Argentina: Perdas ainda não podem ser mensuradas em campos alagados após severas tempestades
O início do outono não foi intenso somente para o Brasil. A Argentina também sentiu forte o final do verão e início da nova estação registrando tempestades, vendavais, temperaturas muito elevados e as intrempéries climáticas deixando um rastro de destruição nas principais províncias produtoras argentinas. A situação, todavia, não é generalizada.
Dentro de uma mesma província - Santa Fé, uma das principais produtoras agropecuárias do país - há duas realidades muito distintas, porém, que preocupam na mesma medida. De acordo com informações do jornal local La Nacion, no Sul e Centro da província foram registrados recordes de chuvas, que chegaram a 400 mm em três dias, enquanto áreas do norte não recebem uma gota de chuva de seis a oito meses, a depender da área.
"O sentimento expresso pelos produtores desta última área é que voltam a sentir o mesmo que sentiam há alguns anos, quando o fenómeno La Niña secou campos, rios, lagos e lagoas, obrigando-os 'a procurar campos mais a sul', onde os animais poderiam conseguir um pouco de grama e água", informa uma reportagem da publicação.
Segundo Jorge Mercau, em entrevista ao La Nacion, "não chove desde janeiro", no departamento de 9 de Julio. "Apenas algumas precipitações de 5 a 10 mm foram registradas, o que não resolve nada se considerarmos os três últimos anos de secas intensas", diz. "Pouca coisa pode mudar no curto prazo. Assim, sem chuva, o cenário é ruim, muito feio para o agricultor".
As condições completamente adversas já tiram um pouco mais do potencial produtivo das principais culturas da Argentina neste momento, incluindo soja, milho, sorgo e girassol, além de afetar a pecuária. E desde o início desta semana os relatos têm sido bastante graves por conta do excesso de chuvas e inundações, como mostram as imagens a seguir.
"Literalmente, uma piscina: os campos e as estradas rurais tornaram-se uma piscina dramática cheia de água. O que vivemos é caótico. A situação é perigosa", afirma a presidente da Sociedade Rural de Rosario, Soledad Aramendi. Também ao La Nacion, Soledad explica que somente quando as águas começarem a baixar é que será possível mensurar efetivamente as perdas no campo, já que para a conclusão desta semana são esperados mais dias de chuvas.
"O que está acontecendo é lamentável. E, até que a água vá embora, você não sabe o que tem ali embaixo: se tudo apodreceu ou em que estado estarão as plantações. Estamos perto da colheita, mas agora é preciso esperar pelo menos 20 dias para a entrada das máquinas. Isso complica tudo, não só o atraso, mas a colheita não será mais ideal. A produtividade será perdida nas áreas afetadas, não sabemos se 5% ou 15% menos, principalmente quando você tem toda a soja, por exemplo, debaixo d’água por dias inteiros", relatou.
Os vídeos da madrugada desta quinta-feira trouxeram registros intensos de vendavais, queda de granizos gigantes e prejuízos em estruturas.
E registros como os que aparecem na sequência se deram também no Sul do Brasil, em especial no estado do Rio Grande do Sul. As chuvas foram intensas, os ventos fortes e os estragos, consideráveis. Em algumas regiões, os trabalhos de campo foram paralisados.
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"A chuva com volumes muito altos e mesmo excessivos dos últimos sete a dez dias no Uruguai, no Centro e Nordeste da Argentina, e no Rio Grande do Sul, podem ter pegado muita gente de surpresa diante de um noticiário dominado por informações sobre possível evento de La Niña a caminho enquanto o fenômeno El Niño ainda atua, mas para quem conhece a história do clima regional não foi nada surpreendente. Por que? Durante todo o ano de 2023 e no começo agora de 2024 reiteradamente e em inúmeras oportunidades a MetSul Meteorologia destacou que o maior impacto da chuva do El Niño muitas vezes se dá no final do inverno e na primavera do primeiro ano do evento, seguindo-se outro período de excesso de chuva no outono do segundo ano do episódio", explica a meteorologista Estael Sias, da Metsul.
IMPACTOS PARA OS PREÇOS DO COMPLEXO SOJA NA CBOT
O complexo soja, na Bolsa de Chicago, em especial o farelo e o óleo tem registrado boas altas desde o início da semana em função das preocupações crescentes neste momento com a Argentina. Além dos prejuízos nas lavouras,
"O clima por lá foi muito chuvoso nestes últimos 15 dias e ontem uma chuvarada chegou nas principais províncias produtoras. E há alguns alertas por parte dos meteorologistas afirmando que os alagamentos podem ter causado grandes estragos na soja em algumas regiões. Mas, ainda é cedo para dizer. No relatório da Bolsa de Cereais de Buenos Aires da semana que vem teremos uma visão melhor", explica o analista de mercado da Agrinvest Eduardo Vanin.
Nesta quinta-feira (21), os futuros da oleaginosa até testaram os dois lados da tabela, porém, retomaram o fôlego para concluir o pregão na CBOT com pequenas altas de 1,75 a 3,50 pontos. O contrato maio fechou a US$ 12,11 e o agosto com US$ 12,22 por bushel. O mesmo caminho fez o farelo de soja em Chicago, que também conseguiu concluir oe negócios em campo positivo, com a primeira posição subindo 0,7% e valendo US$ 344,90 por tonelada curta.
Todavia, Vanin complementa dizendo que não se trata de uma 'soja perdida' apesar de toda essa chuva. "Soja danificada para a indústria misturada com soja de boa qualidade vai acabar gerando farelo e óleo da mesma forma".
Além disso, o excesso de precipitações no país compromete a logística e dá espaço ainda para um suporte para as cotações do complexo soja na CBOT.