Suínos: Medidas de bem-estar animal esbarram na viabilidade econômica
As atividades cotidianas de uma granja, como o manejo, a nutrição, os cuidados com a sanidade e o bem-estar animal estão em constante mudança dentro da produção moderna e globalizada.
Os desafios estão justamente nessas adaptações que exigem tecnificação, modernização e consequentemente elevação custos. Se faz constantes as preocupações da sociedade com uma produção sustentável, respeitando o bem-estar animal e a reduzindo a aplicação de antibióticos. Todos esses fatores são irreversíveis, e os produtores de suínos tem um grande desafio pela frente.
No setor suinícola as empresas habilitadas, ou que desejam exportar, precisarão atender até 2026 as normas do bem-estar animal, incluindo o alojamento de matrizes em baias coletivas.
"Infelizmente o Brasil não conseguiu avançar em um modelo próprio. O que temos são exemplos dos norte-americanos e dos europeus, onde as políticas para o agronegócio são diferentes, portanto, não aplicáveis ao modelo brasileiro pelo alto custo", destaca o presidente da ACCS (Associação Catarinense dos Criadores de Suínos), Lozivanio Luiz de Lorenze.
Segundo ele, essas modernizações são inviáveis economicamente à produção nacional atual. Sem grandes recursos ou formas de financiamento - especialmente pequenos e médios produtores - a aplicação de modelos mais tecnológicos "poderia significar a falência da suinocultura", destaca Lorenze.
O presidente da ACSURS (Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul), Valdecir Folador, destaca que a produção brasileira já possui um grau elevado de sanidade e bem-estar animal. “Seguimos rigorosos padrões de higiene, conforto térmico e alimentação, por isso não devemos permitir que leigos façam leis que são inviáveis economicamente”, diz.
Hoje, os suinocultores contam com uma série de linhas de crédito voltadas ao investimento e modernização das propriedades, porém, o alto grau de endividamento do setor limita a tomada de crédito. “O grande problema é que os produtores vêm de sequentes anos de aperto financeiro, então por mais que desejem tomar financiamento muita das vezes são impedidos pela restrição de nome ou limite de crédito”, pondera Folador.
Para ele, a falta de conhecimento sobre os processos de produção levam as discussões ao campo ideológico e não técnico. Atualmente as associações representativas contam com um termo de cooperação junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), “para que nenhuma legislação seja aprovada, sem contar com a participação do setor produtivo”, explica Folador.
As Associações lembram que o setor que vivenciou duas grandes crises em um curto espaço de tempo [em 2012 e 2016], deixando boa parte dos suinocultores descapitalizados.
O Gerente Nacional de Suínos da Cargill, João Fausto, também destaca que fatores como bem estar animal e redução na aplicação de antibióticos, estão entre as medidas de destaque nos próximos anos. Mas, que diante do cenário de dificuldade nos investimento, os suinocultores deveriam buscar primeiramente aperfeiçoar o maior custo da produção, a nutrição, para ter margem de investimento.
Neste contexto, a utilização de modelagem se mostra como tendência nos sistemas de produção. O método desenvolve uma solução completa com finalidade de equalizar os custos e resultados das propriedades. "Otimizar os custos de nutrição darão efetivamente condições ao produtor para investir no bem estar animal, reduzir antibióticos, entre outras exigências do consumidor", avalia Fausto.
Atualmente os gastos com a ração representam 70% dos custos da atividade. "O sistema desenvolvido pela Nutron, por exemplo, faz um acompanhamento completo das granjas, dando suporte ao produtor, participando da estratégia do negócio, orientando sobre o mercado, tecnologias, compra e venda de grãos, facilitando a gestão da propriedade", diz Fausto.