Funcionários de frigoríficos nos EUA e Canadá adoecem e afetam mercado

Publicado em 13/04/2020 16:22 e atualizado em 14/04/2020 10:49

CHICAGO/WINNIPEG (Reuters) - Em uma unidade de processamento de frango da Wayne Farms no Estado norte-americano do Alabama, recentemente os trabalhadores tiveram de pagar à empresa 10 centavos de dólar por dia para comprar máscaras de proteção contra o novo coronavírus, de acordo com um inspetor da indústria.

No Colorado, quase um terço dos funcionários de uma planta de carne bovina da JBS USA, frigorífico norte-americano do grupo brasileiro JBS, ficou em casa em meio a preocupações de segurança nas últimas duas semanas, depois de um funcionário com 30 anos de experiência morrer por complicações da Covid-19.

E desde que uma planta de suínos da Olymel em Quebec, no Canadá, foi fechada em 29 de março, o número de trabalhadores que testaram positivo para o coronavírus quintuplicou, chegando a mais de 50, segundo um sindicato local.

A instalação da Olymel e pelo menos outras 10 na América do Norte fecharam ou reduziram produção temporariamente nas últimas duas semanas devido à pandemia, o que afetou cadeias de oferta de alimentos que já enfrentavam dificuldades para acompanhar o ritmo do aumento de demanda nos supermercados.

De acordo com mais de uma dúzia de entrevistas com trabalhadores, líderes sindicais e analistas da indústria nos EUA e no Canadá, a falta de equipamentos de proteção e a natureza do trabalho necessário para processar carnes estão ressaltando os riscos para funcionários, além de limitar a produção, à medida que alguns renunciam ao trabalho mal remunerado.

Empresas que aumentaram proteções, com maior higiene ou distanciamento entre os trabalhadores, afirmam que as medidas estão desacelerando ainda mais a produção de carnes.

A Smithfield Foods, maior processadora de carne de porco do mundo, disse no domingo que está fechando por tempo indeterminado uma unidades de suínos que representa cerca de 4% a 5% da produção norte-americana.

A empresa alertou que o fechamento de fábricas está empurrando os EUA "perigosamente para perto do limite" em relação à oferta de carnes a mercados.

Os fechamentos e o aumento da ausência de funcionários contribuíram para a queda do preço dos animais nos EUA, uma vez que os produtores encontram menos locais para abate.

Desde 25 de março, os contratos futuros do suínos com vencimento mais próximo caíram 35%, enquanto o preço do gado cedeu 15%, pressionando a economia agrícola norte-americana.

A demanda por carnes na América do Norte caiu cerca de 30% no mês passado, com o declínio nas vendas de carnes em restaurantes superando o aumento da demanda no varejo, disse Christine McCracken, analista de proteína animal do Rabobank.

Os estoques de carnes congeladas nos frigoríficos norte-americanos seguem abundantes, mas a oferta pode ser reduzida em meio ao aumento das exportações para a China, depois de um acordo comercial remover obstáculos às compras de carne dos EUA pelo país asiático.

"Existe um grande risco de novos fechamentos de unidades", disse McCracken.

O mais recente aconteceu nesta segunda-feira, quando a JBS anunciou que vai fechar sua planta de carne bovina em Greeley, Colorado, que é responsável por cerca de 5% da produção do país, até 24 de abril.

A JBS já havia reduzido produção na instalação, uma vez que cerca de 800 a 1 mil trabalhadores por dia permaneciam em casa desde o final de março, segundo Kim Cordova, presidente de um sindicato local.

Ela acrescentou que até sexta-feira a entidade tinha conhecimento de ao menos 50 casos e duas mortes por coronavírus entre os funcionários.

Saul Sanchez, trabalhador do local conhecido carinhosamente como "vovô" por alguns colegas, testou positivo para o vírus e morreu no dia 7 de abril, aos 78 anos, segundo sua filha, Beatriz Rangel. Ela disse que suas únicas movimentações antes da aparição dos sintomas foram entre sua casa e a fábrica.

A JBS confirmou que um funcionário com três décadas de experiência morreu por complicações associadas ao Covid-19, sem citar Sanchez pelo nome. Ele não teve sintomas durante o trabalho e não esteve na unidade quando doente, segundo a empresa.

A JBS disse que trabalha com governos federal e estadual para obter testes para todos os funcionários da instalação.

O condado de Weld, onde a fábrica está localizada, tinha na sexta-feira o quarto maior número de casos de Covid-19 entre os condados do Colorado, de acordo com o Estado. As autoridades de saúde confirmaram casos entre funcionários da JBS.

A JBS disse que o alto índice de ausências na fábrica levou o processamento a recuar para nível inferior às taxas de abate. A empresa contestou os números do sindicato, mas não forneceu os seus.

Segundo Cameron Bruett, porta-voz da JBS USA, foram tomadas medidas pela companhia, incluindo a compra de máscaras e a instalação de escudos de acrílico nos refeitórios para proteger os funcionários.

Dois funcionários de unidade da JBS em SC testam positivo para Covid-19, diz prefeito

SÃO PAULO (Reuters) - Dois funcionários da unidade Seara da JBS em Ipumirim (SC) testaram positivo para o novo coronavírus, de acordo com o prefeito de Concórdia (SC), Rogério Pacheco, do município onde os pacientes estão internados.

Não ficou claro qual o impacto da confirmação dos casos para o funcionamento da planta de aves, uma vez que a JBS não comentou o assunto.

