Chuvas em Santa Catarina: levantamento preliminar da Epagri aponta cadeias produtivas mais prejudicadas

Publicado em 06/12/2022 12:29

A Epagri está iniciando o levantamento de perdas no meio rural catarinense, após as fortes chuvas que atingiram as regiões Litorânea, Planalto Norte e Vale do Itajaí, entre 26 de novembro e 1 de dezembro. Até a segunda-feira, 5, muitas áreas rurais atingidas ainda permaneciam isoladas, com acessos prejudicados por terra e sem sinal de internet, celular, ou até sem luz, o que vem dificultando um trabalho mais minucioso da Epagri na apuração das perdas.

Estradas que dão acesso ao meio rural ficaram destruídas em São Bonifácio (Fotos: divulgação / Epagri)


Contudo, já é possível estimar que a olericultura foi a cadeia produtiva mais atingida, com perdas concentradas principalmente na Grande Florianópolis. No Norte de Santa Catarina, além das hortaliças, a banana também sofreu prejuízos, enquanto que o arroz não foi tão prejudicado, em decorrência de seu estado vegetativo. No Alto Vale do Itajaí, a preocupação é com a cebola. Dificuldades de armazenamento e escoamento das produções nas regiões atingidas podem elevar as perdas financeiras nos próximos dias.

A previsão do tempo da Epagri/Ciram indica que entre quarta-feira, 7, e sábado, 10, não há indicativo de chuva em Santa Catarina. Contudo, a orientação para a população é permanecer atenta ao site da instituição, onde será divulgado qualquer novo risco relacionado à condição de tempo no Estado.

Grande Florianópolis

Na região da Grande Florianópolis, as chuvas afetaram principalmente a produção de hortaliças, além de gado de corte e de leite. A falta de energia e a dificuldade de escoamento da produção devem elevar os prejuízos nos próximos dias, avalia a gerente regional da Epagri, Adriana Tomazi Alves. Também estão sendo apurados prejuízos na maricultura em Palhoça, Florianópolis e São José.

Ela relata que dos 20 municípios compreendidos pela regional da Epagri, pelo menos 18 registraram perdas no meio rural até a terça-feira, 6. Santo Amaro da Imperatriz, Angelina, Águas Mornas, São Pedro de Alcântara, São João Batista e Antônio Carlos estão entre os mais afetados.

Em Santo Amaro, Águas Mornas e São Pedro as lavouras de hortaliças foram prejudicadas. Marcelo Zanella, extensionista da Epagri na região, explica que os solos de lavouras inteiras foram removidos pela erosão, o que deve dificultar a retomada das atividades.

Em Angelina, a falta de luz e de acesso às áreas rurais está impactando gravemente a capacidade de armazenamento da produção em câmaras frias, bem como o escoamento dos produtos colhidos. O resultado será o crescimento das perdas financeiras nos próximos dias.

As propriedades rurais de Antônio Carlos registraram perdas significativas na produção de hortaliças folhosas. Marcelo explica que a alface é produzida prioritariamente em regiões ribeirinhas, o que fez com que a força das águas removesse lavouras inteiras. “A perda média é de R$ 30 mil com cada hectare de alface perdido”, calcula o extensionista.

Em São João Batista, os prejuízos nas áreas rurais estão concentrados em mandioca, fumo e morte de gado de corte. A colheita da cebola foi prejudica em Angelina, Rancho Queimado e um pouco em Major Gercino. A falta de energia elétrica que persiste em muitos municípios da região pode impactar também a produção de aves e o armazenamento de leite.

Em São João Batista a força da água causou erosão e destruiu instalações

Alto Vale do Itajaí

A cultura da cebola foi a mais afetada pelas chuvas na região do Alto Vale do Itajaí, mais especificamente no entorno de Rio do Sul. Segundo Daniel Rogério Schmitt, extensionista da Epagri, há grandes dificuldades para fazer a colheita com o tempo chuvoso. Quando ocorrem intervalos sem chuva, como no sábado, 4, por exemplo, os produtores contratam o máximo de trabalhadores que conseguem para colher ou recolher os bulbos, tendo em vista a grande procura pelo produto.

Mesmo recolhidas, as cebolas permanecem úmidas o que dificulta a classificação e comercialização. Ele estima que cerca de 20 % da cebola da região já foi colhida e, talvez, entre 10 e 15% tenha sido comercializada. “Cebolas colhidas com solo úmido trazem terra nas raízes e nos bulbos e, como não estão secas, sofrem mais danos nas máquinas limpadoras e classificadoras”, descreve o extensionista.

Também há problemas com o transporte das lavouras para os galpões e dos galpões para as unidades classificadoras por causa das estradas enlameadas. O transporte nos caminhões também exigiu mudanças nos roteiros, com a maior dificuldade de chegar aos grandes centros consumidores (SP, RJ, MG, etc.) devido às quedas de barreiras e aos desvios necessários nas rodovias. Assim, os preços ao produtor que tinham recuado para R$ 4,00 a 4,50/kg no início da semana passada retornaram para R$ 6,00/kg devido à falta de produto seco no mercado.

