Geada desta madrugada traz mais prejuízos para próxima safra de café do Brasil, afirma Donizeti Alves
A terça-feira (20) amanheceu gelada em todo o Centro-Sul do Brasil e mais uma vez, as geadas atingiram as mais diversas culturas e aumentam as preocupações no parque cafeeiro maior área produtora do país. Apesar das previsões climáticas indicarem o risco de geada para algumas áreas, o frio foi mais intenso e as temperaturas ficaram abaixo de 0º em boa parte da região.
Diferente da geada registrada na última semana de junho, o frio foi mais intenso, o que preocupa José Donizeti Alves, professor e pesquisador da Universidade Federal de Lavras (UFLA), que reforça que para saber o tamanho do estrago é preciso esperar mais alguns dias, mas destaca que a área atingida pelo evento climático dessa vez é mais extensa.
"Pelos relatos que tenho recebido, penso que a área atingida foi muito mais que da primeira. Tem fazenda que a geada pegou 40% da propriedade. Temos que esperar sempre para avaliar os prejuízos mas, pelo que estou vendo, desta vez a coisa foi bastante séria", afirma ao Notícias Agrícolas.
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A preocupação do especialista é justamente com a safra do ano que vem. "No Sul de Minas e no Cerrado a geada pegou pesado e fez muitos estragos. Só que ao contrário da última vez, desta vez estou bastante preocupado. A experiência mostra que, desta vez, já podemos adiantar um prognóstico sem medo de errar que a situação desta vez é muito séria. Foi geada em cima de geada", acrescenta.
Por conta disso, as cotações na Bolsa de Nova York (ICE Future US) opera com expressiva valorização no pregão desta terça-feira (20). Por volta das 11h29 (horário de Brasília), as cotações registravam mais de 900 pontos de alta, o equivalente a 5,75%. + Após madrugada com geada, preços do arábica explodem na Bolsa de NY
Já em relação a safra sendo colhida, o especialista afirma que ainda não há informações sobre o percentual de lavouras com frutos atingas, mas alerta que a queima da cereja pode impactar diretamente na qualidade dessa safra.
Saulo Faleiros, diretor técnico da cooperativa Cocapec, confirma que as geadas atingiram boa parte da Alta Mogiana, e que os técnicos ainda estão em campo para avaliar os impactos no café. As preocupações só aumentam para o setor, também refletindo as adversidades climáticas do último ano.
Em Carmo do Rio Claro, sul de Minas Gerais, as temperaturas chegaram a -3ºC. "Dessa vez pegou em muitos lugares, que antes não registravam geadas. Acredito que vamos ter danos médios", comenta o produtor rural Breno Corrêa Peres Neto.
Em Nova Resende, o produtor Ronaldo Cardoso também registrou várias imagens e comenta que além de Nova Resende, produtores de Boa Esperança, Cristais, Candeias e Campo Belo amanheceram com as geadas.
"Ainda tem bastante café para colher, só que o impacto vai ser mais na safra do ano que vem. Esse ano já está definido, então não tem perigo de estragar a safra desse ano. Agora para o ano que vem, tem que esperar até amanhã para mensurar o tanto de ramo que morreu", comenta.
Na região de Patrocínio/MG, Geovane Ferreira da Cunha conta que há mais de 20 anos não via uma geada com essa intensidade. "Meu café queimou muito, vai ser uma perda cruel. Esse ano foi safra zero, meu café não produziu então estava muito bem para o ano que vem, mas agora com essa geada a coisa vai ser feia", comenta.
Ainda no Cerrado Mineiro, Danilo Henrique de Faria também enviou ao Notícias Agrícolas imagens da lavoura registradas na manhã desta terça-feira (20), e acredita que pelo menos 30% do cafezal seja perdido com os impactos do frio. Confira o vídeo:
Em Lambari/MG, a produtora Janaína Magalhães relata que nas regiões mais baixas a geada foi mais intensa, aumentando as preocuapações com o café mais novo. Confira fotos enviadas por Janaína:
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