Ainda segundo o prefeito, estão sendo investigados outros dois casos suspeitos de Covid-19, com alguma relação com a fábrica de Ipumirim.

Nesta segunda-feira, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, manifestou preocupação com eventuais ocorrências de Codiv-19 na indústria do Brasil, maior exportador global de carne bovina e de frango.

Ela citou caso de uma unidade de carne nos EUA, que foi fechada temporariamente após funcionários terem contraído a doença. A unidade que suspendeu atividades é da Smithfield.

Os casos positivos para Covid-19 na Seara foram confirmados em uma mulher de 51 anos, moradora de Concórdia, e um homem de 38 anos, residente em Ipumirim, segundo o prefeito.

Pacheco disse que os dois funcionários da companhia tiveram o coronavírus detectado no último fim de semana por meio do teste rápido e a confirmação foi realizada por um laboratório localizado em Curitiba.

Agora, ambos estão no Hospital São Francisco, de Concórdia.

Segundo ele, as outras duas pessoas com suspeita da doença também estão internadas no hospital. Uma delas também é funcionária da Seara de Ipumirim.

"Mais duas pessoas deram entrada no hospital com suspeita de Covid-19. Uma também é empregada do frigorífico e outra tem parentesco com um dos funcionários que foi infectado", afirmou.

Questionada, a JBS, controladora da Seara, não quis comentar o assunto.

Informou em nota que, "no caso em que um colaborador da JBS teste positivo para Covid-19, a empresa prestará imediato atendimento e total apoio a ele e seus familiares, até seu pronto restabelecimento".

O prefeito ainda disse que estes teriam sido os primeiros casos de coronavírus na região de Alto Uruguai Catarinense, que compreende os municípios de Ipumirim e Concórdia, no oeste do Estado, importante região produtora de carnes do país.

"Assim que tivemos a informação sobre o contágio, adotamos procedimentos protocolares da área da saúde, nosso secretário municipal da área reportou o caso ao governo e o Estado está monitorando as pessoas que tiveram contato as pessoas que foram infectadas."

Sobre medidas tomadas pelo frigorífico, Pacheco afirmou que não tinha mais informações.

Instalada em Ipumirim desde 1995, a unidade da Seara opera com abate e corte de aves, além de contar com uma fábrica para produção de ração animal.

Em nota, a JBS informou a Reuters que desde o início do avanço da Covid-19 tem tomado todas as medidas para garantir a máxima segurança e prevenção de seus colaboradores.

"As ações seguem as determinações dos órgãos de saúde como a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde e contam ainda com a consultoria clínica de médicos especializados contratados pela empresa para a total adoção das melhores práticas."

Além de prestar apoio ao funcionário e seus familiares, a companhia disse que, em eventual caso de contágio, afastará o colaborador de suas atividades, e adotará um protocolo que prevê total desinfecção e sanitização das áreas comuns e do local em que o profissional trabalha.

Dentre as medidas preventivas que estão sendo adotadas nas unidades, a JBS destacou, em comunicado divulgado nesta segunda-feira, que afastou colaboradores que fazem parte do grupo de risco, como gestantes e pessoas com mais de 60 anos.

As frotas dos ônibus que fazem o transporte dos colaboradores foi ampliada e houve intensificação da higienização e desinfecção dos veículos no intervalo das viagens.

Há controle de temperatura de todos os colaboradores nas entradas dos turnos, além de vacinação gratuita para gripe H1N1 para 100% dos colaboradores.

Entre as medidas de higiene, foram fornecidas máscaras de uso obrigatório, sabonetes, sanitizantes e álcool em gel nas áreas comuns.

"(É realizada a) desinfecção diária de todas as instalações com registros a cada realização e ampla divulgação para consulta dos colaboradores", disse a companhia.

Também foram impostas regras para coibir a aglomeração e promover o distanciamento seguro entre colaboradores, com demarcação de intervalos, alternância nas refeições e controle de acesso nas portarias e nos vestiários das unidades.

"Com essas medidas, a empresa está confiante em garantir o abastecimento e a oferta de produtos... a seus clientes e consumidores no país e no mundo... já que a produção de alimentos se integra ao rol de atividades essenciais para a população, no contexto de crise da Covid-19."

Suínos: @ do CIF fica entre R$ 77 e R$ 80 em SP

São Paulo segue com quedas acentuadas no mercado de suínos. Segundo análise da Scot Consultoria, a oferta está maior que a demanda, o que tem feito as cotações acumularem recuos. As reduções nas cotações desde o início do ano foram de 27,5% e 33,7%, na granja e no atacado, respectivamente.

Segundo a Scot, em São Paulo a arroba do suíno CIF caiu 6,10%/8,05%, chegando a R$ 77/R$ 80, enquanto a carcaça especial teve recuo de 3,08%/2,99%, atingindo R$ 6,60/R$ 6,50 o quilo. 

Em relação ao animal vivo, segundo dados do Cepea/esalq, referentes à quinta-feira (9), as quedas foram menos acentuadas. No Paraná, houve estabilidade na cotação, permanecendo em R$ 4,27/kg.

Em Santa Catarina, a retação foi de 0,96%, com preço de R$ 4,13/kg, queda de 0,91% em Minas Gerais, chegando a R$ 4,34/kg. Em São Paulo, a desvalorização foi de 0,42%, com preço de R$ 4,70/kg, e de 0,24% no Rio Grande do Sul, fechando em R$ 4,18/kg.

Por: Letícia Guimarães
Fonte: Notícias Agrícolas

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