El Niño e as perspectivas para o Brasil em 2023-24

Publicado em 02/08/2023 14:34 e atualizado em 02/08/2023 18:22
Hayver Olaya Tellez - Engenheiro agrônomo pela UPTC (Colômbia), Mestre em Engenharia Agrícola pela UFC (Brasil) e Doutorando em Agronomia - Irrigação e Drenagem pela UNESP (Brasil). Experiência em pesquisa e desenvolvimento de sistemas de irrigação, agrometeorologia, hidroponia e plantas ornamentais. Atualmente trabalha na startup Agromove, na área de clima, no desenvolvimento de modelos econométricos que auxiliam os produtores rurais.

El niño, o que é isso? 
É um fenômeno climático da atmosfera oceânica em larga escala ligado a um aquecimento periódico nas temperaturas da superfície do mar no Pacífico, influenciado por mudanças no fluxo das correntes de vento planetárias, como mostra a Figura 1.

Este fenômeno, também chamado tecnicamente de El Niño/Oscilação do Sul (ENSO), é monitorado desde o norte da Austrália até a costa do Equador na América do Sul e dividido em 4 setores, como representado na Figura 2.

 


O Centro de Previsão Climática da NOAA, Serviço Nacional de Meteorologia norte-americano, cataloga o início de um episódio do El Niño quando a temperatura média da superfície do mar por 3 meses consecutivos aumenta 0,5℃ na região denominada Niño 3.4 do Pacífico equatorial e o Super El Niño quando excede 1,5℃.

O El Niño atua reforçando o calor no verão e tornando o inverno menos rigoroso. O ar se torna mais seco e passa a circular para baixo, o que dificulta a formação de chuvas e está associado a maiores períodos de secas em regiões onde não são usuais.

O fenômeno pode produzir secas extremas em algumas regiões e em outras ele apenas apresenta maiores temperaturas, ao mesmo tempo que podem ter chuvas torrenciais em algumas zonas.

Ainda assim com todas essas variações climáticas, não é de todo certo que o El Niño seja um fenômeno ruim de forma geral. Na verdade, o que ele provoca é uma certa “bagunça climática” pelo fato que as variáveis climáticas de chuva, temperatura e radiação solar vão estar acima ou abaixo da média histórica em grande parte do globo.

Também não é bom para todo mundo, regiões que historicamente sofrem por falta de chuvas podem se beneficiar na próxima safra de culturas ao igual que regiões   onde o inverno é muito forte dado que o próximo vai ser mais ameno.

E o Brasil como fica?
Os países da América do Sul são mais afetados pela região do El Niño 1+2 diferente da América do Norte. No caso do Brasil, por ser um país continental de grande extensão, terá diferentes alterações no clima ao longo de seu território, regiões tenderam a se beneficiar e outras precisaram se preparar melhor para as culturas a ser implantadas no segundo semestre de 2023.

Cabe ressaltar que regiões de cerrado possuem condições diferentes. A Figura 3 apresenta uma análise das variações climáticas nas regiões brasileiras onde as áreas dentro dos círculos terão impactos acima da média. 

Região Norte – redução das chuvas na região amazônica, favorecendo a formação de algumas estiagens cíclicas e intensificando a proliferação de queimadas.

Região Nordeste – no litoral, aumento da intensidade e frequência de chuvas, já no interior dos estados se espera temperaturas acima da média na região semiárida.

Região Centro-Oeste – mudanças no padrão de chuvas, encurtando sua frequência. Maior risco de ocorrência de alternância entre chuvas fortes e veranicos prolongados.

As primeiras chuvas na época do início da safra do verão não devem ser suficientes para as plantações. Recomendasse esperar uma sequência de várias chuvas. 

No caso das chuvas fortes é recomendável implementar ações que mitiguem a erosão dos solos e para reduzir os riscos dos veranicos podem ser utilizadas cultivares de ciclo intermediário.

A temperatura vai aumentar acima da média o que favorece as queimadas na região, sendo o maior risco para o andamento da qualidade da safra. 