Devido ao frio tardio, entre outubro e novembro, ocorreu florescimento dos bulbos em muitas lavouras (média de 15%). “Cebolas florescidas em geral são descartadas, mas nesse ano, devido à procura do produto, são comercializadas pela metade do preço normal”, informa Daniel.

Nas demais culturas vigentes no Alto Vale é possível relatar atraso nas colheitas de trigo e dificuldade na colheita de tabaco, além de atraso na semeadura de soja. “Mas, ainda são situações recuperáveis, especialmente com a melhora das condições climáticas previstas para o final dessa semana”, avalia o técnico da Epagri.

Planalto Norte

Os municípios de Rio Negrinho, São Bento Sul e Campo Alegre sofreram com perdas em áreas de olericulturas e em algumas lavouras de tabaco. Nas áreas de encostas de Corupá e Jaraguá do Sul, os bananais foram prejudicados. A cobertura de seguro nestas culturas pode diminuir um o impacto das perdas, analisa Getúlio T. Tonet, extensionista da Epagri na região. Ele calcula que os maiores prejuízos estejam no transporte das produções, dificultado pelas quedas de barreiras nas rodovias de acessos ao litoral.

De acordo com o extensionista, as condições climáticas ocorridas entre novembro e início de dezembro são favoráveis às culturas exploradas na microrregião de Canoinhas. Os primeiros 20 dias de novembro foram de poucas precipitações, o que favoreceu as colheitas das culturas de inverno (aveia e trigo). Já nos últimos 10 dias de novembro as precipitações foram mais constantes e de volumes mais expressivos, porém, benéficas para as culturas de verão (feijão-preto, milho e soja).

A região já colheu 10% das áreas de tabaco, com folhas de boa qualidade e bom peso.

Sul

Até a segunda-feira, 5, a região Sul do Estado ainda tinha áreas alagadas, principalmente na  microrregião de Tubarão, que deve concentrar as maiores perdas e onde se localizam áreas de arroz, milho, soja, feijão, fumo, batata, pastagens, etc, explica Cleverson Buratto, extensionista da Epagri.

Os acessos às áreas no interior dos municípios foram prejudicados por queda de pontes e alagamento de estradas, que impedem ou dificultam o escoamento da produção, aumentando os custos ou até mesmo ocasionado perdas em hortifrutigranjeiros e leite, por exemplo.

Levantamento preliminar da Epagri aponta que as microrregiões de Araranguá e Criciúma não enfrentaram maiores problemas com relação a alagamento das propriedades. Os prejuízos ficaram restritos ao excesso de chuvas e umidade, o que afeta as hortaliças e aumenta os custos de produção com controle fitossanitário.

Litoral Norte

O Litoral Norte do Estado enfrentou volume de chuva bastante significativo entre 26 de novembro e 5 de dezembro. As estradas do interior ficaram muito avariadas, deixando as condições de tráfego precárias e causando muitos transtornos.

Os arrozais de praticamente todos os municípios da região sofreram com inundação. As áreas inundadas variaram de 10 a 30% na maioria dos municípios, mas chegaram a 50 a 70% em Guaramirim e Schroeder, que foram atingidos por maior volume de chuva.

A boa notícia é que inundação de dois a três dias no período de desenvolvimento vegetativo não provoca muitos danos nas lavouras de arroz, informa Adriana Andréa Padilha, extensionista da Epagri na região. O arroz se recupera e as plantas continuam a se desenvolver. Não foram constatados acamamentos e amarelecimentos das plantas depois que a água baixou. As áreas atingidas ainda não estavam na fase de florescimento, o que poderia causar um dano muito maior.

Até a segunda-feira, 5, poucas áreas de arroz permaneciam inundadas. Inundações por um período mais prolongado podem resultar em prejuízo maior, com amarelecimento e apodrecimento das plantas. “Contudo, os percentuais de danos só poderão ser dimensionados com o passar do tempo”, esclarece a extensionista.

Os bananais da região foram afetados em menor extensão do que os arrozais, porém houve perdas estimadas entre 5 a 10% da produção em alguns municípios, causadas por tombamento das plantas e atraso na colheita. O transporte da produção foi prejudicado pela condição precária das estradas, o que aumenta o percurso e o custo.  O excesso de umidade também poderá provocar algum ataque de pragas nos bananais e algum atraso no desenvolvimento futuro.

Na produção de hortaliças, houve perda em plantas que estavam prontas para colheita ou recém-semeadas, em áreas que ficaram alagadas. A produção em abrigo não foi afetada, pois os ventos não foram fortes. Como são culturas de ciclo curto, o prejuízo é recuperado mais rapidamente.

Na pecuária, há relatos de alguns animais arrastados pela correnteza na madrugada do dia 5, mas a Epagri ainda não tem o número exato.

Nos 34 municípios da região, os maiores prejuízos são na área de infraestrutura, com a destruição de estradas, deslizamentos e avarias em pontes. Nas propriedades rurais também foram observados pequenos deslizamentos de terra.

Fonte: Epagri/SC

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