Julho deve ser de chuvas mal distribuídas e clima vai intensificar volatilidade em Chicago

Publicado em 02/07/2021 17:11

Julho começou e este é um dos mais importantes para a definição da safra de grãos dos Estados Unidos. O foco central é o milho, porém, com o plantio tendo ocorrido em ritmo recorde e um pouco mais cedo este ano, o mês será importante também para diversas regiões quando se trata da soja. Dessa forma, a relação entre o clima no Corn Belt e o mercado fica ainda mais próxima e intensa. 

Todavia, julho não começa com o cenário mais favorável para as lavouras norte-americanas. Os produtores em diversos pontos do cinturão ainda têm de lidar com extremos climáticos - como o Notícias Agrícolas já havia noticiado na última sexta-feira (25) - e as previsões sinalizam mais desafios para as próximas semanas. 

E os últimos dias também não têm sido fáceis ou simples de lidar. Nas últimas 24 horas, de acordo com informações do Commodity Weather Group (CWG) os volumes de chuvas variaram, a depender do ponto do cinturão, de 12,8 a 38,44 mm e, pontualmente, chegaram a 108,88 mm. O mapa abaixo ilustra essa condição:

E ainda observando os mapas do CWG, agora com as chuvas previstas para os próximos 1a 5; 6 a 10 e 11 a 15 dias, é possível ver que os modelos sinalizam volumes abaixo da média para o período em todos, como ilustram as áreas coloridas em marrom. 

Na sequência, os mapas mostram que as temperaturas também deverão ficar elevadas nos próximos dias, podendo inclusive ficar acima do esperado, trazendo ainda mais preocupação aos produtores. 

"As chuvas no Meio-Oeste deverão ser limitadas. São esperadas algumas pancadas no Noroeste no final do domingo e começo de segunda-feira, depois de voltar a se intensificar entre terça e quinta-feiras no norte e leste", informa o instituto meteorológico norte-americano. 

Nas próximas duas semanas, ainda de acordo com os especialistas do Commodity Weather Group, as precipitações serão limitadas em partes do Nordeste, da Dakota do Sul, sul da Dakota do Norte, oeste de Minnesota e oeste de Iowa. "Há stress para menos de um quarto, por agora, das áreas de milho e soja", diz o boletim diário do CWG. 

Temperaturas entre 32  e 37 graus são esperadas para este final de semana nas Planícies do Norte, noroeste do Meio-Oeste e em partes do Canadá, onde uma onda de calor intenso tem castigado o país, inclusive em áreas de produção agrícola. 

Mas como o mercado deve reagir a estas condições? Aos boletins semanais de acompanhamento de safras que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz todas às segundas-feiras? Isso tudo, principalmente depois da divulgação do boletim de área que o departamento norte-americano trouxe no último dia 30 com números menores do que as expectativas do mercado, surpreendendo os traders e levando as cotações a um patamar mais elevado. 

Assim, o Notícias Agrícolas foi consultar analistas de mercado para entender como fica, a partir de agora, esta relação entre preços e clima a partir de agora. 

Victor Martins, Hedge Point Global Markets

"O milho possui como principal período de polinização as janelas entre os dias 15 e 20 de julho, ao passo que a soja tem como pico de formação de vagens e enchimento de grãos, o período entre 1-10 de agosto. Para o milho, que teve um dos plantios mais céleres de toda a história americana em alguns estados, muitas lavouras entrarão em polinização já na semana do próximo dia 5, fazendo com que os futuros do milho negociados na CBOT adicionem um prêmio de risco climático com os modelos curtos e longos", afirma Victor Martins, da Hedge Point Global Markets.

Assim, os modelos climáticos estão no foco dos traders, acompanhando os atuais americano, europeu e canadense convergindo sobre a entrada de uma zona de alta pressão no Meio-Oeste e abrangendo grande parte do cinturão nos próximos 10 dias. 

"Para os modelos curtos, há convergência com um padrão mais seco, com chuvas que não devem passar de 50 mm no coração do Corn Belt. Porém, a convergência para os mapas mais estendidos chama atenção, não apenas pelo baixo acumulado de precipitação projetado, de 40 mm, mas principalmente pelas altas temperaturas", explica Martins.  

O analista lembra ainda que Iowa, que é o maior estado produtor de milho dos EUA e que reduziu sua área em 100 mil acres, continua com perfil hídrico de solo classificado como seca pelo monitor da seca. "Porém, não são as condições em Iowa que importam e sim as condições ao longo do norte e noroeste do cinturão, sobretudo nas Dakotas do Sul e Norte e Minnesota".

