Preços de milho têm recuo incomum no país no 4º tri e dão alívio para granjas

Publicado em 23/11/2016 14:32

Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - Os preços do milho no mercado doméstico brasileiro registram forte queda neste último trimestre, em um movimento incomum para um período de entressafra, devido a fortes importações do Mercosul e reversão de exportações, beneficiando granjas de aves e suínos que precisam ir ao mercado em busca do insumo da ração.

Desde 2012, os preços da commodity sempre sobem no período entre outubro e dezembro, devido a uma escassez natural do produto após o encerramento da colheita de inverno e antes do início da colheita de verão, que ocorre a partir de janeiro ou fevereiro.

Em 2016, o movimento é diferente. O Indicador de Esalq/BM&FBovespa, que serve de referência para os contratos futuros de milho na bolsa brasileira, atingiu na terça-feira o menor valor desde janeiro e acumula perdas de 30 por cento desde uma máxima histórica registrada em junho.

Após um repique no início de outubro, as perdas somam 14 por cento desde então, para 37,59 reais por saca.

Nos últimos meses, diversos frigoríficos de pequeno e até grande porte fecharam as portas ou entraram em recuperação judicial no interior do Paraná, São Paulo e Minas Gerais por crise financeira.

Segundo analistas, uma conjunção de fatores vem arrefecendo os preços do milho, entre eles uma queda nas vendas do cereal para o exterior.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostraram que o ritmo de embarques de milho em novembro atingiu até o momento 42 mil toneladas por dia, queda de quase 24 por cento ante outubro e recuo de 82 por cento ante novembro de 2015.

"Há uma retração nas exportações... O volume que está descendo aos portos nos últimos dois meses está bem menor", disse o analista Juliano Cunha, da consultoria Céleres.

Havia expectativa inicial de que o Brasil exportasse este ano 28 milhões de toneladas, mas as exportações deverão somar efetivamente cerca de 18 milhões de toneladas de milho, segundo avaliação de exportadores.

ALÍVIO

Após a disparada de preços, que apertou as margens do setor no primeiro semestre, houve uma redução no plantel de aves, com consequente queda no consumo de milho.

Dados da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco) mostram que a produção de pintos de corte caiu para 497,7 milhões em setembro, menor volume do ano e recuo de mais de 11 por cento ante janeiro.

Grandes importações de milho do Mercosul também ajudaram a tirar compradores do mercado doméstico, esfriando os preços internos. Até outubro, o Brasil já havia importado no ano um recorde de quase 2 milhões de toneladas de Argentina e Paraguai.

Abastecidas por contratos fechados e pelas importações, grandes companhias do setor garantiram o abastecimento para este período de entressafra, retirando-se do mercado.

"As grandes indústrias normalmente entram em dezembro já com necessidades adquiridas, estocadas, porque dezembro é sempre complicado no Brasil", disse o diretor de inteligência de mercado da Cerealpar, Steve Cachia.

Pequenas e médias empresas precisam realizar compras frequentes, mas têm visto um alívio no recuo incomum das cotações.

"O pessoal de granjas continua comprando, porque não tem estoques, mas o preço está com viés de queda", disse o corretor de grãos Eduardo Basilio, da ABS Corretora, em Uberlândia, Minas Gerais.

Em geral, são companhias que não têm capacidade financeira de realizar muitas compras antecipadas ou não dispõem de grandes armazéns.

"Estamos comprando da mão para a boca. E a oferta vai ficar controlada até janeiro e fevereiro, até começarem a pingar as primeiras colheitas (da safra de verão). Mas hoje estamos pagando 39 a 40 reais por uma saca, contra 55 reais em maio, junho e julho", disse o presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), Érico Pozzer.

São Paulo é um Estado com grande fragmentação da indústria de frangos, assim como Minas Gerais.

"A gente começa a respirar. O setor começa a ver uma luz no fim do túnel, apesar de estarmos ainda muito distantes dos patamares ideais. Foi o pior ano que essa geração já viu", disse Antonio Carlos Vasconcelos Costa, presidente da Associação de Avicultores de Minas.

Fonte: Reuters

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