EUA: Início de maio é o mais chuvoso e frio em 30 anos e ainda pode atrapalhar avanço do plantio
Embora o comportamento do mercado de grãos na Bolsa de Chicago não reflita, nesta terça-feira (3), o atraso do plantio da safra 2022/23 nos Estados Unidos, o boletim reportado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) no final da tarde desta segunda (2) mostra que os trabalhos de campo sinalizam preocupações consideráveis. Afinal, os índices de semeadura distantes da média dos últimos cinco anos - e em relação ao ano passado, quando se registrou velocidade recorde de plantio no país - são resultado do clima excessivamente chuvoso em regiões importantes de produção de soja, milho e trigo norte-americano. E os mapas seguem indicando condições ainda de muita umidade para este novo mês que está começando.
"Após dois anos de plantio rápido em 2020 e 2021, o clima até agora, nesta temporada, tem sido menos favorável para o Cinturão do Milho', afirmam os especialistas da WeatherTrends 360. Ainda de acordo com o instituto meteorológico norte-americano, trata-se do início de maio mais chuvoso em 30 anos nos Estados Unidos, com os maiores volumes de preocipitações chegando ao Corn Belt mais intensamente no final da última semana e início desta, conferindo apenas alguns dias secos aos produtores norte-americanos para que pudessem avançar com a nova safra.
Além das chuvas fortes e constantes, as baixas temperaturas também são uma preocupação, embora os mapas atualizados comecem a sinalizar um aumento das mesmas nas próximas semanas. O abril de 2022 foi o mais frio em quatro ano e o sétimo desde 1992 para o Corn Belt como um todo, mas em especial no norte do cinturão.
"Temperaturas frias do solo e clima mais úmido contribuíram para um atraso no início da estação de plantio em comparação com os últimos dois anos e a média dos últimos cinco. A queda de neve foi maior do que no ano passado no norte do cinturão, com quedas particularmente fortes de neve e nevascas em Dakota do Norte", explica a WeatherTrends 360.
O mapa abaixo mostra a previsão para o período de 1 a 7 de maio, com as chuvas à esquerda e temperaturas à direita:
Ainda segundo a consultoria internacional, esse padrão de temperaturas ainda baixas deve seguir, pelo menos, até o dia 7. E assim como o início de maio é o mais chuvoso em 30 anos, é também o começo de mês mais frio no mesmo intervalo.
"O plantio do milho está muito atrasado (...) A foto é muito nítida: quanto mais ao norte, menor é a velocidade", explica Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities. "Historicamente, a relação entre atraso e produtividade é negativa, mais atraso, menos produtividade, assim como também a área final. Dependendo da região, após o dia 15 de maio, o seguro agrícola cai 1 bushel de cobertura para cada dia adicional de atraso, o que desencoraja a finalização da área total almejada pelo produtor. No entanto, isso depende muito dos preços e também das condições climáticas. Historicamente a redução ocorre em anos muito chuvosos, padrão que o NOAA está reforçando para esse mês de maio. ", completa.
Os mapas do NOAA, o serviço oficial de clima dos Estados Unidos, mostram que o mês de maio deverá conferir dias de chuvas acima da média, em estados-chave na produção de grãos como Minnesota, Iowa, Missouri, as Dakotas, Nebraska, Wisconsin e uma faixa de Illinois, como mostra a imagem abaixo, nas áreas coloridas em verde:
No mesmo período, o NOAA traz o mapa com a previsão para as temperaturas mostrando que elas poderiam ficar abaixo da média nas Dakotas, Minnesota, Iowa, Wisconsin e norte de Illinois, como sinalizam as áreas em azul no mapa abaixo:
"O maior problema sem dúvida é o desenvolvimento radicular superficial em anos em que a umidade é abundante de início, deixando a planta mais susceptível a um julho quente, padrão que os mapas do NOAA também mostrando", acrescenta o analista de mercado da Agrinvest.
E embora a reação do mercado ainda não seja muito expressiva frente ao atraso que já se desenha para este início da safra 2022/23 dos Estados Unidos, os sinais de alerta continuam se acendendo. E isso se dá até mesmo porque há uma enorme expectativa sobre a nova temporada norte-americana depois das baixas registradas na safra 2021/22 da América do Sul - de milho e soja - e do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que tirou do mercado uma boa parte da oferta global de milho com as estruturas ucranianas completamente comprometidas.
"Com certeza, ainda é cedo neste início de safra para que os mercados estejam excessivamente preocupados com o progresso do plantio de soja. Atualmente, os mercados parecem mais ocupados com o avanço do plantio de milho do que com o plantio de soja. Mas, há forças de alta fundamentais suficientes em jogo no mercado para que as perdas desta terça-feira sejam revertidas rapidamente nos próximos dias", afirmam os analistas do portal internacional The Farm Futures.