Mapa mostra os baixos níveis de umidade nos solos dos estados mais ao norte dos EUA 

Afinal, de acordo com o USDA, 45% do aumento da área norte-americana se deu nas Dakotas e em Minnesota, regiões que têm sofrido muito com a seca nos últimos meses. "As lavouras desses estados têm as piores condições de todo o Corn Belt, com avaliações boas/excelentes", afirma. 

Diante deste quadro de tamanha incerteza, a produtividade norte-americana será a fiel da balança na análise de Victor Martins. "Esse será o foco principal no próximo relatório de oferta e demanda do USDA, que será divulgado no dia 12, e que trará uma atualização na produtividade estimada pelo órgão somado a área total plantada para as culturas, divulgada nesta quarta. Caso não tenhamos um corte na produtividade, existe alta probabilidade de mais cortes ainda na área plantada, sobretudo no norte das planícies", diz. 

Assim, ele afirma ainda que uma queda leve de 'apenas' 5 bpa poderia resultar nos menores estoques finais de milho dos Estados Unidos em 11 anos.  "Com um programa recorde de exportação de milho comprometido para uma safra nova nos EUA, o clima deverá ser perfeito daqui para frente ou os preços deverão subir para racionar essa demanda", conclui.

Matheus Pereira, Pátria Agronegócios

"O mercado climático agora se intensifica. Se em junho tivemos toda essa volatilidade, todos esses recordes, em julho e agosto esses recordes deverão ser batidos", diz Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios. 

A cultura do milho está agora muito suscetível a quebras se os mapas climáticos se confirmarem com ruins ou ao teto de produtividade caso eles se confirmem bons. "E temos agora dois pontos de atenção nos mapas que não são grandes problemas, mas que exigem acompanhamento. Um deles é no extremo norte - nas duas Dakotas e Minnesota - com a expansão da seca. Há lugares onde a seca já persiste entre 25 e 40 dias. A grande parte destes estados já passaram mais de 15 dias sem reposição hídrica e para os solos norte-americanos 15 dias trazem preocupações, mas não quebras definitivas" explica o analista. 

No entanto, os mapas mostram a permanência desta seca, pelo menos, até meados de julho e, caso isso se confirme, pode ocasionar perdas de produtividade bastante agressivas. 

Os mapas abaixo, do Drought Monitor, mostram as áreas de milho e soja sob seca nos EUA. 

De outro lado, no extremo Sul, no Delta do Mississippi, a situação é oposta. "Há um excesso de chuvas, há locais onde os solos estão hidricamente saturados e qualquer nova chuva que chegue pode causar alagamentos", complementa Pereira. 

Assim, estes dois pontos de extrema atenção para o mercado deverão trazer ainda mais volatilidade. "Acreditamos que os mapas climáticos como estão hoje justificam altas tanto para a soja, quanto para o milho por conta da seca no extremo norte e o excesso de chuvas no extremo sul", conclui. 

Aaron Edwards, Roach AgMarketing

"Passado o relatório do USDA, o foco está no clima e o mercado ainda mais sensível ao clima", afirma Aaron Edwards, consultor de mercado da Roach AgMarketing. E sobre a questão climática há algumas ponderações. 

Quaisquer riscos que podem ser observados e ao se confirmarem podem alimentar novas altas e levar os preços a patamares ainda mais elevados. "Mas, o mercado também está naquele momento onde os fundos ainda estão muito comprados, e o dinheiro grande que não conhece a agricultura está no mercado e utilizando aquela velha frase 'rains make grains'. Se choveu, a tendência é baixar o preço mesmo que aquilo que aconteceu não seja o que a lavoura estiver precisando", explica. 

Dessa forma, ainda como diz o consultor, as notícias de chuvas deverão pressionar o mercado e as de seca trazer preocupação ao mercado.  "Está cedo para dizer que já houve prejuízo no potencial produtivo das lavouras por aqui, mas tem muita gente sofrendo e já não tem mais condições de produzir tudo o que esperava. Em algumas áreas ainda pode se recuperar boa parte da produtividade, mas há áreas bem críticas", relata Edwards, direto dos EUA ao Notícias Agrícolas. 

Luiz Fernando Gutierrez, Safras & Mercado

"Os mapas não são muito favoráveis. Eles apontam para uma manutenção de um padrão menos úmida entre as Dakotas e Minnesota e chuvas melhores para o sul. Temos que acompanhar semana a semana, mas o clima agora não está muito bom", explica Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado. 

Gutierrez cita, inclusive, o mapa de probabilidade de precipitações do NOAA, o serviço oficial de clima dos Estados Unidos, para todo o mês de julho que prevê, até seu último modelo atualizado, condições de chuvas abaixo da normalidade para os estados do extremo norte do país. 

"E com isso podemos ter Chicago com mais força se as condições das lavouras preocuparem. Afinal, o clima não é muito favorável agora, principalmente na região das planícieis ao norte", conclui. 

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