Suinocultura brasileira deve retomar crescimento em 2019
O ano de 2018 foi marcado por diversas dificuldades para os suinocultores brasileiros e também para as agroindústrias. O custo de produção permaneceu em patamares elevados, a remuneração paga ao produtor não atingiu as cifras desejadas e as empresas sofreram com os reflexos das operações Carne Fraca e Trapaça, que fizeram com que países importadores das carnes brasileiras suspendessem as importações do Brasil. Em meio ao caos político, no ano passado também houve a greve dos caminhoneiros, que resultou em perdas para vários setores da economia.
Apesar do grave período de recessão atravessado pelo Brasil no ano passado, a economia deve se recuperar em 2019, gerando reflexos positivos para a produção de proteína animal. Em entrevista ao Informativo ACCS, o diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, fez projeções otimistas para a suinicultura.
ACCS Quais são as expectativas para a suinocultura brasileira em 2019?
Ricardo Tivemos um ano de 2018 difícil por causa do bloqueio das exportações para a Rússia, mas no final do ano nós conseguimos a reabertura deste mercado. Na China vemos a Peste Suína Africana (PSA) avançar em proporções grandes. Fala-se que a China precisará importar de três a cinco milhões de toneladas de carne suína para atender a demanda. A gente já sabe que essa quantia não está disponível nos países exportadores, incluindo o Brasil.
Os chineses vão precisar aumentar o consumo de carne de frango e bovina para suprir a falta de carne suína. Pela retomada das exportações para a Rússia e o episódio de PSA na China, o Brasil vai ter um ano positivo na suinocultura.
Em relação ao volume de exportações, qual o patamar o Brasil deve atingir?
Devemos exportar muito mais do que as quase 600 mil toneladas de 2018. Infelizmente o envio de carne suína para outros países foi menor no ano passado em relação a 2017, mas em 2019 pretendemos ter patamares muito mais positivos. Como ainda dependemos verificar o panorama global, principalmente o de importação de carne suína da China, a gente ainda não fala em números. Mas se não houver nenhum episódio diferente, nós devemos ter crescimento entre 2% e 5% nos embarques de carne suína.
O que podemos esperar do novo Governo Federal e também da nova composição do Ministério da Agricultura?
As expectativas que a gente tem com o novo governo e com o Ministério da Agricultura são positivas. O novo governo traz a responsabilidade de fazer reformas e colocar o país nos trilhos de novo. Nós já percebemos a economia caminhando, o crescimento do emprego e a confiança dos empresários retomada. Felizmente acabou aquele ciclo de retração econômica que nós vivenciamos nos últimos três anos. O crescimento projeto para a economia em 2019 está na casa dos 2,5% e 3%.
Com relação a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a expectativa é mais que positiva. A ministra é uma grande conhecedora do nosso setor, uma especialista em agronegócio. Ela também tem o apoio do secretário-executivo Marcos Montes. Vamos ter um ciclo muito positivo para as carnes suína, de aves e de ovos, que são representadas pela ABPA.
Como está a imagem do Brasil perante o mundo após as operações Carne Fraca e Trapaça? O país já conseguiu recuperar a sua credibilidade perante os mercados compradores?
Nós estamos fazendo um trabalho de recuperação e imagem global, mostrando a qualidade do nosso produto. Tivemos dificuldades de imagem sim, mas é importante lembrar que desde a operação Carne Fraca, apenas 70 dos 160 mercados que nós atendemos barraram a importação de carnes do Brasil. Hoje todos esses países reabriram mercado com o Brasil.
No caso de frango continuamos a vender mais de quatro milhões de toneladas e 600 mil toneladas de suínos. Isso mostra a confiança que o mercado internacional tem em nosso produto. Existe muito trabalho para reconquistar a credibilidade e acredito que este ano será muito positivo não somente para o setor, mas também para a imagem brasileira do agronegócio.
Em 2019 quais são os países que devem se posicionar como os principais compradores da nossa proteína e quais são as grandes promessas para este ano?
A figura dos importadores brasileiros não deve mudar muito. A China deve se confirmar como a maior importadora de carne brasileira, superando Hong Kong. Neste ano esperamos a habilitação de novas plantas para a China Continental. Hong Kong, que hoje é o maior importador de proteína brasileira, deve manter um bom volume de compras.
A Rússia deve habilitar novas plantas para importar carne do Brasil. Esperamos exportar para a Coreia do Sul, mas temos grande expectativa em relação ao México, que é também um grande importador de carne.
Várias partes do mundo estão sofrendo prejuízos com a PSA. O Brasil pode ser favorecido com as dificuldades sanitárias pelas quais diversos países enfrentam?
A PSA está presente em vários países da Ásia, mas principalmente na China. Nós como produtores de suínos precisamos reforçar os cuidados com a sanidade da nossa propriedade. A sanidade é um dos grandes segredos do sucesso da nossa exportação. Esses cuidados devem ser maiores em Santa Catarina, que é livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica.
A Ásia, Eurásia e alguns países da Europa estão sentindo os efeitos da Peste Suína Africana. Nós vamos ter a oportunidade de aumentar as nossas exportações porque eles terão diminuição da produção.