Sudeste – O regime de chuvas vai ter mudanças no padrão, reduzindo sua frequência e intensidade. Alta probabilidade de alternância entre chuvas fortes e veranicos mais prolongados que a média dos anos anteriores.

Chuvas iniciais na época de início da safra de verão não devem ser suficientes para garantir o início das plantações. Deve-se esperar uma sequência de várias chuvas fortes para dar início à plantação da safra. 

Sul – Aumento da frequência e intensificação de chuvas torrenciais, acima das médias históricas entre os meses de agosto e outubro. 

Maior probabilidade de problemas de erosão nos solos aráveis e aumento dos rios nas bacias hidrográficas, dar maior atenção a labores agrícolas que mitiguem os efeitos. 

A região sul vai experimentar excesso de umidade que atrapalha culturas de inverno como o trigo, aumentando a intensidade de doenças, colheita, início do plantio da safra de verão e o bom andamento da qualidade das pastagens. 

Em agosto - setembro existe a possibilidade de ter períodos curtos de frios mais intensos causados por massas de ar polar.  

E o Super El Niño?

A ocorrência da variação climática já está admitida. Há expectativa dos especialistas é que tão forte será e que possa até mesmo se configurar em um Super El Niño.

A confirmação do El Niño no segundo semestres de 2023 e primeiro de 2024 está com >95% de probabilidade de ocorrência como se ilustra na Figura 4, sendo divulgado pela cientista Emily Becker da NOAA. Segundo ela, "as chances dele se tornar um evento forte tipo Super El Niño são de 56% (barras vermelhas escuras), enquanto ser um fenômeno moderado são de aproximadamente 84% (barras vermelhas claras)" 

A estimativa é que seja um fenômeno curto com maior intensidade nos meses de agosto de 2023 a fevereiro de 2024 segundo os dados reportados até a presente data.

As safras de milho e soja vão ser afetadas? 

Na média de produção da safra de verão para o milho em termos gerais vai ter bom desenvolvimento nas zonas do sul do Centro Oeste e a região norte do Sudeste, a probabilidade de ter uma super safra é reduzida. 

Na soja se espera maiores efeitos por atravessar período em que a influência do El Niño é mais notória. Se espera que o clima reduza o potencial de produção dos cultivares no norte do Centro-Oeste e sul do Sudeste. 

Países como Estados Unidos vão ter maiores problemas em relação ao Brasil nas safras de soja e milho 2023-24, segundo a USDA, efeitos do El Niño podem reduzir a produção de 5 a 10%, mas alguns especialistas acreditam que pode ser ainda maior. Já por outro lado se espera que a Argentina consiga recuperar parte das perdas da atual quebra de safra que já está na ordem de 43%. Outros países como Paraguai podem se beneficiar.  

O Departamento Norte-Americano aponta que a oferta global em 2023 pode superar a demanda, o que elevaria a relação estoque final/demanda total de 27,8% para 31,9%, a maior em cinco safras.

O que o produtor pode fazer? 

Implementar estratégias de prevenção e mitigação antes que eventos extremos possam acontecer nas regiões, como o correto preparo de solo com técnicas que evitem a erosão, manutenção dos canais de drenagem, assessoria nas variedades de ciclo intermediário, adaptadas nas regiões antes mencionadas, maior atenção no controle de doenças e distribuição parcelada da fertilização na medida do possível. 

Um correto planejamento dentro e fora da porteira sempre é bem-visto e o auxílio de profissionais na hora de encontrar o melhor momento para comprar e vender a produção e os insumos de sua fazenda são vitais.

Para proteger seu lucro é necessário estar atento ao que ocorre dentro e fora da safra. Continuaremos monitorando o andamento do EL NIÑO e trazendo informações atualizadas.

A AGROMOVE fornece uma gama de ferramentas, mentorias, consultorias entre outras para a análise do mercado de commodites, focadas no auxílio ao produtor na compra e venda da sua produção no melhor momento.

Fonte: Agromove

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