 mil toneladas da proteína, aumento de 28% na variação anual. De janeiro a abril, o volume adquirido foi de 223 mil toneladas, alta de 41%, conforme dados da associação.
Ele destacou que, desde o ano passado, os chineses começaram a apostar na produção local de frangos para tentar suprir parte da demanda do país por carne. "Tiveram uma arrancada boa, mas logo na sequência veio um novo surto de gripe aviária e a pandemia do coronavírus", o que limitou a produção da China e impediu o avanço de estratégias protecionistas.
O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, avaliou que a redução nas exportações de frango em abril também pode estar relacionada aos efeitos da Covid-19 no mundo.
"O fechamento dos serviços de alimentação reduz uma parcela da demanda por proteína", disse.
Mesmo com o recuo no desempenho mensal, Torres acredita que o cenário é promissor para as vendas internacionais de frango e das demais proteínas de origem animal do Brasil, impulsionado pelo elevado patamar do dólar, que torna o produto mais barato no mercado externo.
"Por outro lado, apesar do desempenho muito bom (das exportações de carnes) em plena pandemia, elas têm sido insuficientes para dar sustentação aos preços no mercado interno", pontuou o especialista.
MERCADO HALAL
Os países árabes, que importam o produto halal, passaram a ampliar a produção interna, em detrimento da importação, porém, o avanço da Covid-19 tende a alterar essa estratégia.
Dados da ABPA mostram que, em abril, a Arábia Saudita adquiriu 34,6 mil toneladas de frango do Brasil, queda de 11%. O país é o terceiro maior comprador da proteína brasileira.
"A Arábia Saudita tinha tomado a decisão de aumentar o consumo nacional de frango com produto local, de 40% para 60%. Mas agora, por motivo da pandemia, deve declinar um pouco esse plano", disse à Reuters o secretário geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Tamer Mansour.
Ele afirmou que nas últimas duas semanas importadores de países árabes começaram a aumentar o fechamento de contratos para a compra de frango do Brasil, no intuito de formar estoques e garantir a segurança alimentar das população, dada a expansão da pandemia.
Mansour ainda disse que a crise nos preços do petróleo, que reduz a capitalização destes países, ainda não afetou as compras de alimentos, mas já é motivo de preocupação.
(Por Nayara Figueiredo)