Brasil deve reduzir exportação de carne suína e de frango em 2018, diz ABPA
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de carnes de frango e suína do Brasil em 2018 devem cair ante 2017, em meio a restrições comerciais e custos mais altos, projetou nesta quinta-feira a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), ponderando que compras por outras regiões têm compensado as perdas observadas até agora.
Os embarques de carne de frango do Brasil, maior exportador global, devem recuar neste ano entre 2 a 3 por cento, para 4,2 milhões de toneladas, ante uma perspectiva no início do ano de crescimento de 1 a 3 por cento, conforme a entidade, que representa a indústria do setor.
A revisão para baixo ocorre após uma suspensão de plantas produtoras do Brasil pela União Europeia (UE), algo que impactou principalmente a gigante BRF.
Também reflete os custos mais altos com ração, dada a disparada do milho e os protestos de caminhoneiros, que complicaram a logística nacional em maio.
"É algo lamentável. Estávamos em um ritmo muito bom", disse o presidente da ABPA, Francisco Turra, durante coletiva de imprensa em São Paulo.
Pelas projeções da associação, o tabelamento de fretes, instituído como medida para acabar com as manifestações dos caminhoneiros, elevou o custo logístico do setor em 35 por cento, em média.
Os custos maiores devem fazer com que os preços ao consumidor final aumentem em 15 por cento neste semestre.
Quanto à carne suína, a ABPA espera agora exportações entre 10 e 12 por cento menores em 2018, em torno de 620 mil toneladas, frente uma expectativa de alta de até 5 por cento no início do ano.
As vendas dessa proteína foram fortemente impactadas pelo embargo russo, anunciado no fim do ano passado.
A produção de carne suína deve aumentar 1 por cento em 2018, para perto de 3,8 milhões de toneladas, enquanto a de frango tende a cair de 1 a 2 por cento, para 13 milhões de toneladas.
Anteriormente, a ABPA esperava crescimentos de até 3 por cento para a carne suína, e de até 4 por cento para a de frango.
COMPENSAÇÃO
Até agora em 2018, de janeiro a julho, o Brasil já exportou 2,3 milhões de toneladas de carne de frango (queda de 8,2 por cento na comparação anual) e 346,5 mil toneladas de carne suína (recuo de 13,6 por cento).
Na avaliação de Turra, esse desempenho poderia ser ainda pior.
"As perdas poderiam ser piores. Parte das exportações de carne suína foram compensadas por vendas à Ásia, como China e Hong Kong, e à América do Sul. Para a carne de frango, outros países, como China e México, reduziram o impacto do embargo europeu", explicou.
Já o vice-presidente e diretor de Mercados da ABPA, Ricardo Santin, avalia que o setor tem potencial para impulsionar as vendas de carne de frango no restante do ano, principalmente se o dólar se mantiver fortalecido.
"Se o dólar continuar nesses patamares, podemos chegar no zero a zero ante 2017", destacou Santin, que não descarta embarques de 400 mil toneladas em agosto, próximos a volumes mensais exportados pelo setor, após um recorde em julho.
Santin afirmou ainda que vê espaço para melhora de margens do setor nos últimos meses do ano.
"Temos espaço de melhora de margens agora porque é impossível não repassar preço. Hoje a gente vê um ambiente mais estável para repasse de custos", destacou.
(Por José Roberto Gomes)