Frango: Brasil mantém alta competitividade, apesar de elevação nos custos de produção
Do início do ano até agora, os preços do farelo de soja já subiram, em média, cerca de 20% e, ao lado de valores mais altos também do milho, têm encarecido os custos de produção das carnes no Brasil. Ainda assim, porém, os produtos brasileiros têm mantido sua competitividade no mercado internacional, com potencial de julho de 2018 ser o melhor mês da história para as exportações nacionais de frango, segundo acredita o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Como explica o executivo, os números deste mês já passam de 306 mil toneladas e, na semana passada, a média diária dos embarques estava em 20 mil toneladas, de acordo com dados da Secex (Secretaeria de Comércio Exterior). "Devemos ter um número na casa de 400 mil toneladas e, em agosto, não deve ser muito diferente, o ritmo deve continuar forte", diz. Entre os suínos, também se espera um melhor momento, após um primeiro semestre deste ano em que os números das exportações brasileiras foram duramente prejudicados.
Atualmente, a tonelada do frango brasileiro tem uma média de US$ 1498,00, contra US$ 1630 dos EUA; US$ 1850,00 da França e e US$ 1450,00 da Ásia. Ou seja, o frango do Brasil ainda segue como o mais competitivo do mercado, atraindo os compradores. E essa 'vantagem' tem se dado com o chamado Custo-Brasil ainda mais competitivo também.
Ainda de acordo com Brandalizze, apesar dos preços mais altos dos componentes da ração, alguns itens não subiram na mesma medida, como a mão-de-obra ou o custo da estrutura, em dólares. "Enquanto temos esse custo mais barato no Brasil, na China, por exemplo, o valor é mais alto, mesmo com um menor custo de esmagamento de soja por lá", afirma.
Ao mesmo tempo, os fatores de custos e de preços começam a se ajustar nesta segunda metada de 2018, como explica o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli. Segundo ele, os preços da soja no mercado interno estão bem próximos da estabilidade nos últimos 60 dias, o que ajudou a manter algum equilíbrio nos preços da ração neste mesmo período.
"As altas recentes já impactaram no frango e no suíno. Agora, o setor está administrando como repassar essa alta para o consumidor", diz.
E na região da cooperativa - que tem sede em Cascavel/PR - cerca de 90% das granjas têm sua produção atrelada às integradoras, o que faz com que essa responsabilidade - de repassar o aumento dos custo - fique com elas. "Assim, elas procuram valorizar o produto para compensar esse custo maior", completa Grolli.
Na região, desde o início de 2018, o preço da tonelada do farelo de soja passou de R$ 1200,00 para R$ 1400,00, uma alta de 16,67% de alta, enquanto o milho saltou 36,17% passando de R$ 23,50 para R$ 36,00 por saca, no mesmo intervalo.
Diante disso, ainda como explica o presidente da Coopavel, e de uma demanda interna que ainda está ensaiando uma recuperação, "o setor já tomou suas providências e reduziu a produção, para que haja um ajuste nos preços de venda nos próximos meses".
Para Grolli, assim como para Vlamir Brandalizze, das exportações brasileiras deverão, de fato, se recuperar neste segundo semestre, porém, ainda assim serão menores, no saldo anual, do que as de 2017. E parte dessa melhora poderia vir, inclusive, da compensação do câmbio frente às altas do farelo e do milho. O dólar frente ao real, afinal, registrou uma valorização de cerca de 15%, saindo de R$ 3,25 para R$ 3,75.
No primeiro semestre de 2017, as exportações brasileiras de frango totalizaram 2.080 milhões de toneladas, enquanto no primeiro semestre deste ano foram de 1.801 milhão, uma baixa de pouco mais de 13%. O objetivo agora é reduzir essa diferença.
"Nossas exportações sofreram por quatro principais fatores: a operação Carne Fraca, depois a oepração Trapaça, a greve dos caminhoneiros e a sobretaxa da China", disse Dilvo Grolli.
Segundo o diretor executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, esse equilíbrio já está bastante próximo por conta de uma menor produção. "Vamos recuperar esse 'desbalanceamento' que aconteceu nos últimos meses e devemos ter uma recuperção de agora até o final do ano, exportando em patamares mais próximos do que sempre fizemos", diz.
Guerra Comercial
A 'escalada tarifária' que tem se dado entre países mundo a fora também pesa sobre o setor de proteínas, mesmo com uma demanda global que cresce, aproximadamente, 5% a 6% ao ano. No Brasil, a sobretaxa da China pesou direta e agressivamente sobre o frango e também contribuiu com o momento ruim do setor. Hoje, a nação asiática responde por 10% das exportações nacionais de carne de frango.
A aplicação de uma medida antidumping provisória do governo chinês às exportações brasileiras em junho do ano passado varia de 18,8% a 38,4% sobre o valor das importações pesou diretamente sobre os negócios do Brasil. O percentual dependerá da empresa e chega ao frango in natura, inteiro ou em partes, resfriado ou congelado.
“Ao longo de investigações iniciadas em agosto do ano passado, foram feitas diversas manifestações junto àquele governo e indicadas fragilidades encontradas no processo”, trouxe o posicionamento do Ministério da Agricultura.
Assim, na semana passada, o presidente Michel Temer ao se encontrar com o líder chinês Xi Jinping, pediu que a medida fosse revista durante um encontro durante a 10ª Cúpula do Brics, realizanda na África do Sul.
Os efeitos da guerra comercial, entretanto, não são sentidos somente no Brasil. A Tyson Foods Inc, uma das maiores indústrias de carnes dos EUA, culpou essa disputa por seu corte nas previsões de faturamento deste ano, de acordo com informações da Bloomberg.
Em retaliação às taxas impostas por Donald Trump, a China e o México aplicaram tarifas sobre as importações de carne suína norte-americana e a medida provocou uma baixa expressiva nos preços do produto. Em suas declarações, a Tyson lamentou ainda tem de lidar com a volatilidade mais intensa das commodities e com uma demanda mais lenta por frango.
"A combinação de mudanças nas políticas comerciais globais aqui e no exterior e a incerteza de qualquer solução criaram um ambiente desafiador de maior volatilidade, preços mais baixos e excesso de proteína", afirmou o presidente-executivo da companhia, Tom Hayes, em comunicado.
A empresa informou ainda que tem buscado driblar o momento com uma agressiva política de corte de custos, estabilidade para os preços do frete e dos insumos para fabricação da ração. Ainda assim, seguem pressionados pelo baixo volume nas vendas de frango, pelos preços baixos do suíno e da carne bovina. "Estamos trabalhando para mitigar esses efeitos, mas nosso quarto trimestre deve ter um início mais lento do que o esperado", diz ainda o comunicado da empresa